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Queda de juros abre caminho para produto financeiro sofisticado. Veja opções

Viés de queda da Selic instiga bancos e corretoras a criarem novos produtos e serviços para oferecer ao mercado

Queda de juros abre caminho para produto financeiro sofisticado. Veja opções
(Foto: Envato Elements)
  • Com tendência de queda dos juros, as instituições financeiras se movimentam para atrair novos investidores
  • Bancos e corretoras começam a retrabalhar seus produtos e serviços, para torná-los mais atrativo à nova realidade
  • Contratos e operações de proteção, private equity e venture capital fazem parte do pacote

O Federal Reserve (Fed, banco central americano) manteve, no último 1º de novembro, a taxa básica de juros da economia no intervalo entre 5,25% e 5,50% ao ano. No mesmo dia no Brasil, o Comitê de Política Econômica (Copom), do Banco Central (BC), cortou a Selic em 0,5 ponto porcentual (p.p.), para 12,25% ao ano.

A autoridade monetária brasileira mostrava disposição em reduzir a taxa básica de juros da economia – a Selic – e o mercado já precifica um novo corte de 0,5 p.p. na reunião do Copom de dezembro, reduzindo a taxa para 11,75% ao ano e encerrando 2023 nesse patamar – se a previsão da grande maioria do mercado estiver correta.

Acontece que mesmo em trajetória de queda o juro segue em patamares elevados e uma das consequência disso está na perda de atração da renda variável, principalmente da Bolsa de Valores, o que leva o investidor para a renda fixa em busca de retorno e proteção diante de um cenário de incerteza. O juro em menor patamar, portanto, deixa o investidor global com mais apetite a risco.

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O viés de queda da Selic que se vê no Brasil instiga bancos e corretoras a prepararem novos produtos e serviços para oferecer ao mercado, alguns deles ditos “sofisticados”.

Uma das casas que anunciou mudanças em sua prateleira foi a Mirae Asset Brasil, com sede na Coreia do Sul. A corretora pretende colocar ao alcance do investidor ativos com exposição ao mercado norte-americano e europeu. “Posteriormente também na Ásia. Tudo depende de licenças que já foram solicitadas”, diz Eric Martins, head de Varejo.

Em janeiro de 2024, a Mirae terá operações estruturadas com derivativos, com opções de ações. Desta forma, o cliente que possui uma carteira com Petrobras (PETR3; PETR4) ou Vale (VALE3), por exemplo, e que deseja uma proteção, poderá fazer uma operação com esse viés, por meio de derivativos.

Produtos sofisticados

A Mirae irá trabalhar com:

  • Fence – estratégia de baixo custo no mercado de opções para proteger um ativo contra queda. O fence limita o ativo de sofrer uma desvalorização muito notável mas, em troca, limita uma possibilidade de alto ganho do papel.
  • Collar – nesta operação o investidor adquire uma opção de call (compra), que cria um preço máximo para a compra do ativo, e uma put (venda), que fixa um limite de proteção contra perdas.

Ao tratar do varejo brasileiro, Martins destaca que este se desenvolveu bastante, mas ao comparar o número atual de investidores com o tamanho da população, o que se vê ainda é um porcentual muito pequeno. Ele diz acreditar que com a retomada do crescimento da economia e o esforço dos agentes de mercado no trabalho de educação financeira, com o tempo, naturalmente, mais brasileiros vão se interessar por investimentos e sairão da poupança.

Entretanto, esse viés de mercado depende, em boa parte, da economia brasileira. Os bancos de investimento esperam que os juros caiam mais e que o País veja sua produção crescer. Projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no Boletim Focus divulgado dia 6 de novembro pelo Banco Central projeta avanço de 2,89% da economia do País ao final deste ano. Também projeta crescimento de 1,50% em 2024 e 1,90% em 2025.

A Mirae tem 50 mil clientes e R$ 15 bilhões sob custódia. A corretora projeta atingir R$ 40 bilhões no prazo de 18 meses. “Mas isso se as condições macroeconômicas ajudarem”, ressalta Martins.

Private Equity e Venture Capital

O head de renda variável da Veedha Investimentos, Rodrigo Moliterno, explica que quando o cenário está favorável costumam aparecer todos os tipos de produtos, desde os créditos privados aos fundos de private equity e venture capital, em que o investidor tende a ter retornos maiores. O primeiro diz respeito a investimento em empresas consolidadas e o segundo, a ao apoio de empresas iniciantes.

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“Com o juro cedendo, o varejo tende a buscar outras alternativas no que tange a risco e retorno. O investidor aceita tomar um risco um pouco maior para obter maior retorno”, destaca, acrescentando que do lado dos grandes bancos e gestoras todos querem atrair essa população para pulverizar sua base de investidores. Grandes plataformas como XP e BTG Pactual (BPAC11) têm como nicho a atração desse público (varejo).

  • Private Equity – tipo de aplicação que pode ser feita diretamente por empresas, instituições, fundos de investimento ou investidores individuais. Por meio desse instrumento, as empresas recebem um aporte de capital privado para financiar suas operações.
  • Venture capital – também chamado de capital de risco, é um tipo de investimento em empresas normalmente iniciantes, de porte pequeno ou médio. Quem recebe esse tipo de recurso costumam ser startups, com baixo ou nenhum faturamento ainda.

Taxa cai, interesse aumenta

Para Phil Soares, chefe de análise de ações da Órama, o corte de juros é muito relevante no mercado financeiro, pois aumenta o interesse por parte dos investidores individuais por outros produtos. “Se a taxa de renda fixa estiver mais baixa, o investidor começará a se interessar por outros investimentos, porque aquela remuneração está sendo insatisfatória para ele”, explica.

Conforme o especialista, a Órama vê as ações como principal instrumento para se beneficiar do ciclo de queda de juros. Então, para a corretora, ação é, também, um instrumento sofisticado, por mais que esteja se popularizando. “Além disso, consideramos que é bem interessante para o investidor individual, principalmente para quem quer se beneficiar do fechamento de curva, mas, além disso, a gente tem COE (Certificados de Operações Estruturadas) e Opções”, frisa.

Ele afirma que a força do público de varejo se mostra em locais muito específicos. “Hoje, nosso ambiente de investimentos está dominado pelo investidor institucional. A gente ainda tem um varejo incipiente no Brasil e, em casos específicos, se consegue fazer preço, mas não é sempre”, pontua.

COE e Opções

  • Certificado de Operações Estruturadas (COE) – produto que une ativos de renda fixa e variável em um só lugar. Esse tipo de investimento pode ter um Certificado de Depósito Bancário (CDB) e uma cesta com diversas ações, por exemplo.
  • Opções – instrumentos negociados no mercado financeiro. Elas representam um contrato que dá ao seu titular o direito de comprar ou de vender um ativo por um valor previamente determinado e em uma data específica do futuro.

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