Entre as 44 principais economias desenvolvidas e emergentes, o real brasileiro foi a moeda que mais se desvalorizou no ano ante ao dólar, com queda de 36,51% até o fechamento do mercado na quinta-feira (30). Na sequência aparecem o rand sul-africano (-32,27%), peso mexicano (-27,70%), peso colombiano (-20,30%) e a lira turca (-19,99).
Em meio à crise da covid-19, é normal ver as moedas se desvalorizando, mas por que a do Brasil foi a que apresentou a maior queda se a pandemia afeta todos os países? Após o dólar chegar a cotação nominal recorde de R$ 5,66, a moeda encerrou abril na semana seguinte cotada a R$ 5,49.
Para responder esta pergunta, o E-Investidor conversou com especialistas do mercado financeiro.
O que está por trás da desvalorização do real?
Segundo Mauriciano Cavalcante, diretor de câmbio da Ourominas, além da crise global causada pela pandemia de covid-19, a escalada da moeda americana no Brasil está relacionada com a recente crise política entre o Executivo e dos demais poderes, o Legislativo e o Judiciário.
“Nesse último mês, o presidente (Bolsonaro) teve enfrentamentos com Maia (presidente da Câmara dos Deputados), com os governadores, e agora com o STF (Supremo Tribunal Federal). Se tivermos uma CPI ou um processo de impeachment, o dólar pode ir facilmente para R$ 6. Os especuladores começaram a ganhar dinheiro com isso”, afirma.
Na visão dos analistas, além da crise na saúde e na economia enfrentadas por todos os países, o Brasil ainda precisa lidar com um cenário político turbulento, problemas fiscais, falta de reformas e fuga do investidor estrangeiro da bolsa de valores.
“Tudo isso contribuiu para que a desvalorização da moeda seja maior que as dos outros países”, diz Cristiano Lima, superintendente de derivativos da Ágora Investimentos.
Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Pedro Paulo Silveira, o movimento de desvalorização já acontece desde o ano passado e se intensificou mais neste ano devido aos efeitos da pandemia. “A crise veio para aumentar ainda mais a desconfiança do Brasil e descolar a desvalorização em relação ao mundo.”
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Assim, eles entendem que uma coisa foi impossibilitando a outra e hoje o país está em um impasse que não consegue resolver nada até a pandemia passar. “Não dá para fazer reformas em um momento como este para diminuir a desconfiança do Brasil e recuperar o dólar”, diz Silveira.
Lima concorda. Para ele, a dívida interna ainda mais por conta da pandemia e a impossibilidade de reformas deixa a moeda muito volátil. “Sem reformas, com cortes na taxa de juros e a crise, o real se desvalorizará ainda mais.”
Recuperação da moeda não será rápida
Logo após a demissão de Moro, a cotação nominal do dólar bateu R$ 5,66 e cravou um novo recorde. Mas, na semana seguinte, encerrou abril cotado a R$ 5,43. Para Silveira, da Nova Futura Investimentos, a recuperação do real não deve acontecer em “V”, quando ela cai e sobe na mesma velocidade. A retomada deve vir em “U”, quando ela demora um pouco mais para se valorizar novamente.
De acordo com o economista, essa valorização não significa que vamos entrar em uma trajetória positiva do real. “A melhora é uma barrigada provisória pela possível reabertura da economia e um cenário político mais calmo”, diz Silvério.
Confira abaixo a tabela das moedas mais desvalorizadas no ano:
Moedas mais desvalorizadas de desenvolvidos e emergentes frente ao dólar em 2020