Aprovada por maioria dos votos, a proposta envolve a incorporação da totalidade das ações da atual JBS S.A. pela JBS Participações, com posterior emissão de papéis preferenciais obrigatoriamente resgatáveis. Duas ações da JBS S.A. darão direito a uma preferencial, que será automaticamente convertida em um BDR lastreado em uma ação Class A da JBS N.V., que será negociada na Nyse.
Para João Abdouni, analista da corretora Levante, a internacionalização crescente da empresa pode impulsionar uma valorização adicional de suas ações: investidores, lembra ele, tendem a valorizar companhias com presença global e diversificação geográfica de receitas. Segundo Abdouni, isso reduz a exposição a riscos específicos de um único mercado e amplia as oportunidades de crescimento.
“No caso da JBS, a atuação em diversos continentes, com marcas fortes e acesso a novos mercados consumidores, fortalece a percepção de que se trata de uma companhia global consolidada, o que pode se traduzir em maior confiança por parte dos investidores institucionais e individuais”, diz Abdouni.
A equipe da Genial Investimentos diz que fundos ativos podem aumentar suas posições temporariamente, focados na reprecificação do valor da companhia, e gradualmente desinvestir suas posições para embolsar ganhos – considerando que os fundamentos estão se suavizando (compressão de margens nas principais unidades de negócios em 2025). “Os fundos passivos, por outro lado, devem alimentar o interesse contínuo nas ações, especialmente se elas forem indicadas para inclusão nos índices (Russell 1000 e, no futuro, o S&P 500)”, afirmam Igor Guedes, Luca Vello e Iago Souza, que assinam o relatório da Genial.
No entanto, os especialistas lembram a operação tem alguns riscos – por isso, a votação para a listagem da JBS não foi unânime. Humberto Aillon, especialista em Gestão Tributária e Mercado Financeiro na Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (FIPECAFI), observa que ter a empresa listada fora do país aumenta a complexidade de governança. Repercussões negativas sobre esse tema podem afetar significativamente à precificação das ações.
Outro ponto levantado por ele é que o custo de manter a companhia listada fora pode ser bem elevado, gerando impacto no preço sobre o lucro, além de gerar pressão para a empresa capturar a alta no valor da ação. “Tivemos outras empresas brasileiras que buscaram listar fora do B3 com a expectativa de atrair investidores internacionais e ao final viraram ações sem liquidez e sem visibilidade. Com certeza isso deve estar no radar do conselho da JBS”, diz Aillon.
O analista da Levante, João Abdouni, lembra que as recentes mudanças na estrutura societária da companhia elevaram o poder dos controladores nas decisões estratégicas por meio do aumento de seus direitos de voto. Segundo ele, isso pode resultar em preocupações do mercado com a diluição do poder de voto dos minoritários – o que deve deixar o investidor em alerta.
Para Genial Investimentos esse ponto deve deixar o investidor desconfortável – por isso, a aprovação do fato entre os minoritários foi apertada. Os especialistas dizem que a aprovação da estrutura na assembleia já era provável, uma vez que os acionistas minoritários estarão atentos à tendência de aumento dos preços das ações no curto prazo.
O que fazer com as ações da JBS agora?
A Levante avalia as ações JBSS3 como uma boa alternativa de investimento e mantém a recomendação de compra. A empresa, argumentam os analistas, apresenta fundamentos sólidos, com forte geração de caixa, diversificação geográfica e de portfólio de produtos, além de uma estrutura de capital robusta.
“Apesar de desafios no curto prazo, como a volatilidade dos preços das commodities, vemos um bom potencial de valorização no médio e longo prazo. A JBS está bem posicionada para se beneficiar de uma possível recuperação global da demanda por proteínas e de movimentos estratégicos que visam o crescimento sustentável, como investimentos em inovação e sustentabilidade”, diz Abdouni.
Humberto Aillon, da FIPECAFI, ressalta que a JBS possui operação bem diversificada e resultados consistentes, como foi apresentado no primeiro trimestre de 2025. A companhia cresceu 39% no lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês). O especialista diz que a empresa tem capilaridade no Brasil e EUA, com crescimento no segmento de aves e suínos. Por causa disso, ele vê robustez da empresa para superar crises locais. Por esses motivos, entende que a ação da companhia é bem atrativa para o investidor.
“Com a listagem nos EUA, a continuidade do crescimento no setor de proteínas e aumento da penetração dos mercados internacionais, a empresa tem ação com possibilidade de valorização em torno de 18%, oscilando entre R$ 47 e R$ 49 por ação”, prevê Aillon.
A Genial Investimentos diz que o múltiplo da ação da JBS permanece abaixo dos níveis praticados em relação a seus pares nos EUA, como a Tyson Foods (8,4 vezes) e a própria Pilgrim’s Pride-PPC (6,6 vezes). Na Europa, as empresas de alimentos e bebidas listadas em Frankfurt e Londres negociam a uma média de 7,2 vezes, enquanto seus pares asiáticos negociam a 6,8 vezes.
“A convergência da JBS (JBSS3) para a média global de 7,5 vezes implicaria em uma valorização potencial de quase 30% no preço das ações, mesmo que se mantenha uma diferença de +0,5x em relação aos pares — o que modelamos como nosso cenário base”, dizem Igor Guedes, Luca Vello e Iago Souza. A Genial tem recomendação de compra com preço-alvo de R$ 54,50, uma alta de 29% em relação ao último fechamento.