- Entre 2018 e 2019, o volume de captação atingia cerca R$ 1,5 bilhão. Em 2020 e 2021, a média foi de R$ 1,35 bilhão, apontaram os dados da B3
- Com a escalada inflacionária, o Copom precisou subir os juros aos dois dígitos. Em reflexo, o cenário das ofertas mudou
- Especialistas entrevistados pelo E-Investidor acreditam que até meados de junho do próximo ano, o BC manterá os juros perto dos 13%
O mercado de ofertas públicas inicias (IPO) passou por uma montanha-russa nos últimos dois anos, principalmente pelas recentes decisões do Copom (Comitê de Política Monetária) de movimentar a taxa Selic.
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Ao encostar a taxa básica de juros nas mínimas em 2021 – valor quase nunca antes visto -, devido à pandemia da Covid-19, o Banco Central abriu portas para que companhias de menor porte conseguissem abrir capital e levantassem valores menores em relação a média dos anos anteriores.
Teodora Barone, responsável pela área de mercado de ações do UBS BB, conta que entre 2018 e 2019, o volume de captação atingia cerca R$ 1,5 bilhão. Em 2020 e 2021, a média foi de R$ 1,35 bilhão, apontaram os dados da B3.
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No ano passado, por exemplo, dentre os 68 IPOs que ocorreram, 47% captaram menos que R$ 1 bilhão, o equivalente a 32 ofertas; 14,7%, ou 10 IPOs, levantaram menos de R$ 500 milhões. Já em 2019, 9,3%, ou 3 empresas, de 32 ofertas, levantaram menos de R$ 500 milhões.
Porém, com a escalada inflacionária, o Copom precisou subir os juros aos dois dígitos e o cenário das ofertas mudou. Na prática, a Selic alta diminuí o interesse dos investidores pela renda variável, o que desencadeou em 27 desistências de abertura de capital e em apenas 2 pedidos de IPOs neste ano, apontaram os dados da CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
Especialistas entrevistados pelo E-Investidor acreditam que o BC manterá os juros perto dos 13% até meados de junho do próximo ano. A grande dúvida do mercado é em que momento o mercado de IPO voltará a ficar aquecido para os acionistas.
Ao E-Investidor, Teodora falou sobre o cenário de IPOs no Brasil nos próximos meses e quais devem ser os setores de destaques nas próximas ofertas primárias. Confira:
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E-Investidor – O mercado assistiu o afastamento do interesse dos investidores pela renda variável. Na sua visão, em que momento o mercado vai reaquecer em termos de ofertas primárias?
Teodora Barone – O UBS BB tem uma visão de um rali de mercado (quando a bolsa opera positivamente no curto espaço de tempo) bastante importante depois das eleições. Ao longo de 2023 também teremos uma visão mais clara da queda da taxa de juros e visibilidade sobre as condições da inflação no Brasil.
Historicamente, sabemos que sempre após as eleições, independentemente de quem é o candidato eleito, a bolsa tende a desempenhar em alta, entre 10% a 15%. A nossa visão é que a partir de outubro haverá um humor melhor para as companhias que estavam se preparando para conseguirem protocolar suas ofertas em 2022. A precificação com mais robustez deve ocorrer só no ano que vem.
Quais setores devem acelerar os pedidos de IPOs após as eleições?
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Barone – Os primeiros setores a serem beneficiados com um mercado mais calmo, depois das eleições, devem ser: empresas de infraestruturas, energia, saneamento, utilities (empresas que oferecem serviços de utilidade pública, como gás e energia) e indústrias. Isso porque são mercados já preparados com seus documentos para acessarem as janelas de oferta que devem acontecer entre janeiro e fevereiro.
Entre março e maio de 2022, teremos uma visão melhor sobre os juros e a inflação no País. O UBS projeta a taxa Selic a 9,25%, enquanto o Copom estima a 11%. Assim, teremos mais indicações de quando o BC começará a abaixar os juros, dando vasão para setores como doméstico, discricionário, retail, foods, shopping centers chegarem mais forte na bolsa.
O economista-chefe do UBS BB projeta juros a 13,75% até metade do ano que vem. Esse cenário, se concretizado, pode afastar as companhias de abrirem capital?
Barone – Entre 2020 e 2021, o mundo passou por um boom de liquidez global e o Brasil chegou a taxas quase que jamais vistas. Isso fez com que muitas pessoas físicas saíssem da renda fixa, o que era padrão do brasileiro, para começar sua vida nas ações.
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Muitos IPOs foram precificados a reboque desse fluxo de liquidez e isso viabilizou IPOs pequenos, a preços ainda interessantes para os fundadores. Mas esse foi um cenário muito atípico. Não acreditamos que o mercado seja dependente disso para realizar IPOs. Até porque, para o ano que vem, vemos um otimismo dos investidores estrangeiros pelo Brasil, devido à estabilidade que apresentamos se comparado com países emergentes e desenvolvidos que enfrentam inflações cavalares e câmbios desvalorizados.
Acredito que devem ocorrer cerca de 40 ofertas primárias e follow-ons, em 2023.
Podemos contar com ofertas tanto pequenas quanto grandes nos próximos meses?
Barone – Os IPOs do ano que vem serão grandes, para chamarem a atenção das casas brasileiras de renomes e de investidores estrangeiros. Os de menor valor não veremos tão cedo. Enxergo o Brasil voltando ao que era nos anos anteriores, uma média de oferta perto dos R$ 2 bilhões de reais. E os IPOs entre janeiro e fevereiro serão maiores do que isso.
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Essa quantia atrai a atenção dos investidores estrangeiros que precisam de bolsão de liquidez significativo para alocarem capital, em dólar. Para eles negociarem, a liquidez no mercado secundário precisa ser cerca de US$ 8 milhões a US$ 10 milhões de dólares/dia. Ou seja, um IPO pequeno não consegue gerar uma liquidez significativa porque, em geral, o investidor não pode ultrapassar mais de 10% de uma oferta.
Se ocorresse uma oferta de R$ 500 milhões, o investidor estrangeiro colocaria R$ 50 milhões ou US$ 10 milhões. Eles falam que é muito trabalho para pouco investimento. Ofertas que giram em torno de R$ 1 bilhão já atraem os investidores.
Veja os IPOs que aconteceram nos últimos cinco anos:
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