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A Petrobras (PETR3; PETR4) reportou um balanço muito abaixo do esperado no quarto trimestre de 2024. A empresa teve prejuízo de R$ 17 bilhões, revertendo o lucro de R$ 31 bilhões reportado no mesmo período de 2023. Em dólar, o prejuízo foi de US$ 2,8 bilhões, muito abaixo do esperado pelo Broadcast, que previa um lucro de US$ 2,8 bilhões.
Para os analistas da XP Investimentos, o prejuízo de US$ 2,8 bilhões foi pior que o esperado, visto que eles aguardavam um resultado positivo de US$ 0,8 bilhão. No entanto, os analistas dizem que o principal destaque negativo não foi a demonstração de resultados, mas o fluxo de caixa e os dividendos da Petrobras. Eles comentam que o resultado desse trimestre deve deixar uma impressão ruim aos participantes do mercado por algum tempo, pois parecia ser um grande consenso uma geração de fluxo de caixa livre e a distribuição relevante de dividendos.
“As altas expectativas provavelmente prepararam o terreno para a decepção. O dividendo de US$ 1,6 bilhão ficou bem abaixo do consenso e da nossa expectativa, que era entre US$ 2,5 bilhões e US$ 3 bilhões. O principal culpado parece ser os investimentos (capex), que terminaram 2024 cerca de US$ 2,1 bilhões (15%) acima da projeção da companhia (guidance), com grande parte da surpresa concentrada no quarto trimestre de 2024”, dizem Regis Cardoso e Helena Kelm, que assinam o relatório da XP.
Os especialistas da XP explicam que o dividendo foi definido pela fórmula dos 45% do fluxo de caixa livre. Eles afirmam que tanto o fluxo de caixa quanto o capex foram surpresas negativas, mas o segundo certamente gerará um debate maior. A equipe da XP lembra que os investimentos da Petrobras em 2024 totalizaram US$ 16,6 bilhões, acima da faixa superior do guidance revisado, de US$ 13,5 bilhões a US$ 14,5 bilhões.
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“A maioria da surpresa foi concentrada nos investimentos do quarto trimestre de 2024, que totalizaram US$ 5,7 bilhões, embora o grande aumento do terceiro trimestre de 2024 já fosse um prenúncio do que estava por vir. Observamos que o valor final dos investimentos continua abaixo do guidance anterior de US$ 18,5 bilhões antes da revisão em agosto de 2024”, explicam Regis Cardoso e Helena Kelm.
Ebitda, dólar, preço do petróleo: o que mais pressionou o balanço de PET4?
Para Gabriel Mota, operador de renda variável da Manchester Investimentos, que deve levantar grande preocupação no mercado, é o Ebitda da Petrobras, de R$ 40,96 bilhões, que veio bem abaixo do consenso Bloomberg, de R$ 62 bilhões. “Na questão do lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda), a gente vê ali um número impactado por algumas disputas tributárias, mas, de qualquer forma, o dado estaria bem abaixo da expectativa do mercado. Esse resultado talvez seja o que mais vai saltar aos olhos dos investidores”, afirma.
Já os analistas da Genial Investimentos explicam que o trimestre pode ser resumido pelo maior aperto de custos e despesas, um preço mais comprimido do Brent, menor produção no segmento de exploração e produção e margens de refino ainda operando em patamares de eficiência limitada.
“Vale lembrar que o prejuízo da Petrobras foi puxado principalmente pela desvalorização cambial, que entrou na linha de resultado financeiro, é de natureza somente contábil, relacionado às dívidas da empresa e suas subsidiárias no exterior. Excluindo esses efeitos, o lucro líquido resultaria em R$ 17,8 bilhões”, dizem Vitor Sousa e Ricardo Bello, que assinam o relatório da Genial.
Como devem ficar os dividendos da Petrobras em 2025?
Os especialistas da Genial estimam que os dividendos da Petrobras devem entregar rendimento de 18% para os investidores no caso de pagamentos extraordinários. Eles afirmam que o baixo dividendo do quarto trimestre de 2024 ocorreu devido a fatores não recorrentes no resultado da empresa, como a desvalorização do câmbio e as paradas de produção.
“Entendemos, no entanto, que esse não é o valor costumeiro da companhia nem deverá ser o patamar que ela continuará entregando, uma vez que esse trimestre apresentou um período de menor produtividade que não deve se perpetuar. Além disso, pelo histórico dos trimestres recentes, vemos uma geração de caixa livre mais próxima de cerca de R$ 40 bilhões (+30% de rendimento)”, afirma a equipe da Genial.
- Auren e seus dividendos: hora de vender ou de comprar na baixa?
Ricardo França, analista da Ágora Investimentos, comenta que mesmo com o resultado fraco, com o dividendo da Petrobras abaixo do esperado, visto que a corretora estimava proventos de US$ 2,5 bilhões, enquanto a companhia anunciou US$ 1,6 bilhão. Ainda assim, ele diz que já aguardava um balanço fraco para a empresa com forte impacto no Ebitda e, mesmo que os números tenham ficado abaixo do esperado, a empresa continua atrativa para o investidor.
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Ao E-Investidor, França diz estimar dividend yield (rendimento de dividendos) da Petrobras de pelo menos 12%, sem considerar uma distribuição extraordinária. “Então, aos olhos de hoje, eu entendo que faz sentido olhar para a tese de Petrobras buscando o retorno via dividendos, mas é importante monitorar, principalmente a partir da divulgação dos planos estratégicos”, diz França.
A Levante, por sua vez, estima um rendimento em dividendos de 15% em 2025, ou seja, também vê o papel como atrativo para o investidor.
O que significa o capex da Petrobras para o Itaú BBA?
Já os analistas do Itaú BBA minimizam os dividendos abaixo do esperado. Eles afirmam que o capex adicional que prejudicaram os proventos é uma alocação antecipada de despesas futuras, não um custo extra. Segundo informações do Broadcast, a equipe do BBA vê que essa antecipação resultou de uma redução no descompasso entre a evolução física e financeira das plataformas que estão sendo implementadas em Búzios, no Rio de Janeiro.
“Consideramos que investir no desenvolvimento da produção do campo de Búzios é a melhor alocação de capital possível e respeitamos a avaliação técnica da empresa sobre o potencial de mitigação dessa medida em relação aos riscos de atraso. Portanto, não vemos a decisão de antecipar o capex como negativa em si. No entanto, acreditamos que a revisão para baixo do capex feita em agosto pareceu apressada e levou os investidores a esperar um pagamento potencial de dividendos maior, o que não se materializou”, destacam Monique Martins Greco Natal, Eric de Mello e Bruna Amorim, que assinam o relatório do Itaú BBA.
Vale a pena comprar as ações da Petrobras agora?
Após o resultado abaixo do esperado e dividendos menores que o previsto, os analistas comentam que a ação da Petrobras deve sofrer no pregão do Ibovespa hoje. Ainda assim, a tese de investimento da companhia continua ativa e os especialistas mostram otimismo com o papel da petroleira.
A XP tem recomendação de compra para a ação PETR4 com preço-alvo de R$ 46,00 para o fim de 2025, uma alta de 21,21% na comparação com o fechamento de quarta-feira (26), quando o papel encerrou o pregão a R$ 37,95. A Ágora Investimentos tem recomendação de compra para a Petrobras com preço-alvo de R$ 53,00 para o fim de 2025, alta de 39,7% em relação ao fechamento de quarta-feira.
A Genial Investimentos é a única que está receosa. Os analistas contam que o fato de a empresa ter colocado o pé no acelerador dos investimentos pode causar uma redução nos dividendos. Assim, eles preferem não correr o risco da tese. A corretora tem recomendação de “manter” para a Petrobras, equivalente à neutra, com preço-alvo de R$ 48,00, alta de 26,48% na comparação com o fechamento de quarta-feira.
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* Com informações do Broadcast e colaboração de Beatriz Rocha