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BEE4: Investidor ganha nova classe de ativos com plataforma de tokens

A CEO Patrícia Stille fala sobre a estreia da plataforma que quer unir investidores e empresas emergentes

BEE4: Investidor ganha nova classe de ativos com plataforma de tokens
BEE4 é o 'projeto da vida' de Patrícia Stille, CEO da nova plataforma do mercado de acesso. (Foto: Sérgio Zacchi/Divulgação)
  • Ao contrário do que se possa imaginar à primeira vista, não se trata de uma nova bolsa de valores; mas sim de um mercado secundário com empresas que não são cobertas pela B3
  • O foco da BEE4 são empresas com faturamento anual entre R$ 10 milhões e R$ 300 milhões, que ainda não têm capilaridade para fazer um IPO na B3, mas já possuem um modelo de negócio estruturado para se apresentar aos investidores
  • Ao E-Investidor, a CEO Patrícia Stille fala sobre as expectativas e os desafios para colocar a BEE4 no ar, com estreia prevista na segunda quinzena de junho

Os investidores brasileiros estão prestes a ganhar uma nova opção de investimento. A BEE4, uma plataforma de negociação de ativos tokenizados, recebeu a autorização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e deve iniciar as operações na segunda quinzena de junho com a missão de unir empresas emergentes ao mercado de capitais.

Os tokens vão funcionar como ações de empresas com faturamento anual entre R$ 10 milhões e R$ 300 milhões – que ainda não têm capilaridade para fazer um IPO na B3, mas possuem um modelo de negócio estruturado para apresentar a investidores.

O sandbox regulatório da CVM estabeleceu que, para listar os ativos na BEE4, as companhias precisam antes realizar sua oferta inicial na beegin, uma plataforma de equity crowdfunding – espécie de financiamento coletivo em troca de ações do negócio – ligada ao projeto. Depois, os ativos ficam disponíveis para a negociação dos investidores em um pregão que acontecerá uma vez por semana, sempre às quartas-feiras, entre 12h e 20h.

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Ao contrário do que se possa imaginar à primeira vista, não se trata de uma nova bolsa de valores, mas de um mercado secundário com empresas que não são cobertas pela B3.

O público-alvo da BEE4 é formado por companhias que se encontram entre os estágios de startups e de listagem na bolsa e que até então não tinham muitas oportunidades no mercado de capitais. Por isso, a CEO Patrícia Stille reforça: “Estamos aqui para ajudar as empresas menores a terem acesso ao mercado de capitais, se financiarem e crescerem no tempo, além de gerar retorno para seus investidores. Queremos ser um celeiro para a B3, não uma concorrência”.

Stille foi sócia da XP e conta que, durante sua trajetória, esbarrou em inúmeros empreendedores com modelos de negócios milionários, nos mais variados setores e em diferentes partes do Brasil, que acabavam de fora do radar da “Faria Lima”. O objetivo agora é aproximar essas empresas do mercado, permitindo a capitalização por meio da listagem na BEE4. Uma boa notícia para os investidores, tanto institucionais quanto de varejo, que passarão a contar com uma nova classe de ativos para compor e diversificar os portfólios.

“Como ainda estamos construindo a liquidez nesse mercado, é uma classe de ativos que têm risco. Mas o potencial de retorno é maior. São companhias que vem em uma trajetória de crescimento interessante, com bom histórico e que têm toda uma estrada para crescer e rentabilizar os seus investidores”, diz Stille.

O primeiro negócio a ser ofertado na BEE4 é a Engravida, uma clínica de reprodução humana com sede em São Paulo, voltada para tratamentos como fertilização in vitro e congelamento de óvulos. Outras 20 empresas estão no pipeline da BEE4, que só poderá listar dez companhias durante o seu primeiro ano de funcionamento, conforme determinado pela CVM.

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Ao E-Investidor, a CEO da BEE4 falou sobre as expectativas quanto ao funcionamento da nova plataforma, a proposta de ajudar o mercado de acesso a evoluir e as vantagens que o modelo pode oferecer para empresas e para os investidores. Confira a entrevista completa:

E-Investidor – A princípio, o modelo de negócio da BEE4 pode parecer uma concorrente da B3. Qual vai ser a diferença para a bolsa tradicional?

Patrícia Stille – A BEE4 é uma plataforma de negociação de ações tokenizadas. Um balcão organizado, mercado secundário, mercado de acesso. Todos esses nomes cabem. Também estamos na Instrução CVM 461, a norma de bolsas, mas somos um estágio anterior. Perante a CVM, o termo “bolsa de valores” não é aplicável para o estágio e infraestrutura em que estamos.

Mas mesmo se fossemos uma bolsa não seríamos uma concorrente para a B3, pois o nicho que atuamos é diferente. Desde o ano passado, venho dizendo que queremos ser um celeiro para a B3, não uma concorrência. Estamos aqui para ajudar as empresas menores a terem acesso ao mercado de capitais, se financiarem e crescerem no tempo, além de gerar retorno para seus investidores. Estamos criando no mercado brasileiro uma nova classe de ativos.

O objetivo da BEE4 é atrair empresas com faturamento anual entre R$ 10 milhões e R$ 300 milhões. Na sua visão, existe um gap no mercado que deixa de fora as PMEs?

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Stille – A BEE4 vem para ocupar um espaço que está vazio. Há um gap no mercado de acesso brasileiro, não existe um segmento voltado para empresas um pouco menos maduras do que as listadas na B3. De um lado, há o ecossistema pulsante das startups e toda uma indústria de crowdfunding se desenvolvendo, com incubadoras, aceleradoras e fundos de venture capital. De outro, temos a B3 para empresas já maduras e com musculatura muito maior.

O que estamos oferecendo ao mercado é uma plataforma para listar e negociar empresas de faturamento anual entre R$ 10 e R$ 300 milhões no ano, para começar a construir liquidez em um segmento que hoje é um vazio. E com isso dar acesso para muitas companhias se aproximarem do mercado de capitais, se financiarem e ganharem visibilidade.

Qual o potencial do segmento?

Stille – É gigantesco. Em termos de representação dos setores da economia brasileira, temos um mercado enorme e cheio de oportunidades que está longe do mercado de capitais, fora da bolsa. Existem oportunidades por todo o Brasil, com negócios faturando dezenas de milhões de reais e que estão completamente fora do radar da Faria Lima. A nossa missão é aproximar esse pessoal, trazer empresas de qualidade para os investidores e ajudar a economia a se desenvolver.

Os tokens vão funcionar como um investimento em bolsa? Qual vai ser a dinâmica de negociação?

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Stille – A unidade mínima de negociação na beegin é um token, que representa uma ação. Na dinâmica que estamos montando para organizar as emissões cada token vai valer em torno de R$ 100. A nossa grande preocupação agora está em construir liquidez. Sabemos que estamos montando um mercado novo, por isso não vamos esperar que todo mundo entenda a proposta e que a BEE4 funcione com um grande volume de negociações da noite para o dia.

Por isso, serão janelas de negociação semanais, às quartas-feiras, com um pregão das 12h às 20h, que vai acontecer uma vez na semana justamente para concentrar as movimentações em uma janela menor. Nos outros dias da semana o investidor pode colocar ordens de compra e venda na plataforma e isso será contemplado para formar o preço de abertura uma hora antes do início do pregão.

Temos uma grande preocupação com a formação de preço, porque imagina você ser um empreendedor entrando no mercado de capitais e, de repente, por uma venda forçada ou pressão de investidores, seu papel despenca. Estabelecemos um intervalo para que a cotação oscile, mas de uma forma que seja possível evitar uma volatilidade nociva para o papel.

Qual será a estratégia para atrair os investidores do varejo para a BEE4?

Stille – Quais são as alternativas que esses investidores têm para acessar essas empresas? Praticamente nenhuma. Tem o crowdfunding, mas para startups e empresas early stage (em estágio inicial), ou ações da bolsa. Então, significa que o varejo ganhou uma nova classe de ativos acessíveis para compor seus portfólios.

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É óbvio que, como ainda estamos construindo liquidez, é uma classe de ativos que têm risco, então faz sentido que sejam investidores com visão de longo prazo e que saibam que esse investimento deve representar uma parcela menor do portfólio. Mas o potencial de retorno é maior. São companhias que vêm em uma trajetória de crescimento interessante, com bom histórico e que tem toda uma estrada para crescer e rentabilizar os seus investidores. Uma alternativa muito boa para o varejo.

Para o investidor, quais as vantagens de se investir nas empresas negociadas na BEE4?

Stille – Esses ativos oferecem uma boa relação risco-retorno, porque permitem acesso a empresas além da bolsa, com vários cases bacanas. De forma ampla, o risco que você corre entrando em uma empresa em estágio inicial, que ainda vai passar por um série de desafios para se estabelecer e amadurecer, é maior do que quando você entra em uma companhia que já tem receita recorrente. E é isso que queremos oferecer aos investidores.

O mercado se desenvolveu naquele momento de queda de juros e os investidores se abriram para a possibilidade de investir em empresas além da bolsa, o que fez as startups ficarem muito famosas. Na BEE4, queremos jogar luz na categoria que fica entre as startups e as empresas de bolsa, que é muito interessante para a composição de portfólio. Os investidores vão encontrar setores que não estão expostos na bolsa.

Recentemente, alguns acontecimentos no mercado de startups, como as demissões em massa no QuintoAndar e na Facily, levantaram uma discussão quanto ao fim do período de euforia do setor. Há espaço para levar essas empresas ao mercado de capitais?

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Stille – Esse trabalho que estamos fazendo para colocar a BEE4 de pé é um projeto que acontece por meio de ciclos, para ganhar tração e crescer ao longo dos anos. Teremos ciclos mais aquecidos, propensos a ter mais listagens, outros nem tanto. Isso é circunstancial, é momento de mercado. Da mesma forma como na B3 houve as safras de IPO, que rolaram no passado, e agora é um momento mais complicado. Estamos super abertos para boas companhias que queiram acessar capital de investidores e vamos ser diligentes dentro dos requisitos de listagem para oferecer bons ativos e boas oportunidades.

Que tipo de vantagem o mercado de acesso pode oferecer a esses modelos de negócio?

Stille – Algumas. Para começar, quando a empresa passa por um processo de listagem, isso por si só gera uma certa credibilidade, pois mostra que cumpriu uma série de requisitos de governança e organização, um nível de profissionalização. A empresa ganha visibilidade no mercado de investidores e alternativas para captação, já que o que ela quer é recursos para financiar o crescimento.

Uma vez participante desse mercado, para fazer novas emissões fica mais fácil, pois a empresa já está no radar do mercado, construindo um relacionamento com os investidores.

A própria B3 enfrenta um momento delicado para a captação em mercado de capitais, com empresas receosas em realizar uma oferta pública de ações em um ano eleitoral e de incerteza macroeconômica. De que forma o cenário impacta as empresas alvo da BEE4?

Stille – Isso impacta o Brasil como um todo, é geral. O que a gente está buscando são ativos com um potencial de crescimento independente do cenário. A primeira empresa que estamos trazendo se chama Engravida, uma rede de clínicas de reprodução assistida. É um mercado de muito crescimento, pois cada vez mais as pessoas estão engravidando mais tarde. A economia indo bem ou mal essa empresa vai continuar crescendo. Ninguém desiste do sonho de ser mãe porque a economia está ruim.

Esse ponto macroeconômico afeta o Brasil e o mercado como um todo, mas nós vamos sempre buscar ativos de qualidade, que ofereçam crescimento. Vão ter momentos mais difíceis para a oferta pública inicial, é natural, mas o nosso negócio veio para ficar por gerações, nos bons ciclos e também naqueles mais difíceis.

Já existe uma lista de empresas interessadas em realizar a listagem na BEE4?

Stille – O primeiro negócio que vamos trazer ao ambiente de negociação vai ser a Engravida, que será listada no lançamento da BEE4. Temos mais de outras 20 empresas no pipeline e acredito que isso só tende a aumentar com o tempo. Nos primeiros 12 meses, temos autorização para listar até 10 empresas, em emissões que podem chegar até R$ 100 milhões.

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