- A Assembleia Geral Ordinária (AGO) da Petrobras, realizada nesta quinta-feira (25), trouxe uma boa notícia para investidores: a tão aguardada aprovação do pagamento de 50% dos R$ 43,9 bilhões em dividendos extraordinários que haviam sido retidos pela estatal no início de março
- Segundo analistas, a decisão já estava precificada. Ainda assim, alta nas ações fez a Petrobras se aproximar de recorde de valor de mercado
- Agora, o foco deve ser os 50% de dividendos que ainda estão retidos. AGO aprovou prazo até 31 de dezembro para acionistas deliberarem sobre o tema
A Assembleia Geral Ordinária (AGO) da Petrobras, realizada nesta quinta-feira (25), trouxe uma boa notícia para investidores: a tão aguardada aprovação do pagamento de 50% dos R$ 43,9 bilhões em dividendos extraordinários que haviam sido retidos pela estatal no início de março. O mercado já estava com as atenções voltadas para essa possibilidade desde que, na última sexta-feira (19), o Conselho de Administração da companhia informou que o pagamento dos valores não compromete a sustentabilidade da empresa.
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Os dividendos extraordinários representam um valor de R$ 2,89 por ação, que devem ser pagos em duas parcelas, nas mesmas datas dos proventos ordinários referentes ao 4º trimestre de 2023.
A PETR3 fechou o dia com um salto de 2,26%, a R$ 44,25, enquanto a PETR4 avançou 2,40%, a R$ 42,22. A alta dos papéis foi suficiente para fazer a companhia se aproximar de seu recorde histórico de valor de mercado, de R$ 566,9 bilhões registrado em 19 de fevereiro deste ano. Segundo dados levantados por Einar Rivero, sócio-fundador da Elos Ayta Consultoria, a estatal ganhou R$ 12,7 bilhões em valor de mercado no pregão, totalizando R$ 561,4 bi.
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Ainda que o movimento já estivesse sendo precificado por analistas e investidores – provocando inclusive uma alta semanal nas ações com um fluxo de compradores visando a data-com dos proventos –, a aprovação oficial na AGO foi bem recebida.
João Abdouni, analista da Levante Ideias de Investimento, destaca que com o dividendo extra de R$ 2,89 por ação, a Petrobras encerra o primeiro ano do governo Lula com uma distribuição de 17% aos acionistas. Um yield que acalma parte das incertezas que envolvem a estatal ao longo de um mandato petista; logo após as eleições, em 2022, um dos principais receios com a vitória do presidente era o fim dos dividendos gordos na Petrobras.
“A decisão reduz a incerteza de curto prazo pela empresa, e demonstra pragmatismo do governo que vem enfrentando dificuldades para controlar o dólar e atrair investidores para o Brasil”, diz Abdouni. “Observo o movimento positivo tanto para a Petrobras, quanto para o fiscal brasileiro, bem como para o real frente ao dólar. A Petrobras é a empresa mais relevante do País e o sinal de pragmatismo vindo do Governo Federal certamente agradará os investidores estrangeiros.”
Em março, a decisão de ater o pagamento de dividendos ao mínimo obrigatório de 45% do fluxo de caixa livre da companhia gerou uma crise na estatal. Como mostramos aqui, desde então, o mercado acompanha notícias sobre embates públicos entre o CEO Jean Paul Prates e o ministro de Minas e Energia Alexandre Silveira sobre o pagamento dos proventos, que fizeram o presidente da estatal balançar no cargo. Mas, segundo os especialistas, um dos principais motivos por trás da mudança de posicionamento foi a situação fiscal do País.
Nas últimas semanas, o governo federal revisou a meta fiscal de superávit de 0,5% do PIB para déficit zero em 2025. O entendimento é que a União, que é a principal acionista da estatal, também precisa de novas fontes de recursos e, neste caso, vai se beneficiar com a distribuição de parte dos R$ 43,9 bilhões retidos pela Petrobras. Com a decisão da AGO, a União deve receber cerca de R$ 6 bilhões.
“Essa receita é crucial para auxiliar na redução do déficit primário e no cumprimento das metas fiscais, tendo um impacto significativo na estabilidade econômica do país”, destaca Peterson Rizzo, especialista em investimentos da Multiplike.
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Segundo ele, dividendos consistentes da Petrobras podem fortalecer a percepção de estabilidade fiscal e econômica do Brasil, atraindo investimentos estrangeiros e melhorando a classificação de crédito do País. “Isso beneficia o governo tanto em termos de reputação quanto de capacidade financeira, proporcionando mais recursos para suas iniciativas e responsabilidades”, explica.
Decisão já foi precificada. E agora?
O pagamento de 50% dos dividendos retidos era tido como certo desde a última sexta-feira (19), quando o Conselho de Administração da companhia informou que a distribuição dos proventos não comprometia a sustentabilidade financeira da companhia. Portanto, seria colocada para votação na AGO desta quinta-feira.
Desde então, o mercado trabalhou com essa possibilidade. Como mostramos aqui, alguns bancos até revisaram a recomendação das ações da petrolífera, passando de neutro para compra, devido à perspectiva de pagamento dos proventos. Tudo isso gerou um fluxo positivo para a Petrobras na Bolsa.
Mesmo em um mês negativo para o Ibovespa, que cai 2,70% em abril, a PETR3 e a PETR4 acumulam uma alta mensal de 14,37% e 11,13%, respectivamente.
Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, destaca que o comunicado emitido na semana passada foi uma “mera formalidade”. “Isso já está no preço. Desde março, quando a Petrobras decidiu reter o dividendo, o papel vem subindo com uma expectativa de que a revisão dessa decisão fosse feita”, diz. “Acho que eu e meus colegas vamos ficar de olho na comunicação para ver o que vai ser feito com o restante que ainda está retido.”
O ponto a ser monitorado a partir de agora, e que já está no radar dos analistas, é a possibilidade de pagamento de uma segunda parcela de dividendos; os outros 50% em proventos que ainda ficarão retidos. Foi determinado na AGO que a avaliação do pagamento do montante restante da reserva precisa ser feito ao longo de 2024, decisão a ser tomada até 31 de dezembro. Fontes ouvidas pelo Broadcast disseram que este pagamento já teria o aval do Planalto para acontecer no 2º semestre do ano.
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“O pagamento desses 50% em si já era antecipado”, diz Renato Chanes, analista da Ágora Investimentos. “O que estava em pauta, e achávamos difícil, era uma notícia de que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, via como possível pagar o restante dos dividendos extraordinários no 2S24 – o que, na nossa opinião, não deixaria caixa suficiente para a realização de M&As ou para as disputas relacionada ao CARF”.