Mercado

Quais os efeitos da prisão de Queiroz no mercado financeiro

Especialistas avaliam possíveis repercussões entre investidores após a prisão do militar ligado à família Bolsonaro

Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro, deixa o Instituto Médico Legal de São Paulo. Foto: EFE/Sebastião Moreira
  • A prisão do policial militar aposentado Fabrício Queiroz surpreendeu a abertura de mercados locais na manhã desta quinta-feira
  • De acordo com o Ministério Público de SP, Queiroz estava em um imóvel do advogado Frederick Wassef, em Atibaia (São Paulo), e foi transferido de helicóptero para o Rio de Janeiro
  • Wassef é advogado de Flávio no caso Queiroz e do presidente Bolsonaro no caso Adélio Bispo. O advogado participou da cerimônia de posse do ministro das Comunicações, Fábio Faria, em Brasília

A prisão do policial militar aposentado Fabrício Queiroz, próximo do clã Bolsonaro e ex-assessor parlamentar do gabinete de Flávio Bolsonaro, quando este era deputado estadual no Rio de Janeiro, surpreendeu a abertura de mercados locais na manhã desta quinta-feira (18).

De acordo com o Ministério Público de São Paulo, Queiroz estava em um imóvel do advogado Frederick Wassef, em Atibaia (São Paulo), e foi transferido de helicóptero para o Rio de Janeiro.

Wassef é advogado de Flávio no caso Queiroz e do presidente Jair Bolsonaro no caso Adélio Bispo, que atingiu com uma facada o então candidato à Presidência em 2018 em Juiz de Fora, Minas Gerais. O advogado, que participou na quarta-feira (17) da cerimônia de posse do ministro das Comunicações, Fábio Faria, em Brasília, afirmou, em ao menos duas ocasiões no ano passado, desconhecer o paradeiro de Queiroz.

Preencha os campos abaixo para que um especialista da Ágora entre em contato com você e conheça mais de 800 opções de produtos disponíveis.

Ao fornecer meu dados, declaro estar de acordo com a Política de Privacidade do Estadão , com a Política de Privacidade da Ágora e com os Termos de Uso

Obrigado por se cadastrar! Você receberá um contato!

Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos

Entre os efeitos já sentidos pela prisão do militar aposentado, está a alta do dólar, que renovou máxima a R$ 5,360 (+1,89%) no mercado à vista, impulsionado também pela redução da Selic na quarta-feira. Especialistas, contudo, afirmam que a prisão ainda não traz maiores efeitos para o mercado de ações. Confira análises a seguir.

Alan Gandelman, CEO da Planner Corretora

“Não acredito que a prisão em si seja um fator de relevância, mas temos que ver se esse fator bota mais lenha na fogueira do embate bate-assopra que estamos vivendo hoje na política. O mercado está olhando mais para o mercado externo e números internos de atividade econômica , PIB e outros, para medir o verdadeiro impacto da pandemia nas empresas.”

“No momento, os investidores estrangeiros estão bem mais fora do que dentro. A pandemia e a situação econômica do País potencialmente causada pelo coronavírus ainda afugenta mais do que qualquer outra coisa. Crises políticas para o estrangeiro tem menor relevância. Ou seja, o investidor segue observando os efeitos do coronavírus, quando começará uma melhora da economia com o começo da reabertura e se as reformas administrativas e fiscais vão avançar.”

João Beck, especialista em investimentos e sócio da BRA

“O simples ato da prisão do Queiroz, a princípio, não traz grandes turbulências no mercado. É mais um capítulo importante na investigação que piora a relação de governo, principalmente entre o Executivo e o STF. Obviamente que também pressiona o dólar, que está subindo agora. É importante lembrar que ontem houve uma decisão de política monetária de baixar a taxa de juros. Isso também reforça ainda mais o dólar para cima, que sobe hoje por volta de 2%”.

“A prisão pode ser um agravante, mas é uma notícia muito pequena perto de tudo que tem acontecido nas últimas semanas, principalmente essa aproximação com o Centrão, que deixou o mercado mais tranquilo em relação a qualquer ruptura que possa afetar mercado. O que causaria, talvez, uma turbulência muito forte nos mercados seria a divulgação pública de algum flagrante na forma de áudio ou algum documento com assinatura, que incriminasse o filho de Bolsonaro e, por consequência, afetaria ainda mais o presidente e sua popularidade.”

Jefferson Laatus, do Grupo Laatus

Em entrevista ao Broadcast, Jefferson afirma que o dólar amplia a alta reagindo à prisão de Fabrício Queiroz e da sua esposa, o que bate na veia na família Bolsonaro e reacende o temor de que a investigação leve à prisão do filho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro.

Para Laatus, se não fosse o fator Queiroz, o dólar poderia passar por alguma realização, após acumular alta de 8% nas últimas oito sessões.

Gustavo Almeida, analista de ações da Spiti

“O mercado é uma resultante de várias notícias que estão acontecendo simultaneamente. Agora, o mercado lá fora está trabalhando na baixa. O nosso mercado, na contramão, está trabalhando na alta. Essa notícia tende a impactar conforme ela fique mais concreta. Porque uma coisa é prender uma pessoa próxima, outra coisa é, a partir dessa prisão, encontrar algo que realmente venha a comprometer o presidente. Por enquanto, isso está em uma janela de suposição e o mercado não está dando tanta importância”.

“A prisão, de alguma forma, traz um risco para o presidente. Pode ficar mais cara a aprovação das reformas, por exemplo. Então acaba que tem espaço para o mercado fazer um ajuste em função de toda a alta até então. A gente não pode esquecer do contexto envolvido. É um período de quarentena, tem ainda algumas incertezas em relação a questão de saúde, de uma segunda onda de coronavírus.”