Leonel Andrade, presidente da CVC (Crédito: Sergio Castro/Estadão)
A pandemia de covid-19 penalizou as economias mundiais como um todo, mas um dos setores mais atingidos foi o do turismo. Na tentativa de controlar a disseminação do coronavírus, fronteiras foram fechadas e a circulação de pessoas caiu drasticamente. Com isso, toda a cadeia de fornecedores do turismo – das companhias aéreas aos hotéis e pousadas, passando pelos diversos prestadores de serviços que recebem o turista – viu sua receita cair a zero.
Quase seis meses depois, diversos países do Hemisfério Norte já flexibilizaram as medidas de isolamento, a tempo de aproveitar a temporada de verão, menina dos olhos de toda a indústria do turismo. Mas notícias sobre um novo aumento no número de casos levantam a possibilidade de uma segunda onda de covid-19, trazendo uma sinalização de cautela para o setor, inclusive no Brasil.
“O comportamento da pandemia na Europa pode se repetir aqui. Nesse caso, com a flexibilização das medidas de isolamento, também veremos um aumento do número de casos. Isso terá impacto direto no turismo, pois pode postergar ainda mais o retorno das atividades”, afirma o analista Igor Cavaca, da Warren.
Ele assinala que as empresas da área de turismo tiveram grandes perdas com a pandemia e foram um dos setores do Ibovespa que menos se recuperaram. “O mercado prevê que haverá certa demora no retorno das receitas e da lucratividade”, complementa.
Turismo doméstico deve se recuperar antes do internacional
Apesar de toda essa cautela, o setor turístico brasileiro deposita suas esperanças em uma retomada das viagens nos próximos meses. A CVC, maior operadora de viagens do País, espera que no final deste ano a demanda doméstica seja de 70% daquela registrada no mesmo período de 2019. Na Gol e na Azul, essas projeções são de 80% e 60%, respectivamente.
Já para a volta do turismo internacional, as expectativas da CVC são mais moderadas: a demanda só deve se recuperar na virada de 2021 para 2022.
“Alguns fatores, como o câmbio alto e o preço do barril de petróleo estabilizado em US$ 45 (ante US$ 40 em maio), podem fazer com que essa retomada leve mais tempo, principalmente para as companhias aéreas”, explica o analista Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos.
Embora considere que o prognóstico do setor já é bem melhor que o do início da crise, ele diz que a grande dúvida que paira é como essas empresas vão se financiar. A Azul, por exemplo, calcula que terá de queimar R$ 3 milhões de caixa por dia no segundo semestre. Uma luz no fim do túnel é a possível ajuda do governo às aéreas, por meio do BNDES.
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“O banco quer uma emissão de debêntures conversíveis, mas ainda não se chegou a um acordo. Isso poderá dar tração ao setor mais rapidamente”, diz.
Por enquanto, o que se vê são mudanças radicais no perfil do viajante, que agora só sai de casa por necessidade, nas malhas aéreas das empresas, que foram readequadas, e até nos modais mais utilizados – viajar de carro está na moda novamente.
Para o investidor, uma questão relevante é a correlação cada vez mais forte desse setor com dados externos. Qualquer notícia vinda de fora, sejam estatísticas de aeroportos nos Estados Unidos, sejam avanços na busca de uma vacina, é precificada rapidamente pelo mercado – para o bem e para o mal.
“O investidor que se predispuser a acreditar na retomada do turismo no Brasil terá que aceitar um risco maior e um nível de volatilidade superior ao de outros players“, diz Arbetman.
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Para dar um panorama mais abrangente sobre as perspectivas do setor no pós-crise, a Live E-Investidor convida o presidente da CVC, Leonel Andrade, para uma conversa nesta quarta-feira (2). Inscreva-se!