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Como ficam os investidores se a Light (LIGT3) desistir da recuperação judicial

Analistas ainda veem muitas incertezas no radar; veja qual é a recomendação para o papel

Como ficam os investidores se a Light (LIGT3) desistir da recuperação judicial
Dívida da Light é estimada em R$ 11 bilhões. (Foto: Divulgação/Light)
  • As notícias ventiladas de que a Light (LIGT3) estaria preparando um plano para desistir de seu processo de recuperação judicial têm movimentado as ações da companhia nos últimos dias
  • Analistas acreditam que a Light quer encontrar saída mais rápida com credores, mas ainda não conseguem cravar se desistência seria positiva para investidores
  • Na dúvida, todos os especialistas consultados pelo E-Investidor preferem ficar fora das ações

Rebaixamento nas agências de rating, uma medida cautelar para deixar de pagar obrigações financeiras, um pedido de recuperação judicial (RJ), novos nomes na composição acionária. O ano de 2023 já estava super movimentado para a Light (LIGT3), mas os acionistas da companhia de distribuição de energia ganharam mais um assunto para acompanhar.

O novo capítulo na novela da Light para sanar uma dívida estimada em R$ 11 bilhões é a possibilidade de desistência do processo de recuperação judicial. Uma notícia que começou a ser ventilada na semana passada e foi confirmada pela companhia, via fato relevante, divulgado na última sexta-feira (8).

No documento enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a companhia confirmou que o Conselho de Administração aprovou, em uma reunião realizada em 04 de setembro, a elaboração de um plano para a saída da sua recuperação judicial. A Light informou ainda que não há decisão sobre um possível aporte de recursos na empresa, como também vinha sendo ventilado.

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A possibilidade de saída antecipada da RJ traz novos pontos para o debate – alguns positivos, outros, nem tanto. Marcelo Boragini, sócio e especialista em renda variável da Davos Investimentos, destaca que o processo já vinha sob críticas desde que foi acatado pela Justiça, dado que concessionárias de energia não podem, por lei, acionar o recurso. “Vale lembrar que o pedido de RJ da distribuidora sempre foi contestado tanto por credores como por especialistas, porque driblou a regra”, diz.

Agora, se realmente abrir mão da RJ, a Light perderia os direitos adquiridos no processo, como a possibilidade de negociar os pagamentos com prazos maiores e a suspensão das ações de execução. É como se a companhia voltasse à estaca zero nas dívidas. Mas isso não é um sinal negativo por si só.

O que se especula no mercado é que a Light estaria buscando uma forma de acelerar os acordos diretamente com os credores, dessa vez, fora do embate judicial. Seria uma estratégia para destravar várias etapas e dar agilidade ao processo de turnaround na companhia. O que, sob esse ponto de vista, é positivo para a companhia.

“É sempre melhor que as coisas sejam feitas pela caminho mais direto e rápido possível”, afirma Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimenos. Nesse sentido, quando se negocia diretamente com os credores, há uma chance de ter menor litígio com eles. Tende a ter um resultado mais satisfatório, mas ainda é muito cedo, existe muito fumaça nesse tema.”

Fora da RJ, a Light também teria mais chances de conseguir a renovação de seus contratos de concessão que vencem nos próximos anos, já que, para receber o aval da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), é preciso provar a viabilidade financeira da operação. “A desistência da RJ também tem a ver com isso”, diz Leonardo Piovesan, CNPI e analista fundamentalista da Quantzed, casa de análise e empresa de tecnologia e educação para investidores.

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O analista acredita que a estratégia é positiva, mas destaca que ainda há incertezas no radar. Isso porque, segundo ele, o sucesso dessa negociação dependeria da “boa vontade dos credores”. Junto à negociação direta, foi ventilado a possibilidade de que a Light faça um aporte de capital na casa de R$ 1 bilhão, além de uma operação de conversão de parte da dívida em ações – estratégias para injetar capital na companhia e ajudar na negociação. Como o plano não foi confirmado, ainda não dá para cravar como isso impactaria os investidores de LIGT3.

“Se os credores aprovarem um plano que seja muito favorável a eles, um haircut (termo usado no mercado financeiro para representar a diminuição do valor de alguma dívida) pequeno da dívida, provavelmente isso resultaria em um aumento de capital maior do que o discutido inicialmente, na casa de R$ 1 bi”, explica Piovesan. “Se a conversão de dívida em ações também for maior do que estaria sendo proposto – se os credores não aliviarem – vai ser negativo para os acionistas porque representa uma diluição maior das posições dos investidores.”

A alta recente da LIGT3

A LIGT3 encerrou a segunda-feira (11) com uma queda de 4,05% na Bolsa, cotada a R$ 5,45. Em um período de um mês, as ações caíram 17,92%, devolvendo parte dos ganhos que a empresa vinha conseguindo conquistar até então.

Gabriel Bassotto, analista chefe de ações do Simpla Club, explica que as ações sofreram nos últimos dias refletindo todas as notícias ventiladas a respeito do futuro da RJ da companhia. Mas não só: o Ibovespa como um todo vem caminhando de lado, com viés mais negativo desde agosto. Com o mercado mais pessimista, aqueles papéis considerados mais arriscados, como é o caso da Light, caem mais.

“Juntou o micro, com esse problema de ruído nas negociações da Light, com um macro um pouco mais desafiador em relação aos juros, com aumento na percepção de risco. Isso acabou contribuindo para a queda das ações da Light nas últimas semanas”, diz Bassotto.

Ainda assim, a LIGT3 acumula uma alta de 17,71% em 2023. Como contamos nesta reportagem de meados de julho, os papéis vinham se beneficiando com a troca de cadeiras no comando da companhia. Era o mercado dando um voto de confiança às mudanças na empresa, em um cenário que a queda da taxa de juros deve favorecer as companhias mais endividadas. À época, os papéis chegaram a subir 83% no ano.

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Mas há quem diga que o movimento de alta foi exagerado.

“A ação subiu muito além do que deveria”, destaca Leonardo Piovesan, CNPI e analista fundamentalista da Quantzed, casa de análise e empresa de tecnologia e educação para investidores. “O desempenho foi motivado por compras relevantes de acionistas do mercado, o que acabou gerando uma demanda forte por especuladores, elevando o preço a patamares muito além do que fazia sentido.”

O que estamos vendo agora, segundo Piovesan, é a correção desse movimento. “As quedas recentes refletem essa incerteza quanto ao desfecho do plano de negociação junto aos credores.”

Oportunidade ou furada?

Ainda que reconheçam os esforços que a Light tem feito para conseguir seu turnaround, nenhum dos especialistas ouvidos pelo E-Investidor acredita que é um bom momento para investir nas ações da companhia.

Leonardo Piovesan, da Quantzed, destaca que, mesmo que aprovado e em termos favoráveis à Light, o plano proposto vai representar uma diluição da posição dos acionistas atuais. “Estamos falando de conversão de dívida em equity e mais um aumento de capital, isso tudo representa uma diluição bem grande dos investidores. Isso só mostra o quão delicado é a situação da companhia”, diz. A Quantzed não tem recomendação para os papéis.

Este também é o entendimento na Davos Investimentos. Na dúvida, é melhor ficar de fora das ações. “Há outras empresas dentro do setor elétrico como opção, que são excelentes pagadoras de dividendos e que não tem essas incertezas que a Light tem”, pontua Marcelo Boragini.

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