- O movimento de valorização do real frente ao dólar foi acelerado por uma melhora na percepção do risco global após a reunião do Federal Reserve nos Estados Unidos
- Mas ainda há espaço para mais quedas, dizem especialistas. Por isso, dois eventos da semana precisam ficar no radar: a reunião do Copom e os dados do Payroll, dos EUA
Quem viu o dólar bater os R$ 5,49 no dia 21 de julho, o maior valor desde janeiro, pode ter se assustado ao perceber que, ainda assim, a moeda americana se desvalorizou 1,12% frente ao real no acumulado do mês. O desempenho foi conquistado na última semana, quando a cotação recuou 5,91% – a maior queda semanal desde novembro de 2020, segundo a Reuters. Veja o balanço completo de julho.
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O movimento de valorização do real frente ao dólar foi acelerado por uma melhora na percepção do risco global, depois que, na última quarta-feira (27), o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) decidiu elevar a taxa de juros dos Estados Unidos em 75 pontos-base; e não nos 100 bps que os mais pessimistas estavam precificando. Relembre a decisão do Fed.
“A comunicação do presidente do Banco Central norte-americano sugeriu a possibilidade de desaceleração do ritmo de alta da política monetária por lá, o que se converteu em aumento do apetite ao risco no decorrer da semana”, explica Fabricio Silvestre, economista do TC.
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A perspectiva de ajustes menos severos no radar afastou, ainda que momentaneamente, os temores de uma recessão profunda nos EUA. Com isso, os investidores estrangeiros se sentem mais propensos a fazer alocações em países emergentes como o Brasil. Mesmo se tratando de um aumento nos juros, a decisão do Fed acabou ajudando a cotação do dólar para os brasileiros.
No mercado doméstico, quem também contribuiu para a valorização do real frente ao dólar foi a Petrobras. A empresa anunciou, na sexta-feira (29), uma remuneração recorde de dividendos, de R$ 6,37 por ação – e também ajudou a atrair a entrada de capital gringo. “O início da temporada de resultados e o anúncio de volumosos dividendos por parte da Petrobras atraíram investimentos, contribuindo para o melhor desempenho do real durante a semana”, diz Silvestre.
Hora de comprar?
A queda recente na cotação pode ter acendido um alerta em alguns investidores: chegou a hora de comprar a moeda americana? Antes de tomar a decisão, alguns fatores precisam ser levados em consideração.
Na segunda-feira (1), por exemplo, o dólar já voltou a se valorizar frente ao real, com uma leve alta de 0,08% a R$ 5,17. Em comparação aos R$ 5,49 registrados há menos de quinze dias, pode parecer barato, mas ainda há espaço para mais desvalorizações no curto prazo.
O Índice Big Mac, divulgado pela revista britânica The Economist no primeiro semestre de 2022, indica que o dólar no Brasil deveria custar R$ 4,45. Veja como o cálculo é feito.
Durante esta semana, dois fatores podem ajudar: a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central na quarta-feira (3) que vai decidir sobre a taxa de juros no País, e a divulgação dos dados do Payroll, um indicador divulgado mensalmente sobre os dados de emprego nos EUA, na sexta-feira (5).
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“A cotação atual já está atrativa, sim, mas pode ser que algumas notícias durante a semana façam o dólar ficar um pouco mais barato para quem quer comprar a moeda americana. Se o Payroll, por exemplo, vir um pouco abaixo da expectativa de 250 mil empregos, o dólar pode se desvalorizar ainda mais”, afirma Anilson Moretti, head de câmbio da HCI Invest. Na casa, o patamar de suporte está em R$ 5,09 para o mês de agosto, com possibilidade de quedas maiores a depender de como o mercado americano reagirá aos dados da economia.
A notícia ruim é que não dá para prever os movimentos do câmbio. Se de um lado a volatilidade macroeconômica ajuda a amenizar a cotação da moeda americana frente ao real, de outro, o cenário de volatilidade no Brasil com a chegada das eleições pode segurar o movimento, lembra Fabio Fares, especialista em macroeconomia da Quantzed.
Por causa disso, para quem tem interesse em comprar a moeda americana ou montar posições dolarizadas na carteira, a melhor estratégia são os aportes periódicos. “É importante ir comprando aos poucos em vez de tentar adivinhar o que vai acontecer. Esperar (o momento ideal) faz também o investidor perder grandes oportunidades”, diz Fares.