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- Luis Stuhlberger, gestor do fundo Verde, enxerga uma piora na percepção fiscal brasileira
- A grande virada no jogo, segundo Stuhlberger, foi a apresentação do orçamento de 2025 com alterações no arcabouço fiscal
- Diante desta situação, o risco fiscal nos próximos dois anos passou a pesar mais nos cálculos e refletiu na escolha por ativos do fundo Verde
Luis Stuhlberger, gestor do fundo Verde, CEO e CIO da Verde Asset, vê 2024 como um ano “extremamente frustrante e decepcionante”. A declaração foi dada durante a 24ª apresentação do Fundo Verde, evento que reúne os principais executivos da gestora e investidores dos fundos. Por trás desta frustração, está o encaminhamento dado pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva às contas públicas.
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“Aconteceram duas coisas muito relevantes no portfólio: abertura de juros nos EUA, que levou a uma abertura de juros no mundo, e uma deterioração em especial dos ativos brasileiros”, afirma Stuhlberger. “O mercado brasileiro, entre os emergentes, foi o que pior performou.”
Para Stuhlberger, o motivo da deterioração dos ativos brasileiros está, principalmente, na piora da percepção fiscal. A grande virada no jogo, segundo ele, foi a apresentação do orçamento de 2025 com alterações no arcabouço fiscal. No meio de abril, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), apresentou o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO), concretando as alterações nas metas fiscais. Agora, o objetivo de zerar o déficit em 2024 foi empurrado para o ano que vem.
Diante desta situação, o risco fiscal nos próximos dois anos passou a pesar mais nos cálculos e refletiu na escolha por ativos. O fundo Verde zerou a posição em títulos públicos ligados à inflação (Tesouro IPCA+ ou NTBs), que anteriormente era equivalente a 27% do patrimônio do fundo. Simultaneamente, aumentou a exposição aos títulos de inflação americanos, as “TIPs”. Antes, esses papéis representavam cerca de 20% do patrimônio da aplicação. Agora, são 40%, a alocação mais relevante.
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“O objetivo é termos o mesmo ativo, saindo um pouco desse risco fiscal que está por vir”, afirma Stuhlberger, que aponta a volatilidade histórica que as NTNBs brasileiras apresentaram em função da percepção sobre a saúde das contas públicas. “Eu me penitencio por ter acreditado que o governo do PT poderia ter uma seriedade fiscal”, ressalta.
Para o gestor, o arcabouço virou uma peça de ficção. Também já não há a confiança de que Haddad conseguirá evitar medidas populistas do governo. “Agora, aquilo que eu achava que era noise (ruído), agora vou achar que é signal (sinalização)”, ressalta.
México no foco
Outras movimentações importantes no fundo Verde foram a diminuição de exposição em ações brasileiras, de 15% para 10% do portfólio, ao passo que a exposição a mercados estrangeiros foi mantida em 5%. Em moedas, as maiores apostas na ponta comprada são as divisas do México e Índia, enquanto na ponta vendida ficam o yuan chinês, os francos suíços, euro e o dólar taiwanês.
Stulhberger comenta que o México, por exemplo, vive um bom momento porque é o que mais exporta para os EUA, beneficiado pelo “nearshoring” e das tarifas contra a China, possui déficit zero em conta corrente, fiscal mais “arrumado” do que o Brasil e um diferencial de juros mais interessante em relação aos pares na América Latina. Já a China apresenta sinais de que algo não vai bem na economia.
“O saldo de investimento direto na China é negativo. Hoje, toda conta de capital do país (investimentos, empréstimos e recursos externos usados) está tendo desenvestimento. A queda de real estate (mercado imobiliário) leva a um crescimento estruturalmente abaixo e, mesmo assim, o investimento em construção residencial é bem alto”, diz Stuhlberger. “Isso gera um efeito negativo sobre a riqueza das famílias e consumo.”
A China também não teria reservas suficientes para abrir a conta de capital, uma vez que a base monetária é 12 vezes maior do que as reservas. “A China está presa em um modelo que vai comprometer o futuro do país”, diz.
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