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Entenda por que o CEO da Robinhood está na berlinda

A corretora restringiu as negociações dos clientes na semana passada e demorou dias para se explicar

Entenda por que o CEO da Robinhood está na berlinda
Vlad Tenev, o CEO da Robinhood. Foto: REUTERS/Brendan McDermid
  • Vlad Tenev, presidente-executivo da corretora on-line Robinhood, tem prática com o controle de danos e está na berlinda mais uma vez
  • O problema veio depois que a Robinhood restringiu abruptamente as negociações de seus clientes na semana passada, em meio a um frenesi em torno de ações, como a GameStop, que foram impulsionadas para as alturas por um exército de investidores on-line
  • A Robinhood demorou dias para explicar por que estava impedindo as pessoas de negociar com ações

(Nathaniel Popper, Kellen Browning e Erin Griffith, The New York Times) – Vlad Tenev, presidente-executivo da corretora on-line Robinhood, tem prática em controle de danos. Em março, quando o aplicativo da Robinhood sofreu interrupções prolongadas, impedindo muitas pessoas de fazer transações, ele disse aos clientes: “vamos fazer melhor, devemos isso a vocês”.

Em junho, quando um jovem de 20 anos que tinha um saldo negativo de US$ 730.000 no aplicativo se matou, ele escreveu num post de blog que estava “pessoalmente arrasado” e queria melhorar a “experiência do cliente”. E, em dezembro, quando os reguladores federais multaram sua empresa em US $ 65 milhões por enganar os usuários sobre a maneira como ela ganhava dinheiro, ele disse: “as acusações não refletem a Robinhood hoje”.

Tenev, 33 anos, agora está na berlinda mais uma vez, depois que a Robinhood restringiu abruptamente as negociações de seus clientes na semana passada, em meio a um frenesi em torno de ações, como a GameStop, que foram impulsionadas para as alturas por um exército de investidores on-line. As limitações enfureceram os usuários da Robinhood, que foram impedidos de operar, e a startup de 7 anos foi atacada por parlamentares e outras autoridades, acusada de agir injustamente com os investidores comuns.

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A Robinhood demorou dias para explicar por que estava impedindo as pessoas de negociar com ações. Só mais tarde Tenev divulgou que a Robinhood havia imposto restrições porque não tinha reserva de caixa suficiente para se proteger contra as negociações arriscadas. Para aumentar essa reserva e evitar mais problemas, a Robinhood levantou US $ 1 bilhão de emergência na semana passada e mais US $ 2,4 bilhões nesta semana.

No domingo, Tenev disse a Elon Musk numa entrevista improvisada pelo aplicativo de conversa on-line Clubhouse que ele sabia que as restrições de negociação da Robinhood eram “um resultado ruim para os clientes”. Ele disse que toda a experiência foi desafiadora, “mas que, neste caso, não tínhamos escolha”.

Leia também: Empresa é confundida com rede social Clubhouse, utilizada por Elon Musk, e papéis sobem

Não foi nenhuma surpresa que a Robinhood tenha sido pega de surpresa na semana passada, disseram analistas e funcionários e ex-funcionários da Robinhood. Embora Tenev tenha ajudado a revolucionar as transações on-line para uma geração mais jovem com um aplicativo que deixa o investimento mais fácil e divertido, sua startup vem se mostrando repetidamente mal preparada para lidar com problemas tão comuns como falhas tecnológicas e tropeços no mercado, disseram eles.

Muitas outras startups passam por dores de crescimento. Mas “existe um padrão consistente que faz a pessoa questionar se sabe o que está acontecendo dentro da sua empresa”, disse Vijay Raghavan, analista da Forrester Research que cobre a Robinhood e outras corretoras, sobre Tenev.

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Parlamentares e alguns usuários da Robinhood foram ainda mais duros com o presidente-executivo. A deputada Alexandria Ocasio-Cortez, democrata de Nova York, e o senador Ted Cruz, republicano do Texas, criticaram a Robinhood por congelar a possibilidade dos usuários de comprar ações da GameStop. Tenev concordou em testemunhar sobre o assunto perante o Congresso em 18 de fevereiro.

Até mesmo alguns dos maiores promotores da Robinhood se voltaram contra Tenev. Dave Portnoy, fundador da Barstool Sports e grande apoiador da Robinhood, escreveu na legenda de uma foto de Tenev no Twitter na semana passada: “Fraude, mentiroso, lixo”.

A Robinhood, empresa privada de Menlo Park, Califórnia, se recusou a contatar Tenev para uma entrevista. Mas Jason Warnick, o diretor financeiro, disse que Tenev tem amplo apoio interno.

“Quando vi o que o Vlad estava fazendo, entendi que não havia absolutamente mais ninguém que eu gostaria que estivesse ao meu lado”, disse Warnick sobre os eventos da semana passada. “Ele nos mobilizou de um jeito incrivelmente eficaz”.

Os capitalistas de risco que apoiaram a Robinhood, avaliada em quase US $ 12 bilhões e que deve abrir o capital este ano, também disseram que confiam em Tenev. Rahul Mehta, sócio da firma de capital de risco DST Global, disse que a velocidade com que Tenev levantara o fundo de emergência de US $ 3,4 bilhões nos últimos dias “mostra o apoio geral e a confiança que as pessoas têm no Vlad, em particular”.

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Tenev, que se mudou da Bulgária para os Estados Unidos quando tinha 5 anos e cresceu na área de Washington, D.C., fundou a Robinhood com Baiju Bhatt em 2013. Os dois se conheceram quando estudavam matemática na Universidade de Stanford.

Depois de se formar em Stanford em 2008, Tenev frequentou a Universidade da Califórnia, em Los Angeles, para fazer um doutorado em matemática, mas desistiu para trabalhar com Bhatt. A dupla chegou a ter dois outros empreendimentos, incluindo uma firma de mercado em Wall Street.

Mas essas empresas tiveram vida curta. Em vez disso, inspirados pelo movimento Occupy Wall Street em 2011 – que punha a mira no poder dos grandes bancos – eles começaram a falar sobre “democratizar as finanças” para todos, acabando com as taxas que a maioria das corretoras cobrava para negociar ações. Eles a chamaram de Robinhood, em homenagem ao lendário bandido inglês que roubava dos ricos para dar aos pobres.

Dentro da Robinhood, Tenev era o programador cerebral responsável pelas operações, disseram seis funcionários e ex-funcionários, que falaram sob condição de anonimato. Ele era conhecido por se sentar na hora do almoço com os funcionários para falar sobre livros ou suas últimas teorias de ficção científica. Bhatt era uma figura mais divertida e afável, disseram eles.

Ambos eram ativos nas redes sociais, com Tenev sempre tweetando respostas engraçadas e cheias de emojis a Musk. Bhatt postava fotos deles nas suas cadeiras privilegiadas nos jogos de basquete do Golden State Warriors.

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Mas, enquanto a Robinhood crescia rápido, também cresceram os erros. Em 2018, a empresa anunciou que começaria a oferecer contas bancárias. Mas não garantiu a aprovação dos reguladores financeiros – que é prática padrão – rendendo à startup uma rápida repreensão.

Warnick e outros funcionários disseram que Tenev tinha um talento especial para manter a calma em situações difíceis.

“Ele não se entrega à emoção”, disse Warnick.

Mas cinco funcionários e ex-funcionários da Robinhood disseram que Tenev embarcou muito rapidamente em novos projetos, sem corrigir os problemas anteriores. Depois das interrupções de março, disseram eles, Tenev disse à empresa que aumentaria significativamente sua infraestrutura e suporte ao cliente. Mesmo assim, quase um ano depois, a startup não oferece um número de telefone de atendimento ao cliente, ao contrário de suas concorrentes.

A Robinhood não respondeu a um pedido de comentário sobre as questões de atendimento ao cliente.

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No ano passado, Bhatt deixou o cargo de co-presidente-executivo depois de voltar da licença-paternidade, deixando Tenev no cargo. Bhatt continua sendo executivo e está no conselho de administração da empresa.

As interrupções técnicas da Robinhood continuaram. No mês passado, o site caiu 19 vezes, mais de duas vezes mais que o Charles Schwab ou a Fidelity, de acordo com dados da empresa de rastreamento de sites DownDetector.

Até recentemente, Tenev era um cara discreto. No ano passado, ele disse numa entrevista a um podcast que deixa o celular fora do quarto à noite, para evitar a tentação de ficar de olho nas redes sociais.

Mas, na semana passada, enquanto a euforia pelas ações da GameStop crescia e a Robinhood era forçada a reagir, Tenev não teve outra escolha a não ser aparecer mais. Ele já apareceu na televisão pelo menos oito vezes, desde a sala de estar escassamente decorada da casa onde mora com esposa e filhos.

Na maioria das aparições, Tenev usou uma linguagem técnica e se lançou a falar sobre o avanço da Robinhood para um outro estágio de expansão.

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“É só uma parte padrão das práticas da indústria de corretagem”, disse ele ao Yahoo Finance na sexta-feira, referindo-se à decisão de suspender temporariamente algumas compras. “Estamos muito confiantes no nosso futuro”. (Tradução de Renato Prelorentzou)

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