CVM investiga ligação entre Banco Master, Nelson Tanure e controlador da Ambipar (AMBP3)
Para a área técnica da autarquia, fundos ligados ao Master e a Tanure atuaram conjuntamente com CEO da Ambipar para inflar ações da companhia. Procurados, Tanure preferiu não comentar. Master e Ambipar não responderam às solicitações
Banco de Brasília (BRB) pode comprar fatia relevante do Banco Master. Foto: Adobe Stock
Uma investigação conduzida pela área técnica da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) concluiu que fundos ligados ao Banco Master e ao megainvestidor Nelson Tanure atuaram em conjunto com o controlador e CEO da Ambipar (AMBP3), Tercio Borlenghi Junior, para inflar as ações da companhia entre junho e agosto de 2024. No período, os papéis saltaram mais de 700%.
As conclusões da Superintendência de Registro de Valores Mobiliários (SRE) da CVM foram publicadas na semana passada, após diretores da autarquia se reunirem para deliberar sobre o caso. Procurado, Tanure preferiu não comentar o assunto. Master e Ambipar não responderam às solicitações da reportagem.
De acordo com a SRE, a estratégia do Master, Tanure e Borlenghi foi adquirir ações de forma coordenada para valorizar a cotação dos ativos. As aquisições foram feitas por meio de três fundos de investimento: Esna, Kyra e Texas – o Master é beneficiário final do Kyra e do Texas, segundo o órgão, enquanto Tanure adquiriu cotas do Esna FIP.
Além de alavancar o patrimônio do Borlenghi e do Master, a CVM concluiu que a escalada dos ativos também favoreceu um segundo negócio: a compra da Empresa Metropolitana de Águas e Energia (EMAE) por Tanure, anunciada no fim de abril do ano passado, pouco antes do boom da AMBP3 na bolsa de valores.
Posteriormente ao arremate da Emae, a CVM diz que Tanure usou 10 milhões de ações da Ambipar como garantia para a aquisição da empresa de energia. Agora, por recomendação da SRE, a investigação deve ser encaminhada à Superintendência de Relações com o Mercado e Intermediários (SMI), área da CVM que trata de questões relacionadas à manipulação de mercado.
Em 2024, as ações da Ambipar subiram mais de 730%, movimento que surpreendeu os analistas do mercado e que foi atribuído às compras de ações realizadas pelo CEO da empresa, Tércio Borlenghi Junior, e aos fundos associados ao investidor Nelson Tanure.
O aumento da posição na Ambipar gerou, na visão de especialistas, uma movimentação conhecida como short squeeze. Ela ocorre quando investidores com posições vendidas (short) desfazem suas apostas na queda do papel e recompram a ação para zerar a posição, puxando o preço para cima à medida que outros fazem o mesmo.
Em março de 2025, o caso ganhou um novo desdobramento. A SRE determinou que o CEO da Ambipar e os fundos envolvidos realizassem uma OPA por aumento de participação na companhia. Nessa oferta, o comprador se compromete a adquirir um número determinado de ações, conforme condições previstas em edital.
As partes recorreram e o caso foi levado ao Colegiado da CVM. Na reunião de 24 de junho, o presidente João Pedro Nascimento e a diretora Marina Copola acompanharam as conclusões da área técnica e concordaram com a necessidade de realização de OPA, mas só pelo controlador Borlenghi Junior – os fundos devem responder apenas pelas compras feitas após o gatilho de ⅓ das ações em circulação ter sido atingido.
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“Ainda que a atuação de Tercio em conjunto com o Esna FIP tenha gerado a obrigação de OPA por aumento de participação, a diretora entendeu pela impossibilidade de estender a responsabilidade de realização da OPA a sujeitos diferentes do controlador da Ambipar”, diz a nota da CVM.
O julgamento foi suspenso porque o diretor Otto Lobo solicitou vista do processo. Se o Colegiado decidir que o controlador da Ambipar deve realizar uma OPA, ele terá 30 dias para apresentar o pedido de registro da oferta. Esse prazo começa a contar a partir da data em que a decisão final da CVM for divulgada.