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Crise, demissões e 2 trocas de CEO: dá para acreditar na Marisa (AMAR3)?

Analistas avaliam as mudanças na empresa, mas destacam experiência do novo presidente para conduzir a reestruturação

Crise, demissões e 2 trocas de CEO: dá para acreditar na Marisa (AMAR3)?
Fachada da Marisa em São Paulo. (Foto: Werther Santana/ Estadão)
  • O conselho de administração da Lojas Marisa (AMAR3) anunciou, na última segunda-feira (4), Edson Salles Abuchaim Garcia como diretor presidente da companhia, com mandato de um ano.
  • Para alguns analistas de mercado, a nova troca, em si, não chega a minar os planos da varejista de se reerguer, mas dá indício de uma falta de organização em sua estrutura e na comunicação com investidores.
  • A trajetória de Garcia traz otimismo para quem olha para os passos da Marisa. O executivo é reconhecido, por exemplo, por sua contribuição significativa na profissionalização da Caedu.

O Conselho de Administração da Lojas Marisa (AMAR3) anunciou na última segunda-feira (4) Edson Salles Abuchaim Garcia como diretor-presidente (CEO) da companhia, com mandato de um ano. Ele ficará no lugar de Andrea Maria Meirelles de Menezes, anunciada como CEO no começo de fevereiro, em substituição a João Nogueira Batista. Garcia tomará posse em até 30 dias, contados a partir do comunicado do início da semana.

Para parte dos analistas de mercado consultados pelo E-Investidor, a nova troca, em si, não chega a minar os planos da varejista de se reerguer, mas dá indício de uma falta de organização em sua estrutura e na comunicação com investidores. Há quem defenda, por exemplo, que o anúncio de Menezes para o comando de forma interina, assim como já ocorreu no passado recente com outros executivos, evitaria ruídos desnecessários no mercado.

O plano de reestruturação, revelado pela companhia em março de 2023, determinou o fechamento de lojas deficitárias, a redução de despesas e a negociação de dívidas com fornecedores. No balanço relativo ao terceiro trimestre do ano passado, a direção da companhia anunciou que desde fevereiro de 2023 encerrou 89 lojas e economizou R$ 39 milhões com redução de estrutura e funcionários.

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Na Bolsa, a alta volatilidade da AMAR3 continua. Na segunda-feira, quando o rearranjo do alto escalão foi anunciado, a ação, negociada fora do Ibovespa, encerrou o pregão em leve baixa de 0,87%, cotada a R$ 2,27. No dia seguinte, disparou 14,98%, para R$ 2,61, chegando a se valorizar quase 20% ao longo da sessão. Na quarta-feira (6), todavia, o papel recuou 6,90%, a R$ 2,43, enquanto na última quinta (7) conseguiu alcançar uma alta de 1,65%, a R$ 2,47.

Parte do otimismo com a mudança deve-se à sólida carreira de Garcia em empresas nacionais e multinacionais, com passagens por Nestlé, Riachuelo e Caedu. “Com mais de 25 anos de experiência no varejo, o recém-designado CEO traz consigo uma bagagem rica em projetos de eficiência operacional e uma visão estratégica abrangente das organizações”, diz a Marisa, em fato relevante.

Análises sobre a troca inesperada na presidência da Marisa

Felipe Pontes, diretor de gestão de patrimônio da Avantgarde Asset Management, avalia que a nomeação de Garcia, após só um mês da “gestão” de Menezes, sugere mais uma possível revisão estratégica e busca por estabilidade na liderança. Contudo, “também soa estranho e parece haver alguma falta de planejamento, no mínimo, da comunicação com o mercado”.

O analista CNPI da Suno Research, José Daronco, também considera trocas sucessivas com um fator negativo, pois “dá a entender que a reestruturação tem se mostrado mais difícil do que inicialmente se previu”.

Embora entenda que a mudança não deveria ser vista como um problema pelos investidores, Leonardo Piovesan, CNPI e analista fundamentalista da Quantzed, observa que a notícia foi recebida com surpresa, uma vez que a Marisa não havia comunicado, previamente, que Menezes ficaria no posto de forma interina depois da saída de Nogueira.

“A companhia tinha passado a mensagem de que ela seria responsável por tocar a parte mais comercial do turnaround (processo de recuperação de um quadro de crise) da Marisa. Porém, desde a saída de Nogueira a empresa já sabia que o cargo ia ser interino. Só não foi comunicado para o mercado. Então, foi uma troca inesperada”, diz Piovesan.

Experiência de Garcia anima o mercado

A trajetória de Garcia traz otimismo para quem olha para os passos da Marisa. O executivo é reconhecido, por exemplo, por sua contribuição significativa na profissionalização da Caedu, um e-commerce de moda. Segundo comunicado da Marisa, ele chega à empresa com a missão clara de impulsionar a eficiência operacional e a proposta de valor, além de retomar a estratégia de negócios bem-sucedida da empresa.

“A visão sistêmica do funcionamento das organizações, aliada à habilidade de unir razão no planejamento e emoção na execução, promete reforçar a volta do DNA da Marisa. Este movimento estratégico está alinhado aos objetivos futuros da empresa, destacando-se como um passo significativo para o crescimento e sucesso contínuo do negócio”, disse a companhia, no comunicado.

Os analistas concordam com essa leitura. Piovesan, da Quantzed, destaca a longa experiência de Garcia no setor e o vê como um gestor com boa trajetória para tocar a segunda etapa de reestruturação da companhia.

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Já Pontes, da Avantgarde, frisa que mudanças frequentes na gestão podem ser vistas pelo mercado como um sinal de instabilidade ou incerteza gerencial, podendo afetar a confiança dos investidores, mas endossa que o perfil de Garcia pode ser percebido como uma tentativa da empresa de fortalecer sua governança e estratégia operacional.

“O estabelecimento de um comitê do Conselho de Administração para suporte ao varejo também pode ser visto como uma medida positiva para alinhar a execução estratégica com os objetivos futuros da companhia. Mas enfatizo que (a troca) parece pouco planejada. Soou muito mal do ponto de fundamentalista, de quem busca segurar a ação por bastante tempo”, analisa Pontes.

O que fazer com as ações AMAR3?

Embora não tenham recomendação para AMER3, os analistas avaliam que os investidores devem ter cautela e ficar mais atentos à divulgação, ainda neste mês, dos dados referentes à operação da Marisa no ano passado.

“A empresa deve divulgar seu resultado referente aos últimos meses de 2023 no próximo dia 14 de março e, ao que tudo indica, o resultado continuará pressionado pelo processo de reestruturação. Acredito que o principal driver (direcionador) para uma subida ou queda nas ações esteja nos dados. No patamar de preço atual, acredito que a troca de comando não vai modificar o entendimento do mercado. Por outro lado, os resultados podem afetar de maneira muito significativa a cotação”, diz o analista da Suno.

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Piovesan não tem recomendação para o papel mas aconselha cautela para os investidores, que, em sua opinião, também deveriam esperar pelo resultado do quarto trimestre de 2023 e ouvir sobre a visão de Garcia para a empresa. “É um turnaround difícil e agora temos a figura de um CEO preparado, com experiência no setor de varejo, para tocar essa virada. Tem que ter um certo nível de cautela, embora acredite que exista uma possibilidade desse turnaround acontecer”, afirma o analista da Quantzed.

Pontes também não tem a Marisa na carteira e afirma que não pretende se posicionar no curto prazo, seja por questões macro, como dificuldades do varejo, seja questões micro, como as mudanças de gestão em pouco espaço de tempo. “Sem uma comunicação mais adequada e efetiva com o mercado, tenho ainda mais restrições ao ativo neste momento”, diz o diretor da Avantgarde.

*Com Estadão Conteúdo

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