

Ainda faltam cerca de 20 meses para as eleições presidenciais de 2026, mas o tema parece ter entrado de vez na pauta do mercado financeiro. É o que analistas estão chamando de “trade de eleição”, um posicionamento mais favorável a ativos domésticos baseado justamente na promessa de uma mudança na condução do País nas eleições de 2026.
A divulgação de novos dados de avaliação do governo reforçam esse movimento. Nesta quarta-feira (26), uma pesquisa Genial/Quaest mostrou que a taxa de reprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ultrapassa 60% em seis estados: São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Paraná, Rio Grande do Sul e Goiás, como mostrou esta reportagem do Estadão. A desaprovação cresceu acima dos dois dígitos desde dezembro em Pernambuco e Bahia, que historicamente são base eleitoral do petista.
Queda da popularidade impacta investimentos
O primeiro efeito da queda da popularidade de Lula nos mercados foi sentido em meados de fevereiro, quando a pesquisa Datafolha mostrou que a aprovação do petista caiu de 35% para 24% em dois meses. É o pior índice de seus três mandatos na Presidência. A reprovação do governo também é recorde e subiu de 34% para 41% desde dezembro.
A pesquisa foi divulgada já no final do pregão daquela sexta-feira. O dólar, que estava em queda ante o real, acelerou o ritmo até cair a R$ 5,69 pela primeira vez desde o início de novembro. O Ibovespa, que também já tinha um pregão de valorização, engrenou até terminar a sessão com um salto de 2,7%, no maior nível de encerramento desde meados de dezembro.
Para especialistas, o movimento – apesar de exacerbado – foi um ajuste natural de uma Bolsa que vinha há muito tempo sendo descontada. “Lá atrás, esperava-se que uma possível reeleição de Lula fosse factível. Mas essa queda de popularidade abrupta fez o mercado mudar a visão”, diz Marco Noernberg, head de renda variável da Manchester Investimentos.
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Especialistas explicam que a queda da popularidade presidencial reforça a expectativa de agentes econômicos que, em um cenário de baixa popularidade, as eleições de 2026 possam trazer uma mudança na agenda econômica que, até aqui, desagrada o mercado. Boa parte da queda vista na Bolsa em 2024 teve a ver com uma reprecificação negativa dos ativos brasileiros dado a piora das expectativas para inflação, juros e câmbio.
“Grande parte da situação que estamos vivendo hoje é por causa desse turbilhão de notícias que envolvem a questão das contas públicas, com o atual governo gastando mais e poupando menos. Uma mudança mais para centro-direita, que olhe para a questão econômica de contas públicas, deve ter um impacto positivo”, destaca Noernberg, da Manchester.
O problema, do ponto de vista econômico, é que esses momentos de virada costumam vir acompanhados de aumento de gastos públicos. Em um momento em que a maioria dos agentes econômicos cobra o governo para reduzir o orçamento para tentar equilibrar a trajetória da dívida – como mostramos aqui, a preocupação com o macro fez o mercado voltar a falar de “dominância fiscal”.
Para Flavio Conde, head de renda variável da Levante Ideias de Investimentos, o mercado “esqueceu” dessa possível consequência. “Foi mesmo um movimento eufórico, porque não foi tudo ponderado na balança. Querem tanto que o Lula não seja reeleito que não se importaram com a possibilidade dele gastar um monte para reverter isso.”
Cedo demais para pensar em eleição?
Os efeitos da queda de popularidade de Lula no mercado foram assunto entre os grandes gestores brasileiros no CEO Conference 2025, evento realizado pelo BTG Pactual na terça-feira (25).
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Já está impactando o mercado? Sim. Significa que o trade chegou para ficar? Eles acham que não.
“Vimos um rali de 24 horas com o Datafolha, mas provavelmente ainda está cedo demais para o trade de eleição”, disse André Jakurski, sócio-fundador da JGP.
Esta também é a avaliação de Luis Stuhlberger, sócio-fundador da Verde Asset. Na visão do gestor do Fundo Verde, o qualitativo por trás da queda de popularidade é relevante, dado que, com exceção da alta dos preços, há poucos indicadores jogando contra Lula neste momento. O problema, no entanto, está na reação do presidente até outubro de 2026.
“Vamos ver até qual limite Lula vai para melhorar a popularidade, qual será a usina de ideias ruins”, destaca Stuhlberger. Na avaliação do fundador da Verde, a esperança de mudança no governo em 2026 fará o mercado “aguentar” a piora do cenário até lá.
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