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Magnata da carne se posiciona sobre fusão que criaria gigante do setor

Marcos Molina vem preparando terreno para fusão entre Marfrig e BRF, mas há algumas etapas no caminho

Magnata da carne se posiciona sobre fusão que criaria gigante do setor
Marcos Molina pode ser o dono da quarta maior empresa de alimentos do mundo. Foto: Tasso Marcelo/ Agência Estado
  • Fusão entre BRF e Marfrig criaria a quarta maior empresa de alimentos do mundo
  • Empresas já compartilham prédio e balanço, mas a fusão deve acontecer de forma gradual
  • BRF vem apresentando perdas trimestrais consecutivas, por isso o primeiro objetivo de Molina é melhorar os resultados da companhia para depois pensar em fusão

O magnata brasileiro da carne, Marcos Molina dos Santos, não está pronto para concretizar as operações de fusão de suas duas empresas de proteínas, a BRF (BRFS3) e a Marfrig Global Foods (MRFG3). Mas pelo menos ele agora toca no assunto que vinha evitando.

Em 2019, como fundador e presidente do conselho de administração da fornecedora de carne bovina Marfrig, ele não conseguiu fechar um acordo de fusão com a especialista em aves BRF, apesar da promessa de R$ 1 bilhão em sinergias.

Agora, as duas marcas são o que Molina chama de “empresas irmãs”, depois que ele assumiu o controle da BRF – elas compartilham o mesmo prédio, balanço e têm Molina como presidente do conselho de administração. Mas as operações e as ações continuam separadas.

Em rara entrevista, Molina, aos 53 anos, disse que seu foco este ano é fazer ajustes na BRF, que viu o preço de suas ações cair depois de perdas trimestrais consecutivas. “A primeira coisa é consertar a empresa”, disse ele, sugerindo que tanto a BRF como a Marfrig devem focar em suas próprias operações este ano. “Depois disso, há movimentações estratégicas que podemos fazer no futuro.”

Uma fusão das duas empresas criaria a quarta maior empresa de alimentos do mundo em vendas, competindo com a JBS e a Tyson Foods.

Veja alguns trechos da conversa com Molina, editados e condensados por conta da extensão e para maior clareza.

Você planeja aumentar a participação da Marfrig na BRF?

Molina – Tenho uma limitação devido a uma cláusula de pílula de veneno.

Mas você poderia pedir uma dispensa dela ao conselho, certo?

Sim, poderia. Mas isso significa acrescentar uma dívida à Marfrig e o cenário é desfavorável. Ainda temos uma guerra em curso, os preços dos grãos continuam altos, as taxas de juros subiram e tivemos o caso das Americanas no Brasil que levou a condições de crédito mais rigorosas. Por último, temos agora esta crise bancária global. Não estou com pressa para fazer isso.

As ações da BRF estão sendo negociadas 70% abaixo do preço que você pagou para ter um terço da empresa…

As ações da BRF estão baratas? Não estou preocupado em tirar proveito de um ativo desvalorizado. A primeira coisa a se fazer é consertar a empresa. Depois disso, há movimentações estratégicas que podemos fazer no futuro. Mas não podemos fazer uma grande mudança em meio a esse cenário de incertezas. Toda a energia está em tornar a empresa melhor.

Então, uma fusão entre a BRF e a Marfrig é algo que se vislumbra no futuro?

Ambas as empresas têm muitas sinergias. Porém, no momento, cada uma está focada em suas atividades. São empresas irmãs. Elas começam a trocar ideias, simulações de ganhos de sinergia nos preços do frete, por exemplo. Mas agora o mais importante é não tirar o foco de cada empresa. Este ano, cada uma continuará focada em suas operações.

As empresas se beneficiam hoje de algum ganho de sinergia?

No passado, quando discutimos uma fusão, as estimativas apontavam para R$ 1 bilhão em sinergias. Mas primeiro precisamos fazer o básico para melhorar a BRF.

No quarto trimestre, a margem EBITDA da BRF foi maior do que a da Seara, sua principal rival e de propriedade da JBS, pela primeira vez em um ano. As margens vão continuar a melhorar em 2023?

Estamos voltando aos níveis de lucros de 2019, que se deterioraram devido a inúmeras razões, como o custo elevado dos grãos e os impactos da covid nas operações. Com uma nova gestão muito mais próxima do nosso perfil – que é operacional –, foram implementadas melhorias. Não podemos esquecer que a BRF passou por dois anos com os preços dos grãos em alta.

Você enxerga os preços dos grãos caindo?

Sim, vejo um cenário muito mais favorável para os custos dos grãos a partir do segundo semestre e do próximo ano.

Quando a BRF começará a ter melhores resultados?

Os resultados não vão surgir no primeiro ano. Leva de dois a três anos para recuperar uma empresa. Demoramos anos para recuperar a Moy Park e a Keystone. E vejo muito mais oportunidades na BRF do que em qualquer outra empresa que compramos no passado. É uma empresa brasileira e um negócio que já conhecemos, ao contrário daquelas outras empresas. Temos a certeza de que vamos conseguir. É só uma questão de quando.

Qual é o nível de lucro ideal para a BRF?

Nosso principal objetivo é trazer a empresa de volta às margens de lucros de cerca 15% relatadas por volta de 2015 e 2016. Mas isso também depende das condições de mercado, como o preço dos grãos e a demanda por carne. A BRF tem ativos muito valiosos no Brasil e no Oriente Médio.

Por que decidiram vender o departamento de alimentos para animais de estimação, que tem margens maiores do que outras empresas?

A BRF precisava focar em fazer o básico. É claro que a venda, que deve levantar cerca de R$ 2 bilhões, vai reduzir as dívidas. Mas ela também é positiva porque a empresa fará o básico. A BRF não tinha energia e experiência para investir em alimentos para animais de estimação e competir com gigantes como a Mars e a Nestlé. A capacidade de produção da BRF está 20% paralisada. Precisamos melhorar isso, conseguir mais com suas marcas consagradas, Sadia e Perdigão.

Há planos de vender mais ativos para reduzir ainda mais a dívida, como o departamento de margarina?

Não. A BRF não precisa vender mais ativos porque a dívida, de cerca de R$ 15 bilhões, não é tão grande em comparação com o tamanho da empresa. Decidimos vender apenas ativos não essenciais. Acabamos de vender uma fazenda inativa de um projeto antigo por R$ 110 milhões. Quando a BRF voltar a ter um desempenho adequado, a dívida cairá para um nível próximo da média do setor de cerca de 2 ou 2,5 vezes o EBITDA.

Quando se espera concluir a venda do departamento de alimentos para animais de estimação?

Provavelmente neste trimestre.

Como foi sua recente viagem à China junto com a delegação do governo brasileiro?

Tivemos a retomada das exportações de carne bovina do Brasil, o que favorecerá a Marfrig. Todas as reuniões com a Administração-Geral das Aduanas da China (GACC) foram muito boas. Com o retorno de Lula previsto para a próxima semana, é provável que o Brasil e a China encerrem as negociações. As exportações de duas fábricas da BRF ainda estão suspensas devido às restrições da covid, e estamos pedindo à China para rever isso.

Quais são as perspectivas para os frigoríficos dos Estados Unidos este ano?

Estamos otimistas. A época dos churrascos está começando [por lá] e a demanda deve melhorar. Aquelas margens de 21% (em 2021) não vão se repetir, mas devem aumentar para um único dígito ligeiramente acima de 5%. Entretanto, nos EUA, ter uma margem baixa de apenas um dígito significa que você conseguirá converter quase todo o EBITIDA em capital. É uma operação que gera muito dinheiro.

TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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