O que este conteúdo fez por você?
- Mesmo com um cenário volátil e incerto, uma classe de ativos de renda variável tem conseguido um desempenho positivo em 2022
- Um levantamento da Quantum Finance mostra que alguns fundos de dividendos sobem mais de 20% no acumulado do ano
- Por investirem em empresas pagadoras de dividendos, esses fundos aportam em negócios mais sólidos e resilientes, o que acaba blindando os ativos de parte da volatilidade do cenário
O ano de 2022 não tem sido fácil para os ativos de renda variável. O cenário de incertezas inclui guerra no leste europeu, inflação, economias desenvolvidas subindo juros, e, no Brasil, eleições presidenciais.
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Com todos esses fatores, investidores foram tomados por uma onda de aversão ao risco e muitas classes de ativos têm acumulado desempenhos negativos ou muito pouco expressivos até aqui.
No meio disso tudo, porém, há um segmento de fundos de investimento conseguindo chamar a atenção mesmo no cenário de volatilidade na bolsa: os fundos de dividendos.
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Tratam-se de fundos de ações focados em empresas que pagam dividendos ao investidor. E é justamente essa característica que tem feito essa classe de ativos se mostrar resiliente.
Em geral, as companhias que pagam dividendos com frequência são aquelas pouco alavancadas, com modelo de negócio sólido e geração de caixa constantes. Como os fundos de dividendos focam nessas empresas, acabam se blindando da volatilidade se comparado a ativos com outras estratégias, explica Gabriel Lambais, analista de investimentos do Grupo GCB.
“A maior parte das empresas presentes nos fundos que estão bem esse ano são aquelas que já tem uma receita contratada e estão se beneficiando do cenário, como o setor de commodities, bancos ou utilities. Por isso geram retornos mais expressivos”, diz.
Os melhores do ano
Um levantamento feito pela Quantum Finance a pedido do E-Investidor mostra os 12 fundos de dividendos com melhor desempenho acumulado em 2022.
Todos conseguem superar o IDIV, Índice de Dividendos da B3, um indicador de desempenho médio das ações que melhor remuneram os investidores via pagamento de dividendos. Até a quinta-feira (29) o IDIV acumulava alta 7,10%.
Nome | CNPJ | Gestão |
Retorno no ano
03/01/2022 até 28/09/2022 |
XP PARATY FI AÇÕES | 28.581.662/0001-11 | XP Asset Management | 22,66% |
TIJUCA FI AÇÕES | 41.956.959/0001-82 | XP Asset Management | 21,42% |
XP INVESTOR DIVIDENDOS FI AÇÕES | 16.575.255/0001-12 | XP Asset Management | 20,68% |
PLURAL DIVIDENDOS FI AÇÕES | 11.898.280/0001-13 | Genial Investimentos | 17,50% |
TRÍGONO DELPHOS INCOME FI AÇÕES | 29.088.410/0001-18 | Trígono Capital | 10,58% |
VITREO DIVIDENDOS FI AÇÕES | 37.428.217/0001-07 | Empiricus Investimentos | 9,93% |
BRADESCO MÁSTER DIVIDENDOS FI AÇÕES | 14.180.114/0001-75 | Bradesco Asset Management | 9,81% |
BRAM H DIVIDENDOS FI AÇÕES | 17.284.948/0001-19 | Bradesco Asset Management | 9,15% |
SAFRA DIVIDENDOS FI AÇÕES | 16.617.511/0001-97 | Safra Asset Management | 9,10% |
BRADESCO PRIVATE DIVIDENDOS PGBL/VGBL FIC MULTIMERCADO | 17.999.997/0001-38 | Bradesco Asset Management | 9,04% |
BRASILPREV DIVIDENDOS III FIC MULTIMERCADO | 09.272.878/0001-50 | Brasilprev | 9,04% |
BB TOP DIVIDENDOS FI AÇÕES | 05.100.230/0001-46 | BB Asset Management | 8,87% |
*Fonte: Quantum Finance
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Os três maiores destaques, os únicos com retorno acima de 20%, pertencem à XP Investimentos: o XP Paraty FI Ações, o Tijuca FI Ações e o XP Investor Dividendos FI. Os três ativos têm a mesma estratégia de alocação, mas apenas o XP Investor Dividendos FI é aberto a investidores em geral, enquanto os outros dois são exclusivos.
Marcos Peixoto, gestor da XP Asset, explica que um dos principais filtros adotados na hora de escolher quais empresas vão entrar na carteira dos fundos de dividendos é a resiliência e previsibilidade da geração de caixa de cada companhia. O pagamento de dividendos acaba sendo a consequência dessas características. “Primeiro vemos as características da empresa, que indiretamente acaba pagando bons dividendos por causa disso. Mas há boas empresas que pagam dividendos e não estão na carteira”, diz
Entre as preferências, destacam-se dois setores principais: bancos e empresas de energia. “Foram os setores vencedores do primeiro semestre e que continuamos apostando para o fim do ano”, afirma Peixoto. Entre as empresas do setor elétrico, a Eletrobras (ELET6) é a top pick da XP, enquanto, entre os bancões, o preferido é o Banco do Brasil (BBAS3).
Nesta reportagem, contamos o que tem feito Petrobras e Banco do Brasil pagar dividendos recordes.
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“A Eletrobras é a nossa maior posição individual. Acreditamos que ainda tem bastante upside para tirar da empresa, mesmo já tendo subido bem. Entre os bancos, nossa maior aposta do ano foi Banco do Brasil, que naturalmente tem volatilidade por ser estatal, mas mesmo nas vésperas da eleição achamos que há muito pouco a perder independente de qualquer cenário eleitoral”, explica.
Outro ativo que aparece no topo do levantamento feito pela Quantum é o Plural Dividendos FI Ações, da Genial Investimentos. A estratégia do fundo também tem foco na geração de caixa das empresas. Para que a ação de uma companhia consiga distribuir dividendos com regularidade, é preciso ter um modelo de negócios robusto e pouco endividado. “Evitamos investir em empresas muito endividadas, que atuem em setores muito imprevisíveis ou que dependam muito de crescimento”, diz Roberto Lira, gestor de estratégias de renda variável da Genial Investimentos.
Na visão do gestor, os fundos de dividendos vão continuar sendo favorecidos pelo cenário incerto que ainda vem pela frente, com volatilidade política e incertezas com a economia global, cenários que fazem os investidores buscarem ativos mais previsíveis. “O principal é encontrar empresas que estejam bem posicionadas estrategicamente dentro dos seus setores, que vão conseguir performar bem ou que sejam menos suscetíveis a um cenário econômico que ainda não sabemos como vai ser”, destaca Lira.
A maior parcela do fundo da Genial, cerca de 22% do patrimônio do ativo, está alocada no setor elétrico.
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Gabriel Lambais, analista do Grupo GCB, explica que a maior parte desses fundos tem uma estratégia de alocação parecida e que os bons resultados do momento são comuns a boa parte da classe de fundos de dividendo, justamente por causa do cenário incerto. “Como as empresas estão gerando caixa expressivo e bons resultados, elas conseguem pagar bons dividendos. E, como a cotação das ações está mais baixa, o dividend yield se torna mais expressivo”, destaca.
A perspectiva, segundo o analista, é que os fundos de dividendos continuem resilientes ao longo de 2022.
Como escolher
Com incertezas no radar, a ideia de investir em empresas mais sólidas e menos afetadas pelo cenário pode atrair investidores que não querem ir às compras sozinhos na bolsa de valores. Na hora de escolher em qual ativo investir, porém, é preciso se atentar a algumas questões.
Assim como todos os fundos de investimento, os fundos de dividendos cobram uma taxa de administração, um valor em porcentagem pago por todos os cotistas para custear a administração do gestor.
É importante se atentar a esses valores porque, se muito altos, podem levar parte da rentabilidade.
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Ulisses Nehmi, CEO da Sparta, explica que a disparidade entre os valores cobrados por diferentes instituições foi reduzida, portanto a taxa de administração tem menos peso do que já teve na hora de fazer a escolha de um ativo.
O principal ponto a ser avaliado, na visão do CEO, é a trajetória do gestor responsável pelo fundo escolhido. “É fundamental para o investidor entender se o gestor do fundo é especialista naquela estratégia”, diz.
Um ditado famoso no mercado financeiro, que diz que rentabilidade passada não é garantia de rentabilidade futura, se aplica nesse caso. Não é porque um fundo está performando bem em um período de seis ou doze meses, que vai continuar com bom desempenho lá na frente. E é a trajetória e histórico do gestor que pode ajudar o investidor a fazer uma análise mais qualitativa de cada ativo.
“Um fundo que oscilava bastante no passado, mas que nos últimos 12 meses só tem ganhos, não significa que daqui pra frente vai continuar assim. O histórico ajuda a entender essa consistência”, pontua Nehmi.
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Um último ponto que o investidor precisa ter no radar, assim como na compra de qualquer ativo, é se aquela estratégia dialoga bem com seus objetivos. Os fundos de dividendos têm apresentado bom desempenho e podem gerar ganhos de capital a seus cotistas. Apesar do nome, não remuneram proventos ao investidor. Os dividendos pagos pelas empresas da carteira do fundo ficam a cargo do gestor, que costuma utilizá-los para fazer novos investimentos.
Para quem quer construir uma renda passiva, a melhor estratégia ainda é investir diretamente nas ações que pagam dividendos. “Para quem quer fazer renda passiva com dividendos, a melhor estratégia é fugir dos fundos. O ideal é sempre fazer o stock picking, escolhendo diretamente as empresas que vão compor a sua carteira”, diz Louise Barsi, sócia do AGF (Ações Garantem Futuro).
A AGF possuiu o Mapa do Dividendo Inteligente (MDI), que compila um histórico de estudo e acompanhamento da distribuição de dividendos das empresas listadas na B3. Por essa métrica, para quem quer dividendos, as empresas que têm se destacado são as de commodities, como Vale (VALE3), Petrobras (PETR4), Gerdau (GGBR4) e Unipar (UNIP6), além das elétricas Copel (CPLE6) e Taesa (TAEE11), diz Barsi.