

O novo empréstimo consignado CLT fica disponível nas plataformas de todos os bancos a partir desta sexta-feira (25). O programa, que está em vigor desde 21 de março, teve adesão em ritmos distintos entre os grandes bancos e as instituições financeiras de pequeno e médio porte, sendo que os primeiros se mantiveram ausentes das simulações nos primeiros dias de funcionamento do consignado privado.
Analistas ouvidos pelo E-Investidor comentam que a demora inicial dos bancões para entrar no empréstimo consignado destinado a trabalhadores que atuam sobre o regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) – o famoso “carteira assinada” – pode ser considerada saudável. Agora, com o programa à disposição pelos aplicativos deles, os especialistas fazem estimativas para os dividendos das maiores empresas do setor em meio aos impactos dessa nova modalidade de empréstimos.
Segundo estudo do JPMorgan do fim de março, o Agibank era a empresa que oferecia maior número de ofertas para os interessados. Conforme o levantamento, nenhum dos grandes bancos listados na Bolsa de Valores apresentou ofertas na estreia do programa. No entanto, as grandes empresas do setor — Itaú (ITUB3; ITUB4), Nubank (NUBR33), Bradesco (BBDC3; BBDC4) e Banco do Brasil (BBAS3) — foram entrando gradualmente desde então e no começo de abril. O Santander (SANB11) disse que iria entrar no programa, mas não deu grandes detalhes quando foi questionado pelo E-Investidor.
Para André Vasconcellos, professor da Trevisan Escola de Negócios, ao lidar com uma nova estrutura de crédito, é natural que instituições com maior exposição sistêmica adotem uma abordagem cautelosa. Ele diz que o consignado CLT, diferentemente do crédito para o funcionalismo público, apresenta riscos relevantes que continuam sendo calibrados: maior rotatividade do emprego formal no setor privado, dependência da estabilidade dos dados do eSocial e ausência de um histórico consolidado de inadimplência nessa nova modalidade.
Impacto do consignado CLT nos lucros e dividendos dos bancos
Procurada pelo E-Investidor, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) disse que aproximadamente 26% do público que atualmente contrata um crédito pessoal sem garantia poderia usufruir do novo produto de crédito consignado. Este público tomou atualmente R$ 83,8 bilhões emprestados de um total de R$ 322,6 bilhões do crédito pessoal no Brasil.
Milton Rabelo, da VG Research, lembra haver a possibilidade do saldo atual da modalidade quadruplicar nos próximos 4 anos, alcançando R$ 120 bilhões. O especialista diz que com a baixa exposição do Banco do Brasil e do Bradesco ao consignado CLT, é possível que esses dois bancos venham apresentar taxas de crescimento superiores na modalidade em relação ao Itaú e Santander.
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Hugo Cabral, analista da Nord Investimentos, aponta que os bancos podem ter impacto na margem financeira devido ao fato de o do consignado CLT trabalhar com um juro menor. “A medida pode aumentar a carteira de crédito do consignado, mas também o spread (diferenças entre as taxas de juros) vai diminuir, consequentemente, isso deve reduzir a margem financeira”, diz.
O analista explica que ainda não há um estudo preciso sobre a possível redução da margem financeira dos bancos, mas de modo geral, essa decisão envolve as estratégias de risco de cada banco. A instituição financeira teria um ganho com juros (spread) menor por troca de uma inadimplência menor, visto que o pagamento pelo solicitante do empréstimo é descontado diretamente em folha salarial. Assim, a adesão ao programa tende a variar conforme a estratégia de cada banco, o que justifica a abordagem cautelosa observada até o momento.
Larissa Quaresma, analista de ações da Empiricus, diz que em termos de lucros e dividendos, os impactos do consignado CLT para os bancos não devem ser tão representativos assim. Ela lembra que Itaú tem menos de 5% da carteira de crédito em crédito pessoal. Já o Santander possui menos de 6%, o Bradesco cerca de 7% e o Banco do Brasil, menos de 1%.
Ela afirma que os bancos serão obrigados a oferecer o consignado privado para aqueles clientes que têm outras linhas de crédito mais caras, principalmente aquelas sem garantia, como o crédito pessoal. “Quando o banco tem uma exposição muito grande ao crédito pessoal, ele tende a ser afetado, pois esse empréstimo será substituído por uma linha menos rentável, como a do consignado privado”, diz Quaresma.
Nubank: desafios e oportunidades com o consignado CLT
Se para os tradicionais bancos os impactos serão limitados, o Nubank pode sofrer drasticamente com o consignado privado e sentir queda da rentabilidade medida pelo Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE) no curto prazo. É o que diz o analista da Empiricus ao lembrar que o Nubank possui 30% de sua carteira de crédito focada no empréstimo pessoal. “O Nubank é um perdedor em nossa estimativa. A empresa vai ser obrigada a oferecer o consignado CLT. Desse modo, a gente espera uma queda no ROE consolidado”, diz Quaresma.
Questionada pela reportagem sobre qual seria a baixa porcentual do ROE do Nubank por causa do empréstimo consignado CLT, a especialista diz que não possui o cálculo exato. Já os analistas do Goldman Sachs comentam que não é possível afirmar que esses 30% devem migrar do empréstimo pessoal para o consignado privado. Isso porque não dá para afirmar que todos os clientes são trabalhadores do mercado formal e poderão fazer tal transição. Ou seja, para o Nubank, o impacto no curto prazo ainda se mostra incerto.
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Ao contrário da Empiricus, o Goldman Sachs vê o Nubank como o verdadeiro vencedor do consignado CLT. “Acreditamos que players com balanços patrimoniais sólidos, estruturas de baixo custo e conhecimento tecnológico podem se sair vencedores no longo prazo no crédito consignado para o trabalhador da iniciativa privada, como é o caso do Nubank”, dizem Tito Labarta, Tiago Binsfeld, Beatriz Abreu e Lindsey Shema.
Já os analistas do JPMorgan reafirmam a tese de que o Nubank pode ser beneficiado pelo empréstimo consignado privado devido às suas vantagens competitivas em relação à satisfação do serviço e à estrutura de custos. “O Nubank afirma ter uma participação de mercado de 25% na originação de empréstimos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) – embora seja difícil estimar –, e podemos vê-lo capturando uma parcela significativa dos empréstimos consignados privados também”, explicam.
Os dividendos esperados dos principais bancos
Em meio a esse cenário, o maior pagador de dividendos, segundo as estimativas, deve ser o Banco do Brasil. Milton Rabelo, da VG Research, calcula que os dividendos do Banco do Brasil devem entregar uma rentabilidade de 11% nos próximos 12 meses. Larissa Quaresma, da Empiricus, estima que o BB deve pagar cerca de 10% do seu valor de mercado em proventos nos próximos 12 meses, enquanto Hugo Cabral, da Nord Investimentos, projeta um depósito de 10% do valor de mercado do banco em 2025 e 11% do valor de mercado em 2026.
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Embora a maioria aponte que o Banco do Brasil será o maior pagador de dividendos, a Nord prefere que o investidor compre a ação do Itaú. “Vemos atualmente o Banco do Brasil negociado a um desconto de 30% em relação ao Itaú. Gostamos da tese do banco estatal e dos dividendos que ele pode oferecer. No entanto, recomendamos compra para a ação BBAS3 quando o desconto em relação ao Itaú ficar ainda maior, por volta de 70%. Fora desse ponto, nós preferimos manter o Itaú como o nosso preferido, como no caso atual”, diz Cabral.
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Essa exigência do mercado, de que o Banco do Brasil apresente desconto em relação ao Itaú, deve-se unicamente ao fato de ser um banco estatal. Caso o investidor não se importe com esse ponto, a compra do Banco do Brasil pode ser uma boa opção. Já para quem for preferir o Itaú, os analistas apontam uma projeção de dividendos para 2025 entre 8% e 11%, menor que a faixa de 10% a 11% do BB, mas sem o fato de ser um banco estatal.
Mesmo que aparente ser mais segura, a linha do empréstimo consignado CLT tende a ser neutra para os bancos tradicionais e até positiva para o Nubank. Essa conclusão dos analistas reforça a razão para os grandes bancos não entrarem com grande força na nova linha de crédito em um primeiro momento – porque a modalidade apresenta rentabilidades menores, o que poderia até reduzir ganhos de margem financeira e ROE.