A mais recente função de Marcelo Noronha no Bradesco (BBDC4) serve como uma amostra do trabalho pela qual o executivo é reconhecido em suas quase quatro décadas de mercado financeiro. Foi sob o comando de Noronha que o varejo do segundo maior banco privado do País simplificou a atuação no digital e acelerou a reestruturação da rede de atendimento, em uma agenda de redução de custos que ele continuará comandando – agora como presidente da companhia.
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No digital, o Bradesco atuou, ao longo dos anos recentes, com três marcas: os bancos digitais Next e Digio e a carteira digital Bitz, em uma estratégia considerada muito ampla. Em 2023, após a chegada de Noronha ao comando do varejo, o Bitz foi fechado, o Next voltou “para dentro” do banco e o Digio teve a sua atuação fortalecida nos segmentos em que não concorre com as marcas Next e Bradesco. Ao mesmo tempo, também fortaleceu o Prime, segmento de alta renda do banco de varejo.
No mundo físico, fechou mais de cem agências no último ano e enxugou a rede de unidades de negócio, uma espécie de agência mais enxuta, sem caixa ou dinheiro vivo. Tudo para controlar custos em um ano em que o segmento de baixa renda, o “coração” do Bradesco, viu a rentabilidade desabar.
Esses movimentos ajudam a explicar a boa recepção da nomeação de Noronha como presidente do banco, tanto dentro quanto fora da Cidade de Deus – bairro de Osasco, na grande São Paulo, onde fica a matriz. Visto como um executivo com “espírito de banqueiro”, ele é considerado por analistas e no mercado o nome ideal para virar a página do Bradesco. Em suma, alguém que tem o “espírito” do banco, mas com uma visão de futuro.
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Em entrevista ao Broadcast, o presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, afirmou que “a escolha do Marcelo Noronha não é por aquilo que ele já fez na organização, mas é por aquilo que ele pode realizar”.
Momento conturbado
A expectativa do mercado é que Noronha ajude a virar a página de um momento conturbado. Após acelerar fortemente no crédito para a baixa renda em 2021 e no começo de 2022, o Bradesco viu seu lucro despencar a partir do ano passado. Acabou ficando distante do rival Itaú Unibanco (ITUB4), contrariando um histórico de resultados em geral muito similares.
Para além da queda de resultados, analistas de mercado questionaram à época o que viram como uma falha de comunicação do banco. A crítica diz que o banco não soube sinalizar bem ao mercado que a inadimplência iria se deteriorar e os resultados poderiam vir piores que o esperado. Espera-se que Noronha, que tem habilidade para falar com investidores, ajude a resolver estes dois pontos.
Noronha está no banco há 20 anos, desde que o Bradesco comprou o BBVA no Brasil. Com sua nomeação, a empresa segue a tradição de nomear ao comando pratas da casa, embora a troca tenha sido abrupta para os padrões do Bradesco, que costuma mexer na diretoria uma vez por ano e sem grandes sobressaltos, apenas para que os executivos conheçam diferentes áreas do banco.
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Noronha começou no Bradesco no comando da área de cartões e conduziu negócios importantes, como a compra das operações no Brasil da bandeira American Express (AXPB34), em 2006, e a criação da empresa de maquininhas Visanet, hoje a Cielo (CIEL3), em parceria com o Banco do Brasil (BBAS3).
Um ex-executivo do banco público, que participou da estruturação da operação na época, conta que pela experiência que teve com Noronha naquele momento, acredita que ele tem o perfil certo para a mudança que o Bradesco necessita neste momento. “Ele tem braço firme”, comenta.
Discreto, mas determinado
Depois de cartões, Noronha também teve destaque na área de atacado, onde ajudou na consolidação do Bradesco BBI, hoje um dos maiores bancos de investimento do Brasil. Um ex-executivo do Bradesco diz que Noronha tem perfil discreto, mas é determinado quando o assunto envolve alcançar uma meta. Segundo esta fonte, nos corredores da Cidade de Deus, Noronha sempre era visto como potencial nome a assumir o comando do Bradesco.
O banco teve apenas cinco presidentes em 80 anos de história: o fundador, Amador Aguiar; Lázaro de Mello Brandão, o “seu Brandão”; Márcio Cypriano; Luiz Carlos Trabuco Cappi, atual presidente do Conselho de Administração; e Octavio de Lazari Junior, que está sendo sucedido por Noronha e que passará ao conselho.
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Os dois últimos começaram suas vidas profissionais no banco, no interior de São Paulo, e tinham décadas de casa. Já Noronha, assim como Cypriano, veio de um banco comprado pelo Bradesco, o BBV, por R$ 2,6 bilhões em 2003.