- Com as incertezas econômicas, as turbulências políticas e a preocupação com o risco fiscal, o ativo voltou a disparar nas últimas semanas
- Especialistas pedem cautela aos investidores que pensam em comprar ativos atrelados à moeda norte-americana
Depois de quase três meses de queda, o dólar voltou a romper a barreira dos R$ 5,60. Desde 22 de maio, quando fechou em R$ 5,53, a moeda norte-americana começou a perder força, caindo até R$ 4,82, no dia 8 de junho. Com as incertezas econômicas, as turbulências no ambiente político e a preocupação com o risco fiscal, o ativo voltou a disparar nas últimas semanas e bateu R$ 5,61 no encerramento do pregão desta segunda-feira (24).
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Especialistas consultados pelo E-Investidor explicam que a forte valorização da moeda ocorre por uma série de fatores, tanto internos como externos. “O dólar acumula em si todas as incertezas da economia local e global”, diz Luiz Araújo, especialista em atuária e consultor financeiro.
No ano, a alta ante ao real dispara 39,79%, mas o dólar tem um desempenho fraco em relação às moedas de países desenvolvidos. Para efeito de comparação, a cesta de moedas DXY, que mostra a relação do dólar contra o euro, iene japonês, libra esterlina, dólar canadense, coroa sueca e franco suíço, já caiu 3,44% no ano, aos 93,208 pontos (o índice sobe quando o dólar está forte e cai quando está fraco).
Fatores locais
A principal preocupação dos investidores estrangeiros em relação ao Brasil é a situação fiscal. “Começamos com o rumor que o Paulo Guedes poderia sair e depois tivemos a possível derrubada do veto presidencial na questão do reajuste para servidores”, afirma Marcelo Boneri, gerente da mesa de futuros da Ágora Investimentos.
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Mesmo que nenhum dos cenários tenha se concretizado, as incertezas em relação ao futuro do País teve forte impacto no câmbio. “Qualquer dúvida em relação a questão fiscal brasileira faz o dólar subir”, diz Álvaro Marangoni, sócio na Quadrante Investimentos.
Além disso, outro fator que causou dúvidas em relação ao tema foi o anúncio da prorrogação do auxílio emergencial até o final do ano. Apesar da indicação de que o valor do benefício será menor que o atual, existe o questionamento se ele pode prejudicar ainda mais as contas do País. “O problema fiscal piora a visão de longo prazo e é isso que importa, por isso o dólar sobe”, diz Boneri.
Portanto, quanto mais a questão fiscal do Brasil for colocada em xeque, mais a perspectiva do País piora e o dólar sobe. “A desorganização política em relação ao tema pesa em cima da nossa moeda”, afirma o gerente da Ágora.
Fatores externos
Além dos problemas locais, que puxam o real para baixo, o contexto internacional também não é nada positivo. Pesam na conta os indicadores mais fracos do que o previsto da Europa, o fracasso até agora entre Reino Unido e União Europeia na busca por um acordo comercial, as dúvidas em relação a segunda onda da covid-19 e a eleição americana. “Tudo isso gera ainda mais incertezas, causa tensão nos mercados e, consequentemente, afeta o câmbio”, afirma especialista da Ágora.
Neste cenário, as moedas dos países emergentes, que sofrem com uma economia mais frágil, costumam ser mais penalizadas em crises. “Se o exterior estivesse mais calmo, não estaríamos tão desvalorizados”, comenta Boneri.
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Dentre todos estes fatores, Bonieri diz que o mais prejudicial ao Brasil é a eleição americana. Com candidatos com visões muito distintas, a disputa ainda está aberta e ninguém sabe qual caminho os EUA irá seguir. Ou seja, as incertezas aumentam no país, a moeda americana perde força e isso afeta o real por tabela. “O cenário do dólar pressionado e os nossos problemas locais fazem o real subir muito”, diz o gerente da Ágora.
O que esperar do dólar daqui para frente?
Ao que tudo indica, o dólar continuará volátil por mais algum tempo. Afinal, todas as preocupações que impulsionaram a alta da moeda devem permanecer no radar. “O real continuará caindo enquanto as incertezas continuarem no ar”, diz Marangoni, da Quadrante.
“Por ora, a tendência é o dólar é continuar volátil”, afirma Araújo, ao dizer que a alta da moeda americana é um movimento natural e esperado em momento de dúvidas.
Por outro lado, os especialistas afirmam que a cotação atual do dólar está muito alta e a tendência é seu preço diminuir um pouco, mas dentro de um patamar alto. “Acredito que o dólar não deve ficar abaixo de R$ 5,50, pois a eleição americana está apenas começando e vai trazer muita volatilidade”, diz Boneri.
Já Marangoni diz que vê um ponto de equilíbrio entre R$ 5,30 e R$ 5,40. “Se seguirmos uma linha mais fiscalista e de reformistas, o câmbio volta a cair um pouquinho”, afirma o sócio da Quadrante.
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Neste contexto, os especialistas deixam o alerta para os investidores que desejam se posicionar em aplicações atreladas à moeda. “O câmbio está mais para se manter/cair um pouco do que subir e as pessoas têm que ter essa perspectiva em mente”, diz o gerente da Ágora.
A indicação, portanto, é apostar na diversificação, pois o momento ainda conta com muitas incertezas. “O cenário requer cautela e é importante estar protegido”, diz Marangoni.