- As ações que estrearam a US$ 9 na Bolsa de Nova York em dezembro fecharam o pregão da quarta-feira (18) cotadas a US$ 3,81 – uma queda de quase 60% no valor dos papéis
- Por outro lado, para além dos fundamentos da própria empresa, o cenário macroeconômico também joga contra o Nubank. Parte da queda atual é comum a todo o setor de tecnologia, que vive um momento particularmente difícil
- Especialista acredita que os preços das ações estão bem descontados, uma oportunidade para quem quer entrar nos papéis visando o longo prazo
Desde que o Nubank foi à Bolsa de Nova York (NYSE), em dezembro de 2021, os investidores ‘fechados com o roxinho’ têm visto os papéis despencarem. Na época, a empresa foi avaliada em US$ 41,7 bilhões, carregando o título de maior instituição financeira da América Latina na frente dos grandes bancos tradicionais.
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De lá para cá, porém, as ações que estrearam a US$ 9 fecharam o pregão da quarta-feira (18) cotadas a US$ 3,81 – uma queda de quase 60% no valor dos papéis. A desvalorização foi tamanha que a fintech não só perdeu o posto de líder do setor bancário na região como, no início de maio, passou a valer 25,2 bilhões, menos que o maior banco privado brasileiro, o Itaú, hoje valendo US$ 40,6 bilhões.
“O Nubank é uma empresa que cresceu a base de clientes de forma exponencial, e conseguiu isso por meio de serviços menos burocráticos e mais eficientes no digital, além de gratuitos”, destaca Gustavo Pazos, analista de research da Warren. Apesar disso, a fintech encara uma desconfiança por parte de investidores, pois parece ter dificuldades em monetizar a base de clientes.
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Na ocasião do IPO, entendia-se que esse seria um ponto de atenção no modelo de negócio da empresa, mas talvez o mercado tenha subestimado o desafio. “O Nubank já começou valendo muito, com um valuation que não correspondia com a realidade de uma instituição que teria e tem desafios enormes pela frente”, avalia Fabio Louzada, economista, analista CNPI e fundador da escola Eu me banco.
Mesmo com as quedas recentes, a empresa segue com valor de mercado acima dos pares. Atualmente, o Nubank negocia a 4,5 vezes na relação Preço sobre Valor Patrimonial da Ação (P/VPA), enquanto o Banco Inter, uma empresa correlata, está negociando a 1,6 vezes P/VPA. “O valuation do Nubank ainda está muito acima dos pares, o que o obriga a entregar resultados e crescimentos muito melhores. Não é que a empresa seja ruim, só que o valuation ainda está esticado”, explica João Abdouni, analista da Inv.
Recentemente, outro ponto entrou no radar do investidor, dessa vez quanto à governança da empresa. O Nubank enviou à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) um formulário em que estipula um pagamento potencial de R$ 804,4 milhões aos oito integrantes da diretoria executiva do banco para 2022.
O alto valor gerou polêmica no mercado, principalmente por se tratar de uma empresa que ainda não deu lucro. Para Pazos, da Warren, o movimento foi visto de forma bastante negativa. “O principal não são nem os valores, mas a meta divulgada de manter as ações da companhia em determinados patamares. Como analista, enxergo isso de forma extremamente negativa, pois estimula a diretoria a tomar decisões de curto prazo que impactam positivamente na cotação das ações, em vez daquelas que vão gerar valor para o acionista no longo prazo”, diz.
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Por outro lado, para além dos fundamentos da própria empresa, o cenário macroeconômico também joga contra o Nubank. Parte da queda atual é comum a todo o setor de tecnologia, que vive um momento particularmente difícil desde que o Federal Reserve dos EUA elevou a taxa de juros por lá.
Como as techs são empresas de crescimento, que precisam de capital para financiar a expansão de seus modelos de negócios, o setor costuma ser o maior penalizado pela alta nos juros. É a esse fator que Lucas Ribeiro, analista de renda variável da Kínitro Capital, atribui mais de 80% do desempenho negativo do roxinho. “Todas as empresas de tecnologia boas ou ruins sofreram em algum grau e o Nubank não foge dessa regra. Quanto maior é o perfil de crescimento de uma empresa, maior o impacto da alta de juros; e a fintech é uma empresa de altíssimo crescimento”, pontua.
O balanço do 1T22
O Nubank divulgou os números de seu primeiro trimestre de 2022 na segunda-feira (16). Apesar de o prejuízo líquido ter vindo menor do que o esperado – US$ 45,1 milhões, uma melhora de 9% em relação ao mesmo período do ano passado –, a empresa apresentou um aumento na base de clientes, além de recorde de receita, que atingiu US$ 877,2 milhões, um salto de 258% na comparação com os três primeiros meses de 2021.
Mas o mercado parece não ter visto com bons olhos o resultado. Reflexo disso é a variação negativa das ações nos últimos três dias: entre a segunda e a quarta-feira (17), os papéis caíram 9,75%, 6,21% e 6,37% respectivamente. Para além do prejuízo, há um indicador acendendo uma luz vermelha nos investidores: o aumento da inadimplência.
“Em um primeiro momento, o resultado do balanço pareceu bom, já que foi o melhor trimestre em receita até aqui. Mas o que fez as ações saírem do positivo para o negativo foi um olhar mais atento para a inadimplência”, diz o economista Fabio Louzada. O índice de inadimplência acima de 90 dias do Nubank aumentou 0,7 ponto percentual do último trimestre de 2021 para os três primeiros meses de 2022, surpreendendo o mercado ao bater 4,2%.
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Isso aumenta o desafio de monetizar a base de clientes, já que a principal forma de se fazer isso, em um banco, é via concessão de crédito. “A avaliação é que a receita por cliente do Nubank vai subir via juros, o que também aumenta os riscos. O desafio é como fazer disponibilizar mais crédito sem aumentar tanto a inadimplência”, explica Lousada.
Para Abdouni, da Inv, esse não é um desafio somente do Nubank, mas do setor bancário em geral, visto a piora dos indicadores econômicos no Brasil. “O Brasil é um cemitério de bancos, não é por acaso que temos tão poucas empresas no setor”, diz. “Mas ainda precisamos acompanhar mais balanços da empresa para confirmar se esses números vão mesmo melhorar. Todas essas questões são muito recentes porque é uma empresa listada há muito pouco tempo, então não tem histórico para se avaliar a capacidade do banco como credor”.
Mas há quem olhe os resultados como um possível indicativo de que a tese da empresa segue o proposto durante o IPO em 2021. “É uma empresa que teoricamente está dando prejuízo e digo teoricamente porque ela está investindo. O lucro dela acaba amassado pelo investimento que ela está fazendo. Olhando o desempenho puramente, o Nubank caminha bem perto do que prometeu no IPO, o macro que piorou muito, especialmente no Brasil”, destaca Lucas Ribeiro, da Kínitro Capital.
E os investidores?
Quem embarcou na proposta do Nubank e comprou posições logo no IPO – como muitos brasileiros fizeram – pode estar com uma sensação amarga de prejuízo. Mas na visão dos especialistas, é melhor aguardar.
“Quem tem posição no papel precisa se questionar qual foi a tese de investimento que o levou a entrar no negócio. Para os que acreditam na proposta, a melhor opção é carregar as ações no longo prazo, porque talvez a história do banco seja de sucesso”, diz Abdouni, da Inv. Por se tratar de um ativo novo, de crescimento e, portanto, de maior risco, a orientação é não alocar mais do que 5% da carteira. Ele também sugere a quem não tem posição em Nubank aguardar mais balanços”.
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Já Louzada acredita que os preços estão bem descontados, uma oportunidade para quem quer entrar nos papéis visando o longuíssimo prazo. O economista explica que à medida que o cenário macro melhorar, o Nubank é uma das empresas com maior potencial de ‘destravar’. “Tem o risco versus retorno, e o da Nubank é positivo. O risco é grande, mas o potencial de retorno é ainda maior. Hoje eu estou neutro, mas se tiver que dar um call, estou mais para a compra. É melhor entrar no papel nesse valor atual do que quando estava em US$ 9”.