- A Mercuria Energy Group Ltd., uma trader de commodities, fechou um acordo para adquirir US$ 36 milhões em cobre de um fornecedor turco
- Quando a carga chegou à China, o que ela tinha em mãos eram pedras pintadas
- A polícia turca mantém 13 pessoas sob custódia para investigar o esquema de cobre falso
(Andy Hoffman/WP Bloomberg) – A Mercuria Energy Group Ltd., uma trader de commodities, fechou um acordo para adquirir US$ 36 milhões em cobre de um fornecedor turco. Mas quando a carga chegou à China, o que ela tinha em mãos eram pedras pintadas.
Leia também
A saga se desenrola como um thriller de gangues, com a trading suíça afirmando que foi vítima de fraude com a carga. Antes mesmo da jornada de um porto perto de Istambul para a China começar, cerca de 6.000 toneladas de cobre em mais de 300 contêineres foram trocadas por pedras de pavimentação dentadas, pintadas com spray para se parecer com o metal semi-refinado.
O caso bizarro destaca a vulnerabilidade à fraude dos traders de commodities, mesmo quando os controles de segurança e inspeção estão em vigor. Entre 2014 e 2015, a Mercuria se protegeu com provisões para cobrir perdas potenciais depois que o metal contido em um depósito no porto chinês de Qingdao foi apreendido pelas autoridades como parte de uma investigação de fraude.
Publicidade
Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos
A polícia turca mantém 13 pessoas sob custódia para investigar o esquema de cobre falso. A Mercuria, um dos cinco maiores negociantes independentes de petróleo do mundo, está buscando a reparação nos tribunais turcos e abriu um caso de arbitragem no Reino Unido contra a Bietsan, o fornecedor de cobre. Também foi apresentada uma queixa criminal formal à polícia turca, com promotores alegando substituição de carga e fraude de seguro. As autoridades devem determinar quem é o responsável.
Várias ligações para os escritórios da Bietsan em Tekirdag não foram atendidas.
“Foram mantidos sob custódia suspeitos de envolvimento nesse crime organizado contra a Mercuria”, disse a Mercuria, que tem sede em Genebra, em um comunicado por escrito em que agradece ao Departamento de Crimes Financeiros de Istambul.
O enredo deste thriller de fraude
A história foi reunida a partir de documentos legais, entrevistas e relatórios da mídia local. Em junho de 2020, a Mercuria concordou em comprar cobre da Bietsan, um fornecedor turco com o qual já havia feito negócios, de acordo com Sinan Borovali, o advogado da trader na Turquia. Parece que o cobre foi inicialmente carregado na primeira remessa de contêineres, antes de ser averiguado por uma empresa de inspeção. Selos usados para evitar fraudes foram, então, colados nos contêineres.
Mas, sob o manto da escuridão, alega-se que os contêineres foram abertos e o cobre substituído por pedras de pavimentação, disse o escritório de advocacia KYB Borovali, de Istambul. Os fraudadores colocaram lacres falsos e reais de forma alternada nos contêineres num esforço para evitar a detecção.
Como os navios saíam do terminal de Marport, no porto de Ambarli, em intervalos de poucos dias, a mesma operação se sucedeu nos dias seguintes: o cobre era secretamente descarregado à noite e substituído por pedras pintadas. “Foi assim que eles fizeram”, disse Borovali.
Publicidade
Com as embarcações no mar, a Mercuria pagou US$ 36 milhões em cinco parcelas, sendo o último pagamento realizado em 20 de agosto de 2020, segundo documentos fornecidos pela trader de commodity a investigadores turcos. A fraude não foi descoberta até que os navios começaram a chegar ao porto chinês de Lianyungang no final daquele mês. Àquela altura, todos os oito navios estavam a caminho da China.
“Há uma investigação criminal do comprador contra o vendedor e dois intermediários”, disse a polícia turca em comunicado. “Está determinado que o incidente é resultado de fraude perpetrada de forma organizada”.
Normalmente, em casos de não entrega, a trading pode fazer uma reclamação contra a apólice de seguro de uma carga. Mas a Mercuria descobriu que apenas um em cada sete contratos usados pela empresa turca para segurar a carga era real. O resto foi forjado.
Os 13 suspeitos de fraude foram presos em março de 2021 em uma série de operações policiais. Alguns, desde então, foram autorizados a deixar a custódia e colocados em prisão domiciliar, de acordo com relatórios da agência de notícias local.