Após registrar lucro de R$ 10,072 bilhões no segundo trimestre deste ano, uma alta de 15,2% em relação ao mesmo intervalo de 2023, o CEO do Itaú (ITUB4), Milton Maluhy Filho, disse que o banco deve anunciar dividendos extraordinários no balanço do quarto trimestre de 2024, que deve ser publicado no começo de 2025.
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“Vamos anunciar os dividendos extraordinários no balanço do quarto trimestre de 2024. Não vamos falar aqui qual será o payout (porcentual do lucro a ser pago em dividendos), pois preferimos olhar as necessidades dos nossos clientes em relação à necessidade de capital. No entanto, vale reforçar que estamos confiantes de que anunciaremos esses dividendos, tudo está saindo conforme planejado”, disse Maluhy Filho.
A fala foi feita após o CEO ter sido questionado pelo E-Investidor sobre quando o banco faria o pagamento dos dividendos extraordinários e qual seria a proporção do lucro a ser paga para os investidores. O tema está em questão desde o balanço do primeiro trimestre de 2024, dado que o Itaú traz um acúmulo de capital ao longo dos últimos trimestres.
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O banco reportou um índice de capital nível 1 (Basileia III) de 14,6% no segundo trimestre de 2024, alta de 1 ponto porcentual na comparação com o mesmo período do ano passado e outra alta de 0,1 ponto porcentual na comparação com o primeiro trimestre de 2024
O índice de capital, ou Basiléia, é um indicador que reflete o porcentual do capital do banco empregado nos empréstimos realizados pela empresa. Essa medida serve para mitigar os riscos dos banco e fortalecer a companhia. Analistas da Genial Investimentos apontam que o mínimo gerencial requerido do banco é de 12%. Ou seja, esses 2,6 pontos percentuais excedentes podem virar dividendos.
Itaú estima rentabilidade acima de 20% para os próximos trimestres
Além do alto nível de capital, o Itaú entregou uma rentabilidade medida pelo retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE, na sigla em inglês) de 22,4% no segundo trimestre de 2024, uma alta de 1,5 ponto porcentual na comparação com o mesmo período do ano anterior. O número é considerado elevado, principalmente quando comparado com a rentabilidade dos concorrentes. No Bradesco, o indicador ficou em 10,8% no segundo trimestre de 2024. Já no Santander, o índice está em 15,5% no período de abril a junho de 2024.
Vale lembrar que Bradesco e Santander passam por mudanças nos seus negócios e que as duas empresas buscam recuperar a rentabilidade acima dos 20%. Ainda assim, durante a coletiva de imprensa, Milton Maluhy foi questionado se a rentabilidade da empresa do setor financeiro deve se manter nesse patamar elevado
O CEO do Itaú comentou que a empresa não faz projeções (guidance) de ROE, mas afirmou que a instituição financeira deve entregar um ROE igual ou superior a 20% nos próximos trimestres. Entretanto, ele comenta que o investidor não pode olhar o número isoladamente. O ideal é sempre retirar o custo de capital do ROE, para assim saber como está a rentabilidade líquida do banco. Segundo o CEO, é essa boa rentabilidade líquida que o Itaú entregará para o investidor.
“A nossa forma de administrar o banco é de gerar valor. Sendo essa criação de valor o ROE de 22,4% menos o custo de capital, que hoje está no patamar de 14% para quem compra uma ação do banco. Então, a rentabilidade pode até cair, desde que a gente continue trabalhando fortemente no conceito de criação de valor”, afirma. Ou seja, a rentabilidade do Itaú está 8,4 pontos porcentuais acima do custo de capital do banco, o que para o CEO é mais importante que o número do ROE isoladamente.
Banco registra queda na inadimplência e deve manter apetite
Outro ponto comentado foi a inadimplência, o indicador, que foi um grande problema para os grandes bancos nos últimos anos, está controlado no Itaú. O índice encerrou o primeiro segundo trimestre de 2024 está em 2,7%, queda de 0,3 ponto porcentual na comparação com o mesmo período do ano passado, quando a inadimplência estava em 3,0% no banco.
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Em meio à queda da inadimplência, o custo de crédito do Itaú recuou 6,7%, para R$ 8,81 bilhões. A queda está atrelada à qualidade dos novos empréstimos feitos pelo banco, que já aparecem positivamente no balanço. Já a margem financeira gerencial ficou em R$ 27,6 bilhões, crescimento de 6,4% na comparação com o mesmo período do ano anterior. A margem financeira de um banco é equivalente à receita que ele obtém em relação ao dinheiro que ele pega emprestado com os investidores e o dinheiro que ele empresta para os seus clientes.
A carteira de crédito ficou em R$ 1,2 trilhão, alta de 8,9% na comparação com o mesmo período do ano anterior. Esse valor equivale ao montante de empréstimos concedidos pelo banco para os seus clientes. Durante a coletiva, o E-Investidor questionou o CEO do banco se havia alguma possibilidade do risco global de uma recessão nos EUA se materializar e se a empresa reduziria o ritmo de concessão de crédito por receio dessa crise financeira. Segundo ele, a chance de recessão nos EUA é baixa e, por isso, o banco não deve reduzir o apetite para concessão de empréstimos.
“A chance de recessão na economia americana é baixa. O que a gente vê são ambos os indicadores econômicos em territórios positivos. Por isso, esperamos um crescimento de 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA. Naturalmente, no Japão, houve um movimento muito específico. No entanto, os EUA possuem uma alavanca poderosa, sendo a política monetária, [e por isso], esperamos três cortes de juros de 0,25 ponto porcentual pelo Fed iniciados em setembro”, diz Maluhy Filho.
Justamente por isso, o executivo estima que o Itaú não deve reduzir o apetite ao risco e manter as concessões de crédito na velocidade atual. Entretanto, o CEO do Itaú até faz algumas ressalvas e reforça que deve se manter vigilante, mesmo que o cenário externo aparente estar em calmaria. Para ele, o banco deve seguir buscando um crescimento sustentável.
“Não vimos nenhuma razão para mudar o apetite, não antevemos nenhuma razão para mudar a carteira de crédito. Estamos monitorando a saúde dos clientes, claro que algumas famílias estão com o endividamento (alavancagem) muito alto, e por isso, buscaremos um crescimento sustentável. No entanto, isso não significa que mudaremos o apetite”, completa o CEO.
O que esperar dos dividendos do Itaú?
Analistas do mercado comentaram que os resultados foram “fortes e em linha com o esperado”. Na visão da Genial Investimentos, o Itaú apresentou mais um trimestre de “resultados consistentes” com nova expansão de rentabilidade e crescimento de lucro, atingindo um “recorde e consolidando” sua posição de liderança no setor financeiro.
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“O trimestre mostra mais uma vez o sólido desempenho da gestão neste ciclo de crédito, refletindo melhorias contínuas em processos, tecnologia, modelos de crédito e na gestão de pessoas e cultura. Na perspectiva anual, enxergamos tendências construtivas, com receitas totais em expansão de 7,7% no período de um ano, destaques para margem com mercado com crescimento de 31% na base anual e avanço de 15% no setor de seguros”, dizem Eduardo Nishio, Wagner Biondo, Felipe Oller e Luis Degaspari, que assinam o relatório da Genial.
Os analistas comentam que, após o banco apresentar mais um trimestre consistente, eles recomendam compra para a companhia com preço-alvo de R$ 40,60, uma alta de 20,55% na comparação com o fechamento de terça-feira (6), quando a ação encerrou o pregão a R$ 33,68. Os especialistas relatam que o papel está sendo negociado a preços atrativos com a métrica Preço sobre Lucro (P/L) negociada a 8 vezes para 2024. Para 2025, a estimativa é de um P/L de 7,2 vezes, o que, para os analistas, deixa claro que o papel está atraente.
Nishio, Biondo, Oller e Degaspari comentam também que a instituição financeira está com um excesso de capital acumulado. O Itaú encerrou o segundo trimestre de 2024 com um nível de capital orgânico nível 1 de 14,6%, enquanto o mínimo gerencial requerido do banco é de 12%. “Devido a esse fator, estimamos um generoso rendimento de 7,5% do valor da ação em dividendos (dividend yield) para 2024, dado que o banco deve aumentar o payout esse ano para distribuir o excesso de capital”, explicam os analistas.
A XP Investimentos também recomenda compra para as ações do Itaú com preço-alvo de R$ 42 para o fim de 2024, uma provável alta de 24,7% na comparação com o fechamento de terça-feira. A XP não revelou sua estimativa de dividendos para o maior banco privado do país, mas a equipe da corretora diz acreditar que a companhia deve pagar mais que os 25% mínimos do seu lucro líquido em dividendos, justamente pelo acúmulo de capital.
“O Itaú apresentou outro conjunto de resultados sólidos com a carteira de crédito apresentando um crescimento acelerado de 8,9% em relação ao ano anterior e aproximando-se da faixa mais alta da projeção (guidance) para 2024, que é de 9,5%. As despesas não decorrentes de juros do banco permaneceram em uma trajetória positiva, alcançando seu melhor índice de eficiência de 38,8% no segundo trimestre de 2024, o que mostra que a companhia está no caminho certo”, dizem Bernardo Guttmann, Matheus Guimarães e Rafael Nobre, que assinam o relatório da XP.
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Já a Ágora Investimentos comenta que o balanço apresentou alguns pontos negativos. “A margem do Itaúcom clientes registrou seu terceiro trimestre sequencial de contrações, refletindo um mix mais fraco, com crescimento mais forte de grandes empresas. Enquanto isso, notamos que os ganhos de Tesouraria ficaram bem acima de nossa estimativa e da média dos últimos quatro trimestres de quase R$ 900 milhões”, apontam Gustavo Schroden do Bradesco BBI e Renato Chanes da Ágora Investimentos, que assinam o relatório em conjunto.
No entanto, os especialistas reconhecem que os resultados foram fortes nas questões de receitas de tarifas e seguros, enquanto as despesas permaneceram sob controle. Por causa disso, a Ágora Investimentos estima que o Itaú (ITUB4) deve pagar cerca de 7,4% do seu valor de mercado em dividendos em 2024, os analistas da corretora mantiveram a recomendação de compra para o papel com preço-alvo de R$ 45, uma provável alta de 33,61% na comparação com o fechamento de terça-feira (6).