As ações da Weg (WEGE3) tombaram cerca de 15% nas duas últimas sessões de negociação, estendendo as perdas do ano para 30%, enquanto o Ibovespa sobe aproximadamente 11%. Com essa queda, o Itaú BBA vê o papel da empresa sendo negociado a 21 vezes o lucro por ação estimado para 2026 – múltiplo não visto há quase uma década, segundo o banco.
O papel não operava com um preço tão descontado desde o impeachment da presidente Dilma Rousseff em 2016. O BBA entende que o modelo de negócios da WEG está longe de estar “quebrado”, o que significa que pode ser apenas uma questão de tempo até que novas frentes de crescimento entrem em cena, reacelerando a receita e sustentando múltiplos mais altos.
“Nesse sentido, embora não vejamos motivos para investidores de curto prazo correrem para o papel, acreditamos que uma oportunidade que só surge uma vez por década pode estar aparecendo para os acionistas de longo prazo”, dizem os analistas Daniel Gasparete, Gabriel Rezende e Pedro Tineo, que assinam o relatório.
No curto prazo, no entanto, os especialistas continuam “pouco entusiasmados” com a ação, por não enxergarem gatilhos que justifiquem uma reprecificação rápida do papel. “O crescimento deve continuar abaixo dos níveis históricos, a lucratividade deve permanecer estável e discussões sobre tarifas ou desaceleração global continuam pesando na percepção de risco. A assimetria continua desfavorável tanto para lucros quanto para o sentimento em relação à ação”, avaliam.
As tarifas de Trump
Se nada mudar, os Estados Unidos devem começar a cobrar tarifas de importação de 50% sobre produtos brasileiros na próxima sexta-feira (1º). Nesse cenário, a Weg pode ser uma das empresas mais afetadas. Considerando que cerca de 7% da receita da companhia vem de exportações do Brasil para os EUA, a possível implementação das taxas deve reduzir a demanda, na visão do BBA.
Trump anunciou tarifas de 50% sobre produtos importados do Brasil. Foto: Isac Nóbrega/PR/Agência Brasil
O banco acredita que os produtos mais impactados seriam os de ciclo curto (aqueles com um período curto entre o pedido e a entrega) da linha de Equipamentos Eletroeletrônicos Industriais (EEI). “A carteira atual de pedidos cobre apenas cerca de três meses, o que reforça nossa visão cautelosa sobre o ritmo de receita até o primeiro semestre de 2026”, dizem os analistas do BBA.
Já o time do BTG Pactual enxerga riscos nas exportações de motores elétricos do Brasil para os EUA. A estimativa da casa é que as exportações de motores de baixa tensão da Weg para o país norte-americano somem até R$ 2 bilhões por ano, sendo que um salto tarifário de 10% para 50% representaria um custo adicional anual de aproximadamente R$ 809 milhões para a companhia.
Como alternativas, o BTG sinaliza que a WEG poderia transferir parte da sua produção para o México ou ampliar a produção da marca Marathon nos Estados Unidos, alternativa que tende a levar mais tempo, considerando que Weg e Marathon fabricam linhas de produtos distintas.
Mesmo com riscos, vale comprar?
O BBA mantém recomendação de compra para WEGE3, com preço-alvo de R$ 54, contra os atuais R$ 36. O banco calcula que a ação negocia com 27% de desconto em relação à média de seus concorrentes. Apesar de acreditar que uma reprecificação é improvável no curto prazo, dado o cenário de incertezas, a casa avalia que, no longo prazo, o crescimento da Weg deve retomar, com contribuições positivas vindo de duas soluções: os Sistemas de Armazenamento de Energia em Baterias (BESS) e os compensadores síncronos.
O BTG e o Santander também recomendam compra para a ação, com preços-alvo de R$ 56 e R$ 64, respectivamente. Ambos, porém, consideraram o balanço do segundo trimestre da empresa negativo. No período, a Weg apresentou lucro líquido de R$ 1,59 bilhão, aumento de 10,4% em relação ao apurado em igual período de 2024 – veja os detalhes do resultado aqui.
“De modo geral, os resultados do segundo trimestre da Weg vieram abaixo das nossas estimativas, com um crescimento mais lento do que o esperado, apesar das margens melhores”, diz o BTG.
Já o Santander relembra a mensagem vinda da empresa. “Para os próximos trimestres, a administração indicou que, embora a demanda por equipamentos industriais de ciclo longo (motores de alta tensão e sistemas de automação) permaneça forte, as incertezas geopolíticas levaram alguns clientes a adiar suas decisões de investimento.”
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Quem segue uma linha um pouco diferente no mercado são a Ágora Investimentos e o Bradesco BBI, que têm recomendação neutra para Weg, com preço-alvo de R$ 50. “A desaceleração no crescimento da receita no segundo trimestre foi significativa, com desempenho abaixo das expectativas”, avaliam.
As casas entendem que, embora parte disso se explique pela ausência de projetos de geração eólica no trimestre, o ambiente geopolítico desafiador tem afetado a demanda por equipamentos de ciclo longo, tanto no Brasil quanto no exterior, levando ao adiamento de decisões de investimento em projetos de grande porte. “Esse cenário pode levantar dúvidas sobre o ritmo de crescimento da Weg no segundo semestre”, acrescentam.