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- O Beach Park informou que as falhas no fornecimento de energia causaram danos aos geradores do parque aquático. Ao E-Investidor, a Enel informou que o problema ocorreu nas instalações de responsabilidade do Beach Park e que já foi solucionado
- A situação também persiste na Grande São Paulo, onde a Enel atua como concessionária. Em novembro de 2023, 500 mil moradores ficaram sem energia por mais de 50h após temporal
- A crise de reputação da Enel adiciona ainda mais incerteza ao processo de venda da Companhia Energética do Ceará (Coelce) que foi suspenso temporariamente no fim de 2023
Desde o ano passado, a Enel Brasil enfrenta uma forte crise de imagem devido às constantes interrupções no fornecimento de energia na capital paulista. Em novembro de 2023, ao menos 500 mil moradores da Grande São Paulo permaneceram sem energia por mais de 50 horas devido às fortes chuvas e ventos de até 100km/h que atingiram a região. Os problemas voltaram ao longo deste ano em alguns bairros próximos ao centro da capital paulista.
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No Ceará, onde a Enel também atua como concessionária, o Beach Park (BP), maior parque aquático da América Latina, suspendeu as suas atividades por um dia devido às oscilações de energia na região do Porto das Dunas, localizado no município de Aquiraz, na Grande Fortaleza. Procurada pelo E-Investidor, a distribuidora informa que identificou e resolveu o problema que ocorreu nas instalações internas do complexo em um equipamento de responsabilidade do Beach Park.
Os episódios também repercutem para os investidores, especialmente, aqueles com posição nas ações da Companhia Energética do Ceará (Coelce), na qual a Enel possui 74% de participação. Os papéis afundam 19,52% no acumulado de 2024 em meio às incertezas sobre o processo de venda da companhia. Com a crise de reputação da Enel, as expectativas de retomada das negociações ficam ainda mais incertas. As negociações que iniciaram em fevereiro de 2023 foram suspensas temporariamente em novembro do mesmo ano.
Segundo Ruy Hungria, analista da Empiricus, as divergências sobre as condições de pagamento da Coelce pelas companhias interessadas ajudaram na suspensão do processo de venda. “Durante o processo, tanto a CPFL quanto a Equatorial demonstraram interesse pelo ativo, contudo, o acordo esbarrou na condição de que parte do pagamento ocorresse na renovação da concessão, gerando incertezas sobre a conclusão do negócio”, informou Hungria em relatório sobre o balanço referente ao quarto trimestre da Coelce. A licença operacional da Coelce expira em 2028. Ou seja, as negociações só irão ser retomadas quando houver uma renovação dessa licença.
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O problema é que a Enel corre o risco de perder a concessão de energia em São Paulo. Na primeira semana de abril, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, determinou a abertura de um processo administrativo para analisar a atuação da empresa no serviço de fornecimento de energia na capital paulista. Já nesta terça-feira (9), a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) decidiu manter a multa de quase R$ 165,8 milhões aplicada contra a companhia por falhas no restabelecimento de energia em São Paulo após o temporal de novembro de 2023.
“Para que o processo de venda da Coelce seja retomado, é necessário que tanto a questão da Enel SP, quanto os moldes da renovação das demais concessões do segmento, sejam pontos esclarecidos e superados”, diz Bernardo Viero, analista da Suno Research.
Falhas no serviço de energia
Em novembro de 2023, ao menos 500 mil moradores da Grande São Paulo permaneceram sem energia por mais de 50 horas devido às fortes chuvas e ventos de até 100km/h que atingiram a região. As falhas no fornecimento de energia voltaram a persistir ao longo de 2024 nos bairros próximos à região central de São Paulo.
No Ceará, os problemas são semelhantes. As oscilações no fornecimento de energia no bairro Porto das Dunas, no município de Aquiraz, na Grande Fortaleza, danificaram as instalações elétricas do Beach Park e obrigaram a administração suspender as suas atividades no dia 5 de abril. O fornecimento do serviço foi restabelecido no fim do mesmo dia após os reparos realizados pela equipes do complexo do Beach Park e da Enel Ceará.
“Essas interrupções causaram danos substanciais às infraestruturas de energia, afetando inclusive os geradores que garantem a autonomia operacional do Aqua Park”, informou a empresa em nota. “O Beach Park ainda não tem condições de estimar os prejuízos. Às sextas-feiras, o parque costuma receber entre duas e três mil pessoas. Houve prejuízos financeiros e materiais, principalmente em relação aos equipamentos, mas também comerciais e de imagem”, acrescentou.
A Enel diz ainda que o município do Aquiraz, onde está localizado o parque aquático, tem sido alvo de furtos de cabos da fiação elétrica, nos últimos meses. As ações têm impactado negativamente na qualidade do serviço na região. A companhia afirma ter intensificado os trabalhos de inspeção em campo junto com os órgãos de segurança do Ceará.
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A empresa diz ainda que foram investidos cerca de R$ 6,7 bilhões nos últimos seis anos para viabilizar a expansão da rede, melhorar a infraestrutura, construir novas subestações e implementar novas tecnologias. “Entre 2020 e 2023, a duração média das interrupções (DEC) melhorou mais de 30% e a quantidade média de interrupções (FEC) melhorou 38%. O ano de 2023 registrou um marco inédito, com um investimento de R$ 1,6 bilhão, o maior da série histórica da companhia”, diz a distribuidora.
O mesmo movimento acontece em relação à cidade de São Paulo. Segundo a companhia, foram investidos R$ 8,3 bilhões desde o momento em que a Enel assumiu a concessão. “A Enel Brasil reitera que seguirá investindo para entregar uma energia de qualidade para todos os clientes nas áreas de concessão em que atua. A companhia tem implementado um plano estruturado para o fortalecimento e modernização da estrutura da rede, ampliação da automação, além da mobilização antecipada de equipes em campo em caso de contingências”, ressaltou a companhia em comunicado.
O que fazer com as ações?
As incertezas sobre o processo de venda da Coelce são responsáveis pela desvalorização de 20% das ações da Enel na Bolsa de valores em 2024. No entanto, há analistas que avaliam a depreciação do papel como uma boa oportunidade de investimento. Hungria, da Empiricus, recomenda a compra das ações por avaliar que a companhia continua trabalhando na redução do seu endividamento, além de ter realizado a venda de outros ativos nos últimos dois anos, como a Celg-D para Equatorial Energia por R$ 1,6 bilhão em setembro de 2022.
“Ainda que o panorama presente pareça incerto e os resultados corporativos até agora não sejam os mais favoráveis, permanecemos convictos na validade desta tese de investimento e na expectativa de que a negociação alcance uma conclusão satisfatória”, informou o analista da Empiricus. A análise não é unânime no mercado. Para Viero, da Suno, uma possível venda da Coelce pode trazer uma valorização do papel, mas a demora desse processo pode pressionar ainda mais as ações.
“Essa pressão tem potencial de prejudicar o retorno anual composto do investidor, fazendo com que uma posição de tal tipo só se torne vantajosa quando houver perspectivas de pagamento de dividendos. No momento, não me parece ser o caso da Coelce”, avaliou o analista da Suno Research. A última vez que a Coelce distribuiu dividendos aos seus acionistas foi em dezembro do ano passado, quando a companhia aprovou o pagamento de R$ 0,30 por ação ordinária, totalizando um montante de R$ 23,9 milhões em proventos.
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*Com informações do Broadcast e do Estadão