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Banco do Brasil (BBAS3) revela estratégia para garantir bons dividendos em “2º semestre desafiador”. Vale a pena comprar a ação?

Presidente e diretores do banco afirmam que vão retomar a concessão de crédito para pessoa física fora do consignado

Banco do Brasil (BBAS3) revela estratégia para garantir bons dividendos em “2º semestre desafiador”. Vale a pena comprar a ação?
Banco do Brasil vai aumentar o apetite ao risco para atingir a meta de lucro e dividendos (Foto: Foto: Adobe Stock)
  • Executivos da empresa revisam projeções e apontam que 2º semestre será desafiador, mas garantem que os dividendos prometidos serão pagos
  • Banco do Brasil deve retomar concessão de crédito para a pessoa física via cartão de crédito e veículos
  • Alta da inadimplência do Banco do Brasil preocupa analistas; veja o que eles recomendam fazer com a ação

O Banco Brasil (BBAS3) reportou na noite de quarta-feira (7) um lucro líquido ajustado de R$ 9,5 bilhões no segundo trimestre de 2024, alta de 8,2% na comparação com o mesmo período do ano passado. O investidor que olha esse lucro com uma rentabilidade, medida pelo Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE), de 21,6%, fica sem entender por que as ações da companhia caem 0,08%, às 14h20, no Ibovespa hoje. Segundo o CFO do BB, Geovanne Tobias, o segundo semestre tende a ser desafiador com momentos conturbados. No entanto, o banco está confiante em sua capacidade de manter seu bom pagamento de dividendos.

“O segundo semestre será desafiador, visto que estamos vivendo momentos conturbados fora do Brasil. No entanto, não teremos nenhum desarranjo na toada dos nossos negócios e estamos confiantes na nossa capacidade de entregar as projeções (guidance) estabelecidas para 2024. Feito isso, manteremos o pagamento de dividendos conforme o prometido”, aponta Tobias.

A declaração foi feita após os executivos da companhia serem questionados pelo E-Investidor e outros veículos de imprensa sobre uma possível desaceleração da rentabilidade do BB e os impactos da alta da inadimplência sobre os dividendos do Banco do Brasil.  O indicador de calotes acima de 90 dias cresceu 0,3 ponto porcentual, indo de 2,7% no segundo trimestre de 2023 para 3,0% no segundo trimestre de 2024. Essa disparada preocupa o mercado, e é uma das principais razões para a queda das ações do BB nesta quinta-feira (8).

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Segundo Tobias, o desempenho foi impactado principalmente pela alta da inadimplência da carteira do agronegócio, que foi de 0,58% no segundo trimestre de 2023 para 1,32% no segundo trimestre de 2024. Em meio a esse avanço da inadimplência, o banco revisou suas estimativas de Provisão para Devedores Duvidosos (PDD). O dinheiro é utilizado para cobrir o calote de clientes que não estão inadimplentes.

A companhia revisou suas projeções de suas provisões da faixa dos R$ 27 bilhões aos R$ 30 bilhões para o intervalo de R$ 31 bilhões a R$ 34 bilhões. No segundo trimestre de 2024 do BB, o PDD da empresa ficou em R$ 7,8 bilhões, alta de 8,8% na comparação com o mesmo período do ano passado. No acumulado do primeiro semestre, o PDD ficou em 16,3 bilhões, avanço de 25,5%.

Para a presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros, essa inadimplência tende a cair nos próximos trimestres. Isso porque, com o novo Plano Safra, os inadimplentes tendem a pagar as suas dívidas para terem acesso ao novo crédito a ser liberado nesta próxima safra pelo Governo Federal.

Banco do Brasil sinaliza a estratégia para pagar bons dividendos

A equipe executiva do Banco do Brasil também sinalizou que o banco retomará o apetite para a pessoa física fora do empréstimo consignado. A volta do apetite ao risco é uma estratégia do banco de atingir o lucro estipulado pelo guidance, que segundo a empresa será de R$ 37 bilhões a R$ 40 bilhões. Os executivos da empresa asseguraram que a concessão de empréstimos para a pessoa física será feita ordenadamente.

De acordo com Felipe Prince, diretor de riscos do Banco do Brasil, a empresa aumentará a concessão de crédito para a pessoa física. No entanto, o foco será em créditos elevados e com boas garantias, como em veículos. Já no cartão de crédito, a iniciativa será voltada para aqueles clientes que o banco conhece bem a renda. Segundo o executivo, o banco fará o mapeamento com o uso de tecnologia. “Os nossos modelos de crédito com uso de inteligência artificial conseguem identificar clientes que têm uma renda não declarada na movimentação na conta corrente. Assim, conseguimos conceber um público com um bom perfil para a concessão de crédito”, explica Prince.

O executivo foi questionado se essa postura por tomar mais risco não seria um erro em função da alta da inadimplência registrada pela instituição financeira. Prince afirmou que o banco “não concederá crédito desordenadamente e que evoluirá nesse negócio com bastante responsabilidade”.

“Vamos respeitar a questão risco retorno desse segmento. A carteira de crédito da pessoa apresentou uma queda da inadimplência, que ficou acima de 6% no pico e agora está em 4,8%. Nós vamos, sim, crescer no cartão de crédito e fora do consignado, mas manteremos a carteira atrativa no rendimento da margem líquida”, explica Prince.

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Em meio a esse maior apetite e alta da inadimplência e provisões, o BB revisou suas previsões de margem financeira bruta. A margem financeira de um banco é equivalente à receita que ele obtém em relação ao dinheiro que pega emprestado com os investidores e o dinheiro que ele empresta para os seus clientes.

A companhia revisou o crescimento de sua receita de 7% e 11% para uma alta de 10% e 13%. No acumulado do primeiro semestre de 2024 do BB, a margem financeira bruta do Banco do Brasil acumula uma alta de 16,4%. O CFO Geovanne Tobias lembrou que mesmo com essa manutenção do guidance, a estimativa de lucro e dividendos está mantida. “Com as nossas novas estratégias e cumprindo o guidance com um lucro entre R$ 37 e R$ 40 bilhões, vamos pagar os dividendos prometidos, que devem ser de 45% do lucro da empresa”, aponta o executivo.

O que fazer com as ações do Banco do Brasil?

Para analistas do mercado financeiro, os números do BB no 2T24 foram positivos. Segundo os analistas da Genial Investimentos, o Banco do Brasil apresentou “resultados sólidos” mantendo sua boa rentabilidade, medida pelo ROE, de 21%. “Com um portfólio de produtos mais defensivos e balanceados, o banco soube atravessar lucrativamente esse ciclo de crédito, posicionando seu ROE bem acima de concorrentes privados como Bradesco (BBDC4) e Santander (SANB11)”, apontam Eduardo Nishio, Wagner Biondo, Luis Degaspari e Felipe Oller, que assinam o relatório.

Os analistas comentam que após o resultado do Banco no Brasil no 2T24 desta quarta-feira, esperam uma dinâmica similar para o segundo semestre, mas com a melhor sazonalidade de final de ano impulsionando o lucro do banco em direção ao guidance. A Genial observa que para o futuro a única dúvida que fica para a empresa são as questões de inadimplência e provisões, que estão vindo maiores que o esperado, o que forçou o Banco do Brasil a revisar suas projeções.

“Embora a inadimplência tenha aumentado, acreditamos que ela deve melhorar para os próximos trimestres com o lançamento do Plano Safra, fazendo com que os produtores em atraso fiquem em dia para aproveitar o novo ciclo de crédito. Além disso, os fortes resultados de sua controlada na Argentina, o Banco Patagônia, ajudaram o BB a revisar para cima o guidance de Margem Financeira (NII), neutralizando o efeito da piora no custo de crédito”, dizem os analistas.

A equipe da Genial Investimentos comenta que as ações do Banco do Brasil são negociadas a um preço atraente, com o valor baixo de seu valor patrimonial e com um ROE superior ao seu custo de capital. As ações estão sendo cotadas a múltiplos descontados em relação aos seus pares, com um Preço sobre Lucro (P/L) de 4,0 vezes para 2024 e 3,7 vezes para 2025.

Com base nessas estimativas, a Genial Investimentos calcula que o Banco do Brasil deve pagar 10% do seu valor de mercado em dividendos em 2024. A corretora recomenda compra para as ações do banco estatal com preço-alvo de R$ 34, uma alta de 29,28% na comparação com o fechamento de quarta-feira (7), quando a ação encerrou o pregão a R$ 26,30.

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Já Milton Rabelo, analista da VG Research, estima que a instituição financeira deve pagar cerca de 10,45% do seu valor de mercado em dividendos nos próximos 12 meses. O analista conta que tem essa estimativa para o Banco do Brasil devido aos números que a empresa vem entregando.

Para o investidor conseguir abocanhar esses dividendos do BB, ele diz que o ideal é comprar a ação até a faixa dos R$ 30,60. “O Banco do Brasil oferece um investimento muito convidativo por aliar robustos pagamentos de proventos, forte geração de lucro e valuation convidativo. Para os próximos trimestres, o banco deve manter essa boa dinâmica de resultados”, afirma Rabelo.

A XP Investimentos também gostou do resultado. No entanto, os analistas apontam preocupação com a inadimplência e provisões apontadas nas novas projeções. O indicador de calotes acima de 90 dias cresceu 0,3 ponto porcentual, indo de 2,7% no segundo trimestre de 2023 para 3,0% no segundo trimestre de 2024.

“A inadimplência geral do BB continua abaixo do setor bancário no Brasil. No entanto, como o banco não divulga indicadores antecedentes de inadimplência, ainda não avaliamos se há alguma deterioração ocorrendo em toda a carteira de crédito que justifique o aumento do guidance no nível esperado de provisionamento para o ano”, afirmam Bernardo Guttmann, Matheus Guimarães e Rafael Nobre, que assinam o relatório da XP.

Vale lembrar que a companhia revisou suas estimativas de provisões da faixa do R$ 27 bilhões aos R$ 30 bilhões para o intervalo de R$ 31 bilhões a R$ 34 bilhões, o que para a XP ainda não é plausível. Mesmo assim, os analistas recomendam compra para as ações do Banco do Brasil com preço-alvo de R$ 36,50, uma alta de 38,78% na comparação com o fechamento de quarta-feira (7), quando a ação encerrou o pregão a R$ 26,30.

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