

O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 0,9% no terceiro trimestre de 2024 ante o segundo trimestre de 2024, conforme informou nesta terça-feira (3) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado veio ligeiramente acima da mediana das estimativas dos analistas consultados pelo Projeções Broadcast, que apontava alta de 0,8%. O melhor resultado foi do setor de serviços, que avançou 0,9%, seguido pela indústria, que subiu 0,6%. A agropecuária recuou 0,9%.
Analistas do mercado enxergam que os números do PIB foram positivos, com destaque para o consumo das famílias, particularmente relacionado ao setor de serviços. As preocupações, no entanto, estão voltadas ao futuro, já que não há garantias de que o mesmo cenário será mantido daqui para frente. “O ciclo anterior da política monetária, que havia viabilizado taxas de juros menores, pode ajudar a explicar o bom desempenho”, afirma Felipe Salto, economista-chefe da Warren Investimentos. “Esse quadro deve se alterar entre o fim de 2024 e o próximo ano”, pondera.
A mudança pode ocorrer em razão das expectativas elevadas de inflação e dólar, que devem incentivar o Banco Central (BC) a endereçar uma política monetária mais contracionista, com alta expressiva da Selic, propiciando um período de desaceleração da atividade. Na última edição do Boletim Focus, a projeção para inflação até o fim de 2024 subiu de 4,63% para 4,71%, enquanto a estimativa para o dólar se acomodou em R$ 5,70. O relatório também apontou que a taxa básica de juros deve terminar 2024 em 11,75% ao ano, ou seja, com mais um aumento de 0,5 ponto percentual em dezembro.
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Até o final deste ano, a Warren Investimentos entende que o PIB deverá crescer acima de 3% e, para 2025, a economia deve sustentar um desempenho ainda positivo, mas mais próximo dos 2%. Quem tem uma visão semelhante é o economista-chefe da Nomad, Danilo Igliori, que também enxerga que o PIB deve finalizar o ano acima dos 3%, mas diminuir em 2025. “Temos uma dinâmica preocupante relacionadas à pressões inflacionárias e juros ainda mais altos em 2025. Além disso, incertezas sobre o quadro fiscal deverão pesar sobre a confiança de agentes econômicos por algum tempo. Temos que comemorar, mas com bastante moderação. Dá para ver nuvens carregadas se formando no horizonte”, avalia.
Para o Itaú BBA, o resultado do PIB do terceiro trimestre veio acima da expectativa, diante da surpresa positiva com o setor de serviços e da resiliência da demanda doméstica. “O aumento da renda, sustentado pelo mercado de trabalho aquecido, combinado com um ciclo favorável de crédito, têm contribuído significativamente para o forte crescimento do PIB. Nosso monitoramento preliminar do quarto trimestre aponta para alguma desaceleração da economia. Entretanto, para o ano fechado, devemos revisar a nossa estimativa de 3,2% para cima”, ressalta a casa em relatório.
O Bradesco também encarou de forma positiva os dados. O banco acredita que o crescimento da taxa de investimento no terceiro trimestre de 2024 foi uma “ótima notícia”. O indicador ficou em 17,6%, o que representa um crescimento em relação ao número observado no mesmo período do ano anterior, de 16,4%. “O aumento da taxa de juros irá desacelerar a economia, assim como a desaceleração dos gastos do governo, mas esse movimento deve ser gradual. Esperamos que a economia cresça 3,5% em 2024 e 2,4% em 2025”, pontua o banco.
O que o resultado do PIB sinaliza ao investidor?
O consenso é de que o cenário econômico atual, marcado por pressões inflacionárias e por um dólar na casa dos R$ 6, pode levar a novas altas da Selic. “Esse movimento pode ter efeitos colaterais sobre o consumo e o crédito, afetando diretamente o PIB nas próximas divulgações. O cenário exige cautela e planejamento, tanto por parte do governo quanto dos agentes econômicos” afirma Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos.
Apesar do futuro gerar incertezas, analistas ainda veem espaço para as empresas brasileiras reportarem bons resultados, o que deve beneficiar ações do mercado acionário. Para as companhias, o avanço do PIB representa uma oportunidade de atrair mais investimentos, já que um cenário de crescimento aumenta a confiança dos investidores. “No entanto, é fundamental que o governe equilibre políticas fiscais e monetárias para sustentar esse ritmo, evitando pressões inflacionárias que possam impactar o custo do crédito e o acesso ao capital”, indica João Kepler, CEO da Equity Fund Group.
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O dólar em patamares elevados, porém, exige cautela dos investidores. A valorização cambial aumenta o custo das importações, pressionando setores produtivos que dependem de insumos estrangeiros, por exemplo. “O efeito combinado de juros altos e PIB pressionado reforça a busca pelo dólar como proteção contra a inflação elevada e volatilidade econômica, sinalizando que investidores devem ajustar portfólios para mitigar riscos em um ambiente de incertezas”, recomenda Jefferson Laatus, chefe-estrategista do grupo Laatus.