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Mercadante e dividendos pressionam ações da Petrobras (PETR4). O que fazer?

Na visão dos analistas, governo está fritando o atual CEO da estatal e testa nomes com o mercado até encontrar substituto

Mercadante e dividendos pressionam ações da Petrobras (PETR4). O que fazer?
Petrobras. (Foto: Wilton Junior/Estadão)

As ações da Petrobras (PETR4) estão vivendo uma verdadeira montanha-russa na Bolsa de Valores. Os papéis da estatal chegaram a cair cerca de 5% após os rumores da saída de Jean Paul Prates da presidência da companhia para a entrada do atual presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante.

Após a queda livre, o ativo chegou a se recuperar e subir 1,41%, a R$ 38,96 na tarde de quinta-feira (4). Ainda assim, a ação teve queda de 1,41% naquele dia, encerrando o pregão a R$ 37,88. Segundo Leandro Petrokas, diretor de research e sócio da Quantzed, a alta no meio do dia foi devido à notícia de que a companhia retomaria o pagamento do dividendo extraordinário.

Nesta sexta-feira (5), os papéis revivem a volatilidade. A mínima intradiária até o momento foi de R$ 37,20, uma queda de 1,8% na comparação com o fechamento de quinta-feira (4). Já por volta das 14h13, as ações subiam 1,35%, a R$ 38,39.

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Para Petrokas, da Quantzed, a notícia da escolha de Mercadante para o comando da empresa pressiona o ativo e não é nada animadora, visto que o político é um nome que o mercado entende como parte da ala mais radical do PT.

“O fato é que o governo está realmente fazendo um balão de ensaio. Essa é minha primeira leitura, de jogar nomes para ver como o mercado reage. Claro que isso ainda dependerá de aprovação do conselho, etc., mas nitidamente o governo está realmente querendo interferir na atual gestão da Petrobras”, diz o sócio da Quantzed.

Segundo Felipe Corleta, sócio da GTF Capital, o nome de Mercadante é negativo, pois levanta questionamentos se a empresa investirá demais em áreas onde não consegue retornos competitivos ao invés de focar na extração e refino de petróleo. Segundo ele, esse receio acontece pelo fato de Mercadante ser desenvolvimentista.

“Há também um histórico de corrupção envolvendo a estatal. Mercadante foi mencionado em 2016 em delações premiadas no âmbito da operação Lava Jato”, explica Corleta.

A interlocutores, Mercadante disse que já foi sondado por Lula para ocupar o cargo, mas o mesmo disse que não quer assumir a presidência da estatal. No entanto, os próprios interlocutores dizem que Mercadante dificilmente recusaria um convite feito pelo próprio Lula, levando a acreditar que o político assumiria a gestão da petroleira em caso de indicação do presidente.

Na visão de Acilio Marinello, professor da Trevisan Escola de Negócios e Partner da Essentia Consulting, o nome dificilmente deve vingar. Ele diz acreditar que as chances de Mercadante assumir a presidência da empresa é de apenas 30%. “O nome não deve ser oficializado pelo fato do governo ainda se preocupar com a opinião do mercado, pelo menos quando o assunto é a Petrobras”, explica Marinello.

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Ele comenta que a preocupação do governo com o mercado em relação à petroleira acontece pelo fato da companhia ter um peso significativo na Bolsa e que o governo tem o objetivo de retomar a confiança do mercado financeiro.

“Atualmente, a Petrobras tem uma gestão técnica de autonomia, e não uma gestão com intervencionismo do governo, por isso, a percepção do mercado vai pesar na indicação do próximo presidente da Petrobras”, afirma Marinello.

Segundo ele, a gestão de Prates ainda é positiva para companhia, visto que o atual CEO acabou respeitando o preço de paridade internacional. “Ele ainda acabou cedeu na questão dos dividendos extraordinários, mas vale lembrar que a situação dele é complicada. A verdade é que o governo está fritando o Prates para ele cair. E está buscando alguém para substituí-lo”, argumenta o professor da Trevisan Escola de Negócios.

Fábio Sobreira, analista CNPI-P e Professor da FIPECAFI (uma fundação da Universidade de São Paulo), diz que as chances da troca acontecer é menor que 20% e referenda a tese de Marinello, de que o governo está fazendo um teste para encontrar o melhor nome para a companhia.

Já Felipe Corleta, da GTF Capital, estima que o porcentual da troca acontecer como está desenhada hoje é um pouco maior, de 50%. “É uma situação muito fluida, pelo que mencionam todas as fontes em Brasília. Diria que 50%”, estima o Corleta.

Dividendos da Petrobras devem pingar na conta do acionista

Se a permanência de Prates está incerta, algo que o investidor pode até esperar e contar é uma parte dos dividendos extraordinários da petroleira. De acordo com Leandro Petrokas, da Quantzed, o pagamento desses dividendos aconteceria por exigências do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), que visa encerrar o ano com déficit zero.

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“Acredito que, em alguma medida, é uma vitória de Haddad conseguir esses dividendos, pois o governo não está muito preocupado em reduzir gastos, ou seja, busca o equilíbrio fiscal por meio de aumento de receitas. Vale lembrar que uma parte do dividendo distribuído da Petrobras vai para o governo, sendo um dos principais acionistas da empresa. Então, é um reforço de caixa, é uma receita que ajuda no equilíbrio fiscal do País”, diz Petrokas.

No entanto, Fábio Sobreira, da FIPECAFI — USP, explica que essa retomada de dividendos não será como era aplicado no governo Bolsonaro. “Na gestão anterior, a estatal pagava cerca de 100% do seu fluxo de caixa livre, a depender do trimestre. Porém, a presidência atual já comunicou a redução, ou seja, o investidor pode até esperar o pagamento de parte dos dividendos extraordinários, mas não como era antes”, salienta Sobreira.

Com base nessas estimativas, Felipe Corleta e Fábio Sobreira calculam que a Petrobras deve pagar 15% do atual valor de sua ação em dividendos nos próximos 12 meses. A cifra é maior que a taxa básica de juros da economia, a Selic, que está em 10,75%.

Vale a pena investir na Petrobras?

Segundo os analistas ouvidos pelo E-Investidor, as ações da Petrobras estão atrativas, principalmente se o investimento for de médio e longo prazo.  Na visão de Marinello “qualquer investidor, independentemente do perfil, deve ter o papel em sua carteira”.

“As ações caíram muito recentemente e são negociadas a um preço muito interessante. Entretanto, vale a pena lembrar que o investidor precisa ficar com a ação por um período acima de 1 ano, pois o investimento a médio e longo prazo ajuda a diminuir os riscos”, argumenta Marinello.

Felipe Corleta, da GTF Capital, diz que sob a ótica da análise fundamentalista e técnica, a ação é muito interessante para o investidor, visto que a companhia entrega bons resultados financeiros. Todavia, a grande dúvida é sobre a governança da empresa, que tende a gerar volatilidade no papel no curto prazo.

Justamente por causa dessas tensões, Leandro Petrokas argumenta que o investidor deve se afastar do papel para proteger o seu patrimônio. “O risco de ingerência governamental aumentou muito nas últimas semanas e dificilmente o governo vai recuar. Nesse sentido, entendemos haver nomes melhores para se expor no setor de petróleo na Bolsa Brasileira”, diz o analista.

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Por fim, Fábio Sobreira concorda com Marinello. O analista da Fundação da USP comenta que o papel está muito barato, visto que ele é negociado atualmente abaixo de 4 vezes o preço sobre lucro (P/L). “Por causa disso, calculo um preço-alvo de R$ 45 para a Petrobras, pois enxergo que a empresa deve fazer um bom pagamento de dividendos e ter bons lucros”, conclui Sobreira. O preço-alvo equivale a uma potencial alta de 18,8% na comparação com o fechamento de quinta-feira (4), quando o papel encerrou o pregão a R$ 37,88.