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“Governo nada fez para criar estrutura de investimento”, diz Luiz Barsi

O maior investidor individual da Bolsa concorda com Stuhlberger e diz que o País flerta com erros antigos

“Governo nada fez para criar estrutura de investimento”, diz Luiz Barsi
Luiz Barsi. Foto: Alex Silva/Estadão
  • Na semana passada, o fundo Verde, do gestor Luis Stuhlberger, publicou sua carta mensal afirmando que o Brasil "parece flertar perigosamente com o passado"
  • Ninguém melhor para confirmar ou refutar tais afirmações do que Luiz Barsi Filho, o maior investidor individual da bolsa de valores do Brasil. Aos 82 anos, ele já vivenciou inúmeros planos (que deram certo ou falharam) e turbulências na vida econômica nacional

Na semana passada, o fundo Verde, do gestor Luis Stuhlberger, publicou sua carta mensal afirmando que o Brasil “parece flertar perigosamente com o passado”, citando as discussões sobre tirar gastos do teto “com vistas a operações de cunho eleitoral”. O texto também indicava que, diante desse contexto, os investidores poderiam ter perdas nas carteiras.

Ninguém melhor para reforçar ou refutar tais afirmações do que Luiz Barsi Filho, o maior investidor individual da bolsa de valores do Brasil. Aos 82 anos, ele já vivenciou inúmeros planos (que deram certo ou falharam) e turbulências na vida econômica nacional.

Barsi diz concordar parcialmente com o que afirma o relatório do Verde. “Realmente estamos flertando com situações ruins que já ocorreram em governos passados”, afirma ao E-Investidor. Ele reforça, porém, que a bolsa de valores brasileira está melhor estruturada do que antes.

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Ainda assim, o investidor não poupa o governo. Barsi critica a ideia da tributação de dividendos e afirma que a estrutura atual de investimentos é mais de especulação. “Precisamos muito que o nosso mercado tenha um colchão de investidores, a exemplo do que ocorre nos países desenvolvidos”, diz.

Confira abaixo os principais trechos da entrevista.

E-Investidor – O Sr. já passou por diversos governos e planos econômicos. Neste momento, como os investimentos são impactados pela gestão atual em relação à questão fiscal e os sinais de tensão da política em Brasília?

Luiz Barsi – Nós já atravessamos governos com as mais variadas tendências políticas e econômicas. Nós somos um país que ainda não alcançou o primeiro mundo e, como consequência, somos ávidos de investimentos. Independentemente de qual seja a postura do governo de Jair Bolsonaro, ou de quem eventualmente o suceder, a sensação que eu tenho é que em virtude das nossas necessidades, o Brasil ainda poderá ser alvo de bons investimentos.

O que o governo precisa fazer é olhar melhor para a questão tributária. Temos uma estrutura tributária que penaliza demais o empresário. O governo está querendo até tributar o dividendo. Isso é um erro gravíssimo, porque vai inibir investimentos que possam ser direcionados ao País.

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E-Investidor – Em carta recente, o fundo Verde disse que o Brasil “parece flertar perigosamente com o passado”, levando em conta o possível furo do teto de gastos, o que deve dificultar a performance dos ativos de risco e prejudicar o mercado nacional de investimentos. O Sr. concorda?

Barsi – Até certo ponto, concordo. Realmente estamos flertando com situações ruins que já ocorreram em governos passados. Entretanto, nós temos hoje um mercado de valores muito melhor estruturado.

A grande pergunta que se faz é: quando o governo vai tomar providências para não permitir que privilégios odiosos sejam impostos ao mercado? Um desses privilégios odiosos é o fato de a CVM e da Bolsa ter legalizado um estelionato: o volume de locação de ações hoje tem destruído muitas cotações e feito com que elas não representem a realidade da sua estrutura de resultados.

E-Investidor – Neste contexto, o que o governo poderia fazer para ajudar o investidor, especialmente a pessoa física?

Barsi – O governo pouco ou nada fez para criar uma estrutura de investimentos. Ele tem permitido que a estrutura seja direcionada para uma situação mais especulativa.

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Precisamos muito que o nosso mercado tenha um colchão de investidores, a exemplo do que ocorre nos países desenvolvidos e especialmente no mercado americano. Aqui não temos essa estrutura, o cidadão encara o mercado como uma roleta, especula na esperança de ganhos rápidos. O governo tem que direcionar o indivíduo para um investimento de médio e longo prazo.

E-Investidor – Como o investidor deve se portar nesse momento?

Barsi – Quem é investidor não está temendo a situação atual. A gente tem constatado que a maioria das empresas, agora que estamos saindo da crise pandêmica, têm mostrado bons resultados, haja vista a Petrobras e a Vale do Rio Doce. Os bancos voltaram a registrar resultados excelentes, alguns surpreendentes, como o Banco do Brasil.

Entretanto, esses resultados positivos não têm gerado uma modificação na cotação das ações. O valor patrimonial por ação do Banco do Brasil chega a cerca de R$ 48 e ele custa R$ 30. Ainda estamos distantes de ter uma força de investidores. Por enquanto estamos com muitos especuladores.

E-Investidor -Diante de todo esse contexto, ainda é bom negócio investir no Brasil?

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Barsi – Nenhum país vive sem empresas que proporcionam um caráter perene, como as de energia, telecomunicações e financeiro. Possuímos boas expectativas em torno de algumas empresas.

Mas eu continuaria investindo no Brasil. Vou dizer até mais: não estou convicto de que o capital estrangeiro que vem pra Bolsa ajuda o País. Ao contrário, ele tira ganhos dos brasileiros. A Bolsa contempla muito o capital estrangeiro e eu acho que esse capital é nocivo para o País.

 

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