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Mercado

A visão do UBS BB sobre o futuro dos IPOs na Bolsa brasileira

Daniel Bassan, CEO da instituição financeira, também fala sobre o impacto dos juros dos EUA na renda variável

A visão do UBS BB sobre o futuro dos IPOs na Bolsa brasileira
UBS BB vê cenário incerto para IPOs no Brasil (Foto: Envato Elements)

O UBS BB vê o cenário incerto para as ofertas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês) no Brasil enquanto a Bolsa estiver barata e o Federal Reserve (Fed) não começar a cortar juros. Em entrevista exclusiva ao E-Investidor, o CEO do UBS BB, Daniel Bassan, afirma que qualquer abertura de capital feita com a Bolsa barata refletiria um preço um pouco pior que o esperado, o que não seria um valor adequado para as companhias.

“Para fazer um IPO nesse cenário, teria que ser com algum desconto, porque o investidor quer comprar algo para performar bem. E se as empresas abrem o capital com a ação muito barata, elas devem ter algum investimento melhor, o que é complicado de acontecer em um cenário de juros em dois dígitos”, explica Bassan.

Segundo ele, no momento atual o empresário prefere esperar e continuar com seu crescimento orgânico ao invés de vender sua empresa barata na Bolsa. O mercado acionário brasileiro é visto como barato pelo executivo após o Ibovespa acumular uma queda de 5% em 2024. O principal indicador da Bolsa foi de 134.185 pontos no último pregão de 2023 para 127.122,25 pontos no fechamento desta quinta-feira (2).

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Ele lembra que a frustração das expectativas do mercado é o principal motivo para a Bolsa estar barata. “Todo o mercado estava mais otimista com relação a esse primeiro semestre. A expectativa era de que o Banco Central americano começasse a reduzir juros em março e isso daria espaço para quedas de juros em todo o globo, inclusive quedas de juros maiores no Brasil”, aponta Bassan.

No entanto, nem tudo saiu como o esperado. Os dados da economia norte-americana divulgados na primeira quinzena de abril frustraram a expectativa do mercado, que esperava uma desaceleração da inflação dos Estados Unidos. No dia 10 de abril, o Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) subiu 0,4% em março ante fevereiro, acima da mediana dos analistas consultados nas Projeções do Broadcast, que previam alta de 0,3%.

Já no dia 15 de abril, os dados mostraram que as vendas no varejo nos EUA subiram 0,7% em março ante fevereiro. Segundo o consenso reunido pela FactSet, o número ficou acima das estimativas dos analistas, que esperavam uma alta de 0,4%. Ou seja, com uma economia mais acelerada e inflação acima do esperado, o otimismo do mercado de que a redução do corte de juros nos EUA começaria o mais breve possível mudou para o distante possível.

Atualmente, a taxa de juros nos EUA, o Fed Funds, está entre 5,25% e 5,5% ao ano e os juros no Brasil está em 10,75% ao ano. Bassan observa que a manutenção do juro estadunidense neste patamar pode complicar a queda de juros mais acentuada que o mercado previa no começo do ano. Ele cita que o UBS BB esperava uma Selic em 8,5% para o fim de 2024, mas essas estimativas tendem a mudar, visto que um juro maior nos EUA implica em uma redução mais lenta dos juros no Brasil.

Bassan estima que essa queda de juros mais lenta no Brasil deve acontecer para o País manter um bom diferencial entre o juro brasileiro e o americano. Pois, se o diferencial diminuir, o investidor estrangeiro vai preferir o dólar ao real, o que tende a causar uma fuga de capital para o exterior. Essa fuga de capital tende a deixar o dólar valorizado ante o real, o que pode trazer inflação para os brasileiros.

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“Com essa expectativa de que os juros demoram mais a cair aqui no Brasil, vejo que a volta de algum IPO ficou um pouco postergada. Talvez para o segundo semestre, no quarto trimestre ou para o ano que vem. Não dá para dizer ainda. Depende muito de onde o cenário americano vai parar. A única coisa que é possível dizer é que o cenário é incerto”, diz Bassan.

Ou seja, a tendência é  que a Bolsa feche o seu terceiro ano seguido (2022, 2023 e 2024) sem um IPO de grande impacto. O período sem grandes estreias acontece após a grande febre de IPOs registrada de 2020 e 2021. Nesses dois anos a B3 (B3SA3) viu um total de 74 IPOs, sendo 46 em 2021 e 28 em 2020.

O mercado atribui esse estopim às condições macroeconômicas da época, principalmente porque a taxa básica de juros, a Selic, estava em 2% ao ano. No entanto, alguns analistas criticam que grande parte dessas empresas não tinha condições de ir à Bolsa e apenas foram pelos juros baixos.

O CEO do UBS BB tem uma visão diferente. Ele classifica que o ocorrido foi um ciclo vicioso de uma espiral negativa devido a um clico de alta de juros considerado rápido, com a Selic indo de 2% ao ano para 13,75% ao ano. Essa disparada reduziu a atividade econômica. Ou seja, a empresa que esperava crescer o faturamento de R$ 100 milhões para R$ 120 milhões, cresceu a receita para R$ 110 milhões, o que frustrou o mercado.

Outro ponto levantado é que essas companhias se endividaram para financiar o seu crescimento com o juro baixo, mas que rapidamente saltou para 13,75%, o que piorou o endividamento. “Eu só classificaria que o acontecimento foi uma não concretização de expectativa que aquelas empresas tinham de crescimento. Com isso, teve um círculo vicioso: o crescimento não ocorreu, o preço da ação caiu e depois ficou mais baixo ainda, porque o mercado piorou no geral”, explica Bassan.

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Sobre a análise de novas ações, Bassan recomenda buscar os dados financeiros da companhia e sempre olhar o prospecto preliminar para saber se ele vai entrar em uma boa empresa durante o processo de IPO. “Penso que todo mundo tem que ler o prospecto, fazer sua diligência, entender as condições de crescimento da companhia e também entender as condições do mercado. Talvez, essa seja a melhor forma de encontrar uma boa empresa que está abrindo capital para investir”, salienta Bassan.