Segundo o executivo, é improvável que o lucro do Santander cresça em 2025 na mesma magnitude que avançou em 2024. O motivo é o cenário macroeconômico adverso, com alta da inflação, juros elevados e cenário global conturbado. O presidente do banco afirma que o importante agora é a companhia continuar evoluindo e manter a melhora nos resultados.
“Não teremos saltos, mas vamos continuar crescendo trimestre a trimestre. No médio prazo, de alguns anos à frente, esperamos ter uma rentabilidade, medida pelo retorno sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) de 20%. Isso significa que, quando chegarmos a uma rentabilidade de 20% esse será o nosso destino final? Não, nós temos a ambição concreta de sempre elevar a rentabilidade, mas esperamos chegar a esse patamar com um lucro muito maior que R$ 10 bilhões”, afirmou Leão.
A rentabilidade do Santander, medida pelo ROE, foi de 17,4%, alta de 3,3 pontos porcentuais em relação ao mesmo período do ano anterior. Para os analistas do Citi, esse foi o grande destaque do balanço, que em linhas gerais foi misto. De acordo com os analistas, o banco apresentou melhoras nos spreads (diferença entre custo de captação e ganho com juros), mas uma desaceleração na concessão de crédito.
“Em geral, foi um trimestre com bons spreads e controle de custos, ofuscados por alguma piora na qualidade dos ativos e um crescimento anual mais lento da carteira de crédito”, diz a equipe liderada pelo analista Gustavo Schroden. “Embora a análise do trimestre do Santander tenha sido impactada pela implementação da resolução 4.966, continuamos a ver uma melhora estrutural nas tendências para o ROE.”
O Citi observa que o banco mostrou novamente cautela na concessão de crédito, o que se traduziu em tendências “mornas” para as receitas. Além disso, no comparativo trimestral, a entrada de crédito em atraso subiu, métrica que a casa considera importante monitorar nos próximos resultados. Pelo lado positivo, os analistas apontam que os spreads do Santander evoluíram mesmo diante de uma sazonalidade desfavorável. “O bom desempenho dos spreads veio de ganhos na captação, o que compensou a menor quantidade de dias”, escrevem.
Inadimplência e provisões pesaram para o Santander
Para os analistas do Bradesco BBI, o 1T25 do Santander Brasil apresentou resultados financeiros em linha, uma vez que as maiores despesas com provisões devido às novas mudanças contábeis foram compensadas por outras receitas e despesas menores em relação ao trimestre anterior. A inadimplência do Santander foi de 3,3% no primeiro trimestre de 2025, alta de 0,1 ponto porcentual em relação ao mesmo período do ano passado.
O banco também apresentou Provisões contra Devedores Duvidosos (PDD), dinheiro utilizado para cobrir os calotes dos clientes do Santander, de R$ 6,390 bilhões no primeiro trimestre deste ano, volume 5,7% maior que o do mesmo intervalo de 2024. “Embora reconheçamos uma deterioração relevante na inadimplência inicial para pessoas físicas e de 90 dias para PMEs, lembramos da sazonalidade típica do primeiro trimestre”, dizem Marcelo Mizrahi e Eric Ito, que assinam o relatório do Bradesco BBI.
Na visão do CEO do Santander, o cenário de crédito é desafiador, mas o banco não prevê que o mercado bancário e a própria companhia estejam entrando em uma crise de crédito como o todo. Ele aponta que apenas alguns segmentos estão com problemas como o agronegócio e empresas em geral. “O agro está em um ciclo difícil, em algumas das commodities, como soja e milho. Então, no agro temos uma performance pior. A boa notícia é que a gente tem bastante garantia no agro. Outro ponto é continuidade de novas Recuperações Judiciais, que batem recorde. As empresas não conseguem aguentar um ciclo de dois ou três anos de juros altos”, explica o executivo.
Sobre o cenário global, em relação ao tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o executivo disse que ainda é muito cedo para mudar qualquer estratégia e as empresas de modo geral estão esperando a definição do governo americano para poder tomar alguma escolha. Por isso, o grupo e até outras empresas do setor estão operando sem grandes decisões em relação a esse assunto.
Vale a pena comprar as ações do Santander?
Na visão de Humberto Aillon, professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (FIPECAFI), o Santander deve continuar com muita austeridade no controle de gastos, visando melhorar o ROE. Ele também estima que a companhia deve continuar a jornada de investimentos no canal digital, como uma estratégia para contrapor os avanços crescentes de concorrentes como o Nubank.
“O banco é super resiliente e possui uma estrutura de resultado bem sólida, porém tem tido dificuldade de evoluir de forma relevante em ganhar market share – logo, acredito que existam ativos mais interessantes quando avalio sob a perspectiva de valorização da ação e recebimento de dividendos”, diz Aillon.
Os analistas do Bradesco BBI Marcelo Mizrahi e Eric Ito têm a mesma perspectiva, com recomendação neutra para as ações SANB11 e preço-alvo de R$ 29 para o fim de 2025, alta de 2,11% na comparação com o fechamento de terça-feira (30), quando a ação encerrou o pregão a R$ 28,40.
O Citi também tem recomendação neutra para as ações do Santander (SANB11), e o preço-alvo é de R$ 28, indicando uma potencial desvalorização de 1,4% em relação ao fechamento de ontem. A visão geral dos analistas é de que o banco ainda tem um caminho a percorrer para mostrar que está mais atrativo que alguns de seus pares, como Itaú (ITUB4) e Banco do Brasil (BBAS3), mas para os investidores que pensam no longo prazo, vale a pena manter o papel no portfólio.