As ações da Suzano (SUBZ3) registraram a maior alta do Ibovespa nesta quinta-feira (5) após a empresa anunciar a criação de uma joint venture (cooperação entre empresas para um objetivo específico) com a Kimberly-Clark, companhia de produtos de higiene e cuidado pessoal. Os papéis saltaram 6,31%, terminando o dia cotados a R$ 52,9, depois de oscilarem entre máxima a R$ 53,15 e mínima a R$ 50,71.
Avaliada em US$ 3,4 bilhões, a joint venture ficará responsável pela produção, ações de marketing e comercialização de itens de bens de consumo como papéis higiênicos, guardanapos, toalhas de papel e lenços faciais para mais de 70 países. A Suzano irá adquirir 51% de participação da joint venture e a Kimberly-Clark manterá 49% de participação.
A empresa brasileira pagará US$ 1,734 bilhão à Kimberly-Clark pela participação de 51%, em uma transação a ser realizada em dinheiro, à vista, no fechamento da operação, que deve ocorrer em meados de 2026. O valor está sujeito a ajustes decorrentes de aspectos econômicos e operacionais usuais para esse tipo de negócio. A transação também está sujeita à aprovação por parte das autoridades regulatórias.
A joint venture terá sede na Holanda e será responsável pela operação de 22 fábricas, localizadas em 14 países da Europa, da Ásia (incluindo o Sudeste asiático), do Oriente Médio, da América do Sul, da América Central, da África e da Oceania.
Negócio é positivo para a Suzano?
Na avaliação da Ágora Investimentos e do Bradesco BBI, a notícia foi positiva, já que o negócio está em linha com as diretrizes de fusões e aquisições da Suzano e com a sua agenda estratégica de longo prazo de expansão para produtos acabados (aqueles que passaram por todos os processos de produção), o que pode diversificar seu mix de receitas.
“Também destacamos que, com as saídas de caixa da transação previstas para meados de 2026, esperamos um impacto imaterial na alavancagem, que deve atingir o final de 2026 com confortáveis 2,2 vezes a relação dívida líquida/Ebitda (lucro antes de juros, impostos depreciação e amortização)”, afirmam os analistas Rafael Barcellos, do BBI, e Renato Chanes, da Ágora.
Por outro lado, os especialistas veem como desafio a ampla gama de geografias da operação, o que aumenta os riscos de execução. Eles também observam que a transação deverá limitar a capacidade da Suzano de aumentar a remuneração dos acionistas no curto prazo.
Para o Itaú BBA, um ponto positivo foi a administração ter colocado um “freio” na agenda de fusões e aquisições (M&A) pelos próximos dois a três anos. “Consideramos isso importante, pois reduz a incerteza em torno das decisões de alocação de capital, um tema recorrente nas discussões nos últimos trimestres, que impedia investidores de estarem mais otimistas com a ação”, destaca a equipe liderada por Daniel Sasson, que assina o relatório.
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Quem também viu o negócio com “bons olhos” foi o BB Investimentos, que elevou a recomendação de neutra para compra, mantendo o preço-alvo de R$ 68 para o final de 2025. A casa acredita que a linha financeira da empresa ainda pode variar em razão das flutuações do câmbio no curto prazo, o que deve continuar levando a uma oscilação significativa do resultado líquido da Suzano e impactando o nível de endividamento. No entanto, o BB avalia que os fundamentos de longo prazo da companhia foram ainda mais fortalecidos pela joint venture, o que pode sustentar a boa performance das ações SUZB3 vista hoje.
A analista Mary Silva, que assina o relatório, observa que a operação está alinhada à estratégia de longo prazo da Suzano de crescimento com criação de valor e disciplina financeira, em negócios que tenham escalabilidade e nos quais a empresa brasileira possa alavancar sua competitividade.
O entendimento é de que a operação represente uma ampliação relevante da atuação da Suzano no mercado internacional de tissue (produtos de papéis de higiene), por meio de marcas fortes e premium. “A joint venture também contribuirá para a redução da volatilidade do fluxo de caixa consolidado da companhia, que atualmente é bastante afetado pelas oscilações dos ciclos de alta e de baixa da celulose, segmento que atualmente representa 87% do Ebitda da empresa, enquanto a demanda no segmento de tissue é mais estável”, diz.