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Marisa (AMAR3) está demitindo e fechando lojas. O que pode acontecer com as ações?

Varejista anunciou a venda de 88 lojas para reequilibrar as contas

Marisa (AMAR3) está demitindo e fechando lojas. O que pode acontecer com as ações?
Fachada da Marisa em São Paulo. (Foto: Werther Santana/ Estadão)
  • Em março deste ano, a Marisa (AMAR3) divulgou um plano de reestruturação baseado em fechamento de lojas deficitárias, redução de despesas e negociação com credores
  • Na última segunda-feira (17), a empresa anunciou que parte desse plano já foi posto em prática. A varejista fechou 88 lojas e estima uma geração extra de caixa na ordem de R$ 35 milhões ao ano
  • Apesar da reestruturação ser um caminho para a melhoria operacional da Marisa, o mercado ainda não está convencido sobre qual será o nível de sucesso deste processo

Em março deste ano, a Marisa (AMAR3) divulgou um plano de reestruturação baseado em fechamento de lojas deficitárias, redução de despesas e negociação com credores. No último balanço financeiro publicado, referente ao 1º trimestre de 2023, a varejista apresentou uma dívida bruta de R$ 737,2 milhões, para um caixa de R$ 200,5 milhões. O prejuízo no período foi de R$ 106,8 milhões.

Na segunda-feira (17), a empresa anunciou que parte desse plano já foi posto em prática. A varejista fechou 88 lojas e estima um ganho de Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de R$ 40 milhões para este ano e R$ 60 milhões a partir de 2024.

Com a redução das despesas administrativas, de vendas e gerais (SG&A), a Marisa calcula uma geração de caixa extra na ordem de R$ 35 milhões ao ano. Por último, a companhia reporta ter renegociado 97% do total das dívidas que possui com parceiros de revenda, além de ter renegociado 80% dos acordos relacionados a aluguéis.

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As novidades sobre a reestruturação fizeram os papéis AMAR3 terminarem a sessão anterior cotados a R$ 0,86, após um salto de 8,88% no pregão. Nesta terça-feira (18), as ações entraram várias vezes em leilão após atingirem a oscilação máxima permitida pela B3. Após o zigue-zague durante o dia, as ações fecharam a R$ 0,86, no zero a zero.

Alívio de curto prazo

Apesar da reestruturação ser um caminho para a melhoria operacional da Marisa, o mercado ainda não está convencido sobre qual será o nível de sucesso deste processo. Para Max Mustrangi, especialista em reestruturação de empresas, a varejista mantém uma perspectiva ruim de geração de caixa. E o extra de R$ 35 milhões ainda estaria longe do suficiente para sanar o problema de endividamento.

“A operação vai mal, basta ver o prejuízo grande que eles tiveram no último balanço”, afirma Mustrangi. “Eu vejo um futuro muito difícil para a Marisa, até porque não é só questão da empresa, mas do setor em que ela está inserida. Estamos com a economia parada, alta da inadimplência, consumidor sem poder aquisitivo.”

Todo o segmento de varejo está sofrendo com os juros altos, de 13,75% ao ano, que encarecem o crédito e esfriam o consumo. De acordo com o Serasa, até maio deste ano, 71,9 milhões de brasileiros estavam inadimplentes.

As dificuldades específicas da varejista só adicionariam mais riscos ao case. “O principal problema da Marisa não é nem o negócio, mas o volume da dívida, que é elevadíssimo”, diz Mustrangi, que não vê oportunidades nas ações AMAR3. “A perspectiva é muito ruim. A Marisa é um avião despencando, com a reestruturação, a taxa de queda vai ser reduzida, mas o avião continua em direção ao solo.”

Flávia Meireles, analista da Ágora Investimentos, vê a reestruturação trazendo um alívio para a companhia, mas segue cautelosa com os papéis. A especialista possui recomendação neutra para as ações.

“A área de Serviços Financeiros da companhia ainda permanece um grande obstáculo. No 1T23, essa divisão registrou EBITDA negativo e foi observada uma deterioração sequencial da inadimplência”, afirma Meireles. Esse segmento financeiro, ao qual a analista se refere, é o MBank – a plataforma de serviços financeiros da Marisa.

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No 1º trimestre deste ano, o MBank apresentou um Ebtida de R$ 14,4 milhões, revertendo o resultado positivo de R$ 17,9 milhões obtido no mesmo período de 2022. No balanço, a Marisa informa que os acionistas controladores realizaram um aporte de R$ 90 milhões na MPagamentos, subsdiária do MBank, para fortalecer esse segmento.

A empresa também adotou um processo de concessão de crédito mais seletivo em função do momento de inadimplência do mercado. Ainda assim, Meireles reafirma as inseguranças no radar. “O compromisso dos acionistas de capitalizar os serviços financeiros da Marisa pode trazer certo alívio, embora ainda exista alta incerteza em torno da geração de caixa nos próximos trimestres”, diz a analista da Ágora.

Marcus Labarthe, especialista em mercado de capitais e sócio-fundador da GT Capital, ressalta que o cenário macro já muito difícil para a Marisa e todo o varejo, foi piorado no início do ano com a Crise da Americanas, que encareceu ainda mais a captação de crédito. Para ele, dentro deste contexto amargo, a AMAR3 virou uma ação “especulativa”, de baixa liquidez.

“O ativo vive de notícias sobre a reestruturação”, diz. “A restruturação é a única alternativa para empresa. Não há margem para erros quando se está debilitado.”

Gustavo Cruz, Estrategista Chefe da RB Investimentos, e Heitor De Nicola, especialista de renda variável e sócio da Acqua Vero, também concordam com essa visão.

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“A Marisa deu um passo para trás para conseguir se reequilibrar, tirar as lojas que não estavam vendendo muito e ficar mais especializada nos serviços. Por isso os papéis saltaram, até porque, do jeito que estava antes, a perspectiva era de que os resultados ficassem cada vez mais espremidos”, afirma Cruz. “Ainda é cedo para entender se a empresa será um case de sucesso de recuperação ou se seguirá enfrentando dificuldades”, diz Nicola.

Em 12 meses, o ativo cai 58,6%. Já em cinco anos, a desvalorização é de 80%.

 

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