A empresa alemã BioNTech (BNTX) vem colhendo bons frutos desde que anunciou, em março, o desenvolvimento de uma vacina para covid-19, em parceria com a norte-americana Pfizer.
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Nesta quarta-feira (1), a notícia de mais resultados positivos em testes com o imunizante experimental movimentou, novamente, os papéis da biofarmacêutica alemã, negociados na Nasdaq (EUA), e animou bolsas de valores pelo mundo todo. A presença da BioNTech na corrida pela vacina, inclusive, já fez o preço de suas ações mais que triplicaram, desde o seu IPO em outubro do ano passado.
A estreia foi com os papéis negociados a US$ 14,24. Em março, a cotação atingiu o pico de US$ 92. Na quarta-feira, chegou a US$ 77,70, antes de recuar até US$ 64,14, queda de 3,84% em relação ao dia anterior.
De altas e baixas frequentes tem sido o desempenho das ações das diversas companhias de capital aberto envolvidas na disputa para quem vai anunciar primeiro a vacina que pode pôr um fim na pandemia provocada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2). A cada nova notícia, positiva ou negativa, dos passos dessas empresas tem impactado nas bolsas ao redor do mundo.
Afinal, quem é a BioNTech?
Fundada em 2008, a BioNTech é uma empresa de imunoterapia, como se define, da próxima geração. A biofarmacêutica, com sede em Mainz, no sudoeste da Alemanha, é pioneira em novas terapias para o câncer e outras doenças graves. E a tecnologia de ponta foi o argumento utilizado para levar os papéis da empresa para a Nasdaq, em outubro do ano passado.
Apesar de não ter alcançado os US$ 264 milhões almejados no IPO de 10 de outubro de 2019, a companhia conseguiu arrecadar em torno de US$ 150 milhões, depois de reduzir o preço da oferta para próximo de US$ 15. Mesmo com o saldo abaixo do esperado, segundo a Forbes, a BioNTech atingiu uma avaliação de mercado de US$ 3,4 bilhões.
Após a abertura de capital, o papel foi conseguindo ganhar peso a partir de dezembro de 2019. Mas foi com o anúncio da parceria com a Pfizer, em 17 de março deste ano, que o preço da ação disparou para US$ 66,60. No dia seguinte, em 18 de março, a cotação atingiu seus recorde histórico e fechou o pregão em US$ 92,00, um crescimento de 546% em relação aos tímidos US$ 14,24 do IPO.
CEO da BioNTech é turco criado na Alemanha
Ugur Sahin é um dos milhões de turcos que foram para a Alemanha em busca de uma vida melhor. Hoje com 54 anos, ele se mudou para o território alemão da infância, quando os pais conseguiram emprego na fábrica da Ford em Colônia. Sahin se formou em medicina na Universidade de Colônia, onde conheceu sua mulher, Oezlem Tuereci.
O casal decidiu fundar a BioBTech em 2008. O foco era desenvolver terapias para tratamento de câncer com vacinas personalizadas, capazes de ensinar as células a atacar o tumor presente no organismo.
A mudança de foco para o combate ao covid-19 ocorreu em um fim de semana de janeiro, quando ele leu um artigo sobre o vírus na revista científica The Lancet e percebeu que uma pandemia com potencial de fechar escolas estava a caminho.
“Na segunda-feira seguinte, ele chegou para a sua equipe e, embora a maioria deles fosse oncologista, os colocou para trabalhar no desenvolvimento da vacina”, disse em entrevista Thomas Strüngmann, empresário alemão do setor farmacêutico que desenvolveu projetos em parceria com Sahin.
Pfizer vai investir US$ 1 bilhão no desenvolvimento da vacina
Em fervereiro, Sahin procurou Kathrin Jansen, chefe de pesquisas e desenvolvimento de vacinas da Pfizer, para oferecer uma parceria no desenvolvimento da vacina. Jansen topou e Pfizer assumiu o compromisso de investir US$ 1 bilhão no projeto, incluindo um pagamento adiantado de US$ 185 milhões.
Em junho, o Banco Europeu de Investimentos aceitou investir outros 100 milhões de euros, em duas parcelas de 50 milhões a serem liberadas de acordo com a evolução das pesquisas.
“Os investimentos que fizemos para desenvolver nossa plataforma de vacinas ao longo de 12 anos nos permitiram responder rapidamente à crise global com o início do programa de vacina contra a covid-19. Este financiamento nos permitirá atingir o próximo estágio de desenvolvimento do tratamento contra a covid-19”, disse o diretor financeiro e de operações da BioNTech, Sierk Poetting.
Como a BioNTech está na corrida pela vacina para covid-19?
Mais de 100 vacinas estão sendo testadas em todo o mundo, em estágios diferentes, e com técnicas diferentes, o que muda a posição e a atratividade entre investidores. Mesmo trabalhando em parceria, a BioNTech tem conseguido uma valorização superior à Pfizer. Enquanto as ações da farmacêutica norte-americana (PFE), listada na Nyse (EUA), caíram 10,44% em 2020, as ações da empresa alemã quase dobraram de tamanho neste ano, com crescimento de 94,52%.
A norte-americana Moderna Inc., considerada uma das mais próximas da vacina, todavia, tem vivido um 2020 ainda melhor que a BioNTech. A biofarmacêutica, sediada em Massachusetts, mostra um crescimento de 198% no ano, ante uma queda de 2,62% no último mês. A briga das gigantes se dá também no campo científico, já que ambas utilizam a mesma técnica para chegar à vacina por meio de RNA mensageiro (mRNA).
Como funciona a vacina da BioNTech?
Assim como a Moderna, a BioNTech busca um caminho diferente das técnicas tradicionais no desenvolvimento da sua candidata à vacina para covid-19. As biofarmacêuticas apostam no uso de mRNA, que tenta transformar as células do corpo em “fábricas de medicamentos”.
De uma forma geral, a maior parte dos estudos tradicionais parte da lógica de injetar no corpo de pacientes proteínas ou o próprio vírus, seja ele morto ou atenuado, para que o organismo possa produzir uma resposta imunológica contra o invasor.
Na técnica adotada pela BioNTech e Moderna, os cientistas trabalham com uma só parte do vírus, o mRNA, que carrega a instrução para o corpo produzir a proteína spike, presente no SARS-CoV-2. Caso o organismo, já com as proteínas spike, reconheça a presença da proteína do vírus, ele passa a produzir os anticorpos para combater o invasor.
O êxito neste método será um enorme avanço, já que imunizações baseadas em mRNA licenciadas para a comercialização e aplicação em pacientes.