As projeções indicam faturamento de US$ 45,9 bilhões, alta de 53% em relação ao mesmo período do ano anterior. O grande foco, porém, estará no guidance da companhia para o próximo trimestre, atualmente estimado em US$ 52,7 bilhões.
Os resultados não trazem mais as explosões de crescimento vistas em períodos recentes, mas continuam impressionando pelo volume e pela performance. “Depois de cinco trimestres consecutivos com expansão de três dígitos, uma desaceleração é natural, pela lei dos grandes números. Ainda assim, estamos falando de US$ 50 bilhões por trimestre, muito acima do faturamento da companhia até pouco tempo atrás”, afirma Enzo Pacheco, analista da Empiricus Research.
Na prática, a Nvidia segue sendo uma máquina de gerar dólares. Nos últimos 12 meses, a receita da empresa cresceu 70%, com margens de lucro próximas a 60%, aponta José Victor Cassiolato, estrategista da Victrix Capital. “Não há concorrência à altura atualmente”, completa, destacando que a companhia domina 80% do mercado de data centers voltados à inteligência artificial.
Como a China afeta o resultado da Nvidia?
No resultado de hoje, um dos pontos em que os investidores vão ficar de olho tem relação com os impactos da guerra comercial com a China. No primeiro trimestre, a companhia deixou de considerar US$ 8 bilhões em vendas no país, um peso de quase 20% na receita, considerando as vendas do primeiro trimestre de US$ 44 bilhões. “Esse é o risco intangível que a empresa carrega, ainda mais negociando a 58 vezes o lucro”, diz Cassiolato.
Por outro lado, o presidente dos EUA Donald Trump voltou atrás na proibição de vendas de chips para o país asiático e liberou esse mercado parcialmente para Nvidia. Essa decisão pode ter um impacto positivo ainda neste relatório do segundo trimestre. Enzo Pacheco reitera que a companhia guiou o mercado para não esperar nenhuma venda no país neste 2T, já que havia incerteza sobre as restrições. Por isso, qualquer valor que apareça vindo de lá será visto como ganho extra. Neste caso, o analista fala num impacto positivo de até US$ 3 bilhões de receita no trimestre.
Depois de convencer Trump que vender chips à China melhoraria o nível de competitividade dos EUA na corrida pela IA, Pacheco acrescenta que Jensen Huang, o CEO da Nvidia, agora vem trabalhando junto ao governo chinês para convencer que os chips não oferecem risco de espionagem, o que pode facilitar essa retomada.
Investimentos em data centers e a IA soberana
Enquanto isso, a aposta do mercado é que os investimentos em data centers continuem compensando a perda de receita na Ásia. Meta (M1TA34) , Amazon (AMZO34) e outras gigantes já reportaram gastos bilionários em capacidade de computação, sustentando a demanda pelos chips da Nvidia.
Em 30 dias, o papel saiu de US$ 170 para US$ 180 na esteira desses anúncios das big techs , um combinado de US$ 320 bilhões para 2025, com tendência de aumento em 2026. No horizonte, há ainda o projeto de Sam Altman com SoftBank e Oracle, com previsão de US$ 500 bilhões em quatro anos. “Se metade desse valor for para a Nvidia, somado ao capex das Big Techs, a companhia pode ter quase US$ 450 bilhões de receita assegurada no período”, diz Pacheco.
O impacto negativo da China também é mitigado pela diversificação geográfica e de produtos. Uma de suas avenidas de crescimento é a chamada “IA soberana”, em que os países estão criando projetos próprios para desenvolver inteligência artificial e reduzir dependência das empresas globais.
“Nos Estados Unidos, Europa e Oriente Médio há grandes empresas de nuvem e governos investindo pesado em infraestrutura de IA“, comenta Hulisses Dias, especialista em finanças e sócio da Beginity Capital.
Novos produtos, mais crescimento para Nvidia?
Na parte de produtos, o avanço da Nvidia será testado nos próximos balanços com a chegada do novo chip Blackwell NVL72, apelidado de “Thinking Machine”. Ainda sem escala de produção, o modelo é visto como indispensável para quem disputa a liderança em IA.
Outros produtos que têm o potencial de destravar muito mais valor à companhia estão ligados à robótica. Embora ainda pouco relevante no balanço, a combinação entre IA e aplicações físicas deve abrir uma nova frente de receitas.
Essa aposta de médio prazo se baseia na visão de que os robôs passarão a ser um bem de consumo durável com larga penetração na sociedade, igual – ou maior – do que um carro. Neste caso, seu treinamento e eficiência são o grande diferencial da companhia de Jensen Huang.
Há risco de bolha na dominância da Nvidia?
A dominância da Nvidia, no entanto, também traz riscos ao mercado. “Cada 1% que a ação cai, são bilhões de dólares evaporando, com investidores precisando reposicionar portfólios. Hoje, a Nvidia já tem peso sistêmico”, diz Cassiolato.
Ele faz uma comparação com a polêmica do show do Coldplay, quando a câmera flagrou o CEO da Astronomer com a chefe de RH, ambos casados. Uma crise de imagem envolvendo Jensen Huang teria o poder de derrubar o mercado, exemplifica. “Se essa empresa cai 5% é um show de horror.”
Hoje a companhia tem um valor de mercado de US$ 4,4 trilhões e pesa 7,5% do índice S&P 500, que reúne as 500 maiores empresas dos EUA, referência global para medir o desempenho do mercado. Um balanço positivo pode puxar fornecedores como AMD (A1MD34), Broadcom (AVGO) e ASML (ASML34), além de empresas de serviços públicos (utilities) e industriais ligados à construção e operação de data centers. “Se a Nvidia vai bem, mostra que vai ter demanda para energia, infraestrutura e semicondutores, o que tende a se espalhar para outros setores”, comenta Pacheco.
Todo esse tamanho também alimenta as discussões sobre uma possível bolha. Nos anos 1990, a Cisco chegou a valer US$ 500 bilhões, negociando a 100 vezes o lucro. A Nvidia, hoje avaliada em US$ 4,4 trilhões, e com lucros crescentes, tem uma projeção de fechar o ano sendo negociada em 35 vezes.
“Bolha é quando o preço está descolado dos fundamentos. No caso da Nvidia, não é isso que vemos”, diz Pacheco. Para efeito de comparação, a Palantir (P2LT34), empresa especializada em software de análise de dados e uma das queridinhas do mercado, negocia a múltiplos de três dígitos.
Nvidia está inserida na tendência secular da IA
Cassiolato diz que o case da Nvidia está ligado a uma tendência secular e que mesmo as variáveis macroeconômicas, como a expectativa de corte de juros pelo Federal Reserve (Fed), importam menos para a companhia. “A dinâmica de crescimento dela está ligada à inteligência artificial”, diz.
Ou seja, seus fatores de crescimento tendem a continuar como estão por muito tempo, pois estão atrelados à adoção da IA e melhoria dos modelos de todos os setores da economia.
Hulisses Dias, reforça que os resultados da Nvidia já são interpretados como termômetro do crescimento dos EUA. “Num momento em que se discute corte de juros pelo Fed, um guidance otimista da Nvidia reforça a percepção de que a produtividade e os investimentos em IA podem sustentar o ciclo econômico”, diz. “Isso transborda para além da tecnologia e ajuda a alimentar otimismo em todo o mercado americano.”
Esse caráter estrutural faz com que os especialistas vejam a empresa como uma aposta de longo prazo e que já entrega muito no presente. “A Nvidia é o símbolo de uma transformação estrutural na economia, em que os investimentos em inteligência artificial já superam o consumo das famílias como principal vetor de crescimento nos EUA”, observa Dias.