- O plano de recuperação judicial, que foi virado do avesso após a homologação de aditivo em outubro, deve transformar por completo a grande empresa criada nos anos 2000
- Com a aprovação do “novo” plano de recuperação, a Oi foi estruturada em quatro unidades produtivas isoladas
- Agora, os investidores vão concentrar as atenções no nome de um novo sócio. Ou seja, é esse resultado que pode trazer algum efeito para o papel, seja de alta ou baixa. Segundo a Oi, interessados não faltam.
Quem será a nova Oi (OIBR3 e OIBR4)? Essa é uma pergunta que muitos investidores devem fazer depois de um ano com tantos eventos e boas notícias envolvendo a companhia.
Leia também
Na noite desta quinta-feira (12), a Oi reportou prejuízo líquido de R$ 2,6 bilhões no terceiro trimestre, uma queda de 54,1% em relação à perda registrada no mesmo período de 2019, quando atingiu R$ 5,7 bilhões.
“Os resultados são um claro sinal de que a Oi está caminhando na direção certa, principalmente em relação a implantação da fibra, que já alcançou taxa de ocupação de 22,2% e ARPU (sigla em inglês para receita média por usuário) acima do esperado”, diz Flávia Meireles, analista da Ágora Investimentos. “Esse é o ponto mais importante, já que a fibra deve impulsionar um crescimento sustentável da receita nos próximos anos, juntamente com a expansão da margem”, completa.
Publicidade
Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos
Os anos de incertezas geradas pelo processo de recuperação judicial, iniciado ainda em 2016, refletiram em queda nas ações. A desvalorização foi tão brusca ao ponto de os papéis serem dados como “brinde”. Apesar do saldo negativo que acumula na B3, a Oi ainda gera curiosidade no mercado: a empresa foi a mais buscada por internautas no Google em setembro, com mais de 1 milhão de volume de busca.
O plano de recuperação judicial, que foi virado do avesso após a homologação de aditivo em outubro, deve transformar por completo a grande empresa criada nos anos 2000, focada principalmente em telefonia móvel. Com as mudanças, a Oi foi fatiada em unidades de negócio menores, que deverão ser vendidas para abater a dívida bilionária. A expectativa é concluir a recuperação em maio de 2022. Se tudo ocorrer como planejado, a Oi diminuirá de tamanho e focará apenas em fibra ótica.
“É uma das maiores reviravoltas empresariais recentes, dado o tamanho da recuperação e o que a nova administração conseguiu fazer”, avalia Eduardo Guimarães, especialista em ações na Levante Ideias de Investimentos.
Ao longo deste ano, a companhia conseguiu êxito em operações importantes. Em janeiro, por exemplo, houve a venda da participação da Oi na operadora angolana Unitel, por US$ 1 bilhão. Os recursos ajudaram a melhorar o fluxo de caixa da companhia, que viria a ser afetada meses depois pela crise de coronavírus, assim como as concorrentes.
Publicidade
A cereja no bolo foi a vitória da companhia na assembleia geral de credores, em setembro, ocasião em que foi aprovado o aditamento do plano de recuperação. Ponto à favor da companhia, e que gerou embate com os bancos credores, foi o desconto de cerca de R$ 400 milhões na dívida, cuja nova soma de débitos caiu para R$ 65 bilhões.
Como ficará a empresa após o plano de recuperação
Com a aprovação do “novo” plano de recuperação, a Oi foi estruturada em quatro unidades produtivas isoladas (UPIs). Na prática, dividiram os ativos da companhia de acordo com os segmentos de telecomunicação em que atua. O objetivo é vender boa parte desses ativos e capitalizar pelo menos R$ 22,8 bilhões para amortizar a dívida.
A principal operação será a venda da sua rede móvel, pela qual o trio de concorrentes Claro, Tim (TIMP3) e Vivo (VIVT4) lançou a proposta de R$ 16 bilhões. A oferta ganhou preferência depois de superar a da norte-americana Highline, de R$ 15 bilhões. Apesar de ainda necessitar do aval dos órgãos reguladores, analistas do mercado avaliam que a operação não deverá ser barrada e que a operação já foi precificada nas ações.
“A aprovação do Cade já está no preço, pois o mercado espera que vá sair. Caso não tenha aprovação, haverá decepção e as ações caem”, afirma Guimarães.
Além da rede móvel, outras unidades deverão trazer reforço de capital para o caixa da companhia, como a venda de torres de transmissão, estimada em R$ 1 bilhão, e de data centers, orçados em R$ 325 milhões. O leilão para venda dessas duas UPIs está marcado para o próximo dia 26 de novembro.
O que esperar das ações em 2021
Se em 2020 as ações da empresa ficaram muito dependentes dos desdobramentos de eventos, como a venda de ativos na Angola e as incertezas sobre a aprovação do novo plano de recuperação, 2021 deverá ser um ano com menos intempéries.
Publicidade
A Oi já revelou que aspira ser o maior player de mercado na fibra ótica. A principal mudança do plano de recuperação foi separar esse segmento em uma unidade produtiva isolada, que será a criação da subsidiária InfraCo. A companhia pretende vender de 25% a 51% do capital da subsidiária, o que poderá gerar pelo menos R$ 6,5 bilhões, segundo a própria tele.
Os investidores vão concentrar as atenções na busca por um novo sócio. Ou seja, é esse resultado que pode trazer algum efeito para o papel, seja de alta ou baixa. Segundo a Oi, interessados não faltam. Especula-se, que a Highline, que perdeu a disputa pela rede móvel, já teria demonstrado interesse na fibra.
“Temos uma visão otimista para a Oi daqui para frente”, afirma Meireles, que tem recomendação de compra para o papel OIBR3 e preço-alvo de R$ 3,10. “Vemos um caminho mais sustentável para a empresa, principalmente com a implantação da fibra ótica, e com a redução da alavancagem (endividamento) após a venda de ativos”, diz a analista da Ágora.
Apesar do otimismo, é preciso ter cautela com o papel, uma vez que a empresa ainda encontra-se em recuperação judicial. O ano de 2020 foi de muita especulação e sem maiores desdobramentos em 2021, o ativo pode ficar menos volátil.
Publicidade
“O ano de 2020 foi importante para a empresa porque direcionou melhor como as coisas vão acontecer. Mas mas fica o meu reforço que é uma visão para longo prazo”, diz Régis Chinchila, analista da Terra Investimentos.
O analista lembra que a forte procura pelo papel se deve também ao baixíssimo patamar de preço, que em alguns dias ficou abaixo dos R$ 0,50.
Guimarães, da Levante, considera os esforços assumidos pela empresa, mas não tem recomendação de compra. “Ainda é muito arriscado investir na Oi. Preferimos outras empresas que estão com a casa mais arrumada. Com fibra ótica, pode ser mais interessante no futuro, com o negócio ficando mais claro”, diz Guimarães.