- A desativação da rede de cobre deve economizar R$ 1 bilhão anualmente
- Venda de ativos não essenciais pode adicionar R$ 6,5 bilhões ao caixa
- Analista sugere que demais empresas de telecomunicações seguirão esse modelo
A recente movimentação da Telefônica Brasil (VIVT3) para migrar do regime de concessão para o de autorização na telefonia fixa pode disparar o gatilho de novas oportunidades para investidores interessados em dividendos. A transição, que aguarda aprovação final pelo Tribunal de Contas da União (TCU), deve possibilitar à empresa uma atuação mais flexível, eliminando as exigências de universalização que atualmente impõem à companhia a manutenção de infraestrutura em áreas pouco rentáveis.
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A partir do novo regime, a Telefônica — que em solo brasileiro faz negócios com a marca Vivo – poderá desativar sua rede de cobre, substituindo-a pela infraestrutura de fibra óptica, uma tecnologia mais moderna e eficiente, que deverá gerar uma economia anual estimada de R$ 1 bilhão ao reduzir custos operacionais e de manutenção. Essa mudança, explicam especialistas, possibilitará à Telefônica Brasil investir em serviços alinhados às novas necessidades dos consumidores, além de impulsionar a digitalização do País com o uso das tecnologias mais avançadas.
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Procurada, a Telefônica disse por nota que o acordo permitirá a migração de um modelo regulatório ultrapassado, que ainda impõe obrigações relacionadas a serviços em declínio, como os orelhões e a infraestrutura de cobre – alvo constante de roubos e vandalismo –, para um modelo mais moderno.
Como parte do acordo com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), a empresa deve investir R$ 4,5 bilhões nos próximos dez anos para manter o serviço de telefonia fixa em cidades prioritárias até 2028. Ao mesmo tempo, a expectativa de ganhos com a venda de ativos não essenciais, incluindo a infraestrutura de cobre desativada e imóveis ociosos, pode adicionar R$ 6,5 bilhões ao caixa da companhia, fortalecendo a capacidade da Telefônica de distribuir dividendos em maior valor aos acionistas.
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Para analistas da XP, a mudança de regime representa um potencial de valorização atrativo para a Telefônica Brasil. Os analistas estimam que o impacto positivo da transição possa agregar um valor presente líquido (VPL) de aproximadamente R$ 8,5 bilhões, o que equivale a cerca de 9% do valor de mercado atual da companhia, avaliado em R$ 91 bilhões. A XP recomenda a compra das ações VIVT3, com um preço-alvo de R$ 64, projetando um aumento de 22,9% no valor dos papéis em comparação com o fechamento da última quarta-feira (13), cotados a R$ 52,06.
A mudança do regime de concessão para o de autorização na telefonia fixa é vista por estrategistas, como Ruy Hungria, analista da Empiricus Research, como um marco para destravar valor e elevar os dividendos da Telefônica. “Ajuda a Vivo a direcionar recursos para outros segmentos que têm muito mais importância pensando no presente e futuro”, diz. Hungria pontua que os segmentos 5G e fibra ótica devem ser beneficiados e acrescenta que eles não são bons para a companhia apenas, mas têm papel fundamental em uma sociedade cada vez mais conectada.
Reforço na política de dividendos da Telefônica Brasil
Para os acionistas, a expectativa é positiva: com a redução de despesas operacionais e o possível ganho com a venda de ativos, a VIVT3 poderá reforçar sua política de dividendos, segundo Hungria. Embora a empresa ainda não tenha detalhado o impacto exato dessa transição, ele acredita que “a companhia poderá investir em segmentos que têm mais longevidade e rentabilidade, o que é positivo pensando em lucros no longo prazo”. Além disso, ele acrescenta que a mudança deve resultar em uma maior geração de caixa e, consequentemente, dividendos mais interessantes para os investidores.
Já presente na carteira de dividendos da Empiricus, a VIVT3 é vista como uma ação atrativa para investidores focados em renda, especialmente com um dividend yield (retorno de dividendos) em torno de 8%, observa o analista. “A Vivo tem um negócio estável e um dividend yield elevado, que ainda deve ser ajudado por recompra de ações e reduções de capital”, diz. Para o analista, a mudança para o regime de autorização potencializa a atratividade do papel.
Acílio Marinello, sócio-fundador da Essentia Consulting, vê a transição como um movimento estratégico de grande importância, não apenas para a companhia, mas também para todo o mercado de telecomunicações. “Acredito que as demais empresas do setor vão seguir o mesmo caminho, uma vez que há agora essa prerrogativa com a Anatel. É algo que vai beneficiar não somente as empresas, mas os acionistas e também os consumidores”, afirma Marinello.
Ele observa que a rede de telefonia fixa hoje, basicamente, já não é bem utilizada. “E não somente o acompanhamento do próprio cabeamento, mas aqueles prédios enormes que vemos, onde ficam as estações de processamento de telefonia fixa, são estruturas muito grandes e custosas”, analisa. Para ele, essa mudança pode transformar ativos obsoletos em fontes de receita, ao possibilitar que a Vivo monetize sua infraestrutura existente.
Assim como Hungria, ele se mostra enfático ao dizer que a economia que a Telefônica poderá ser repassada para os acionistas em forma de dividendos. Isso, explica ele, deixa o papel mais atrativo, aumenta o valor para os investidores e também pode trazer mais flexibilidade para que a empresa invista em outros segmentos, principalmente na telefonia celular, já com os primeiros ensaios para a rede 6G.
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O que Marinello quer dizer é que a maior geração de caixa também deve abrir novas perspectivas para a VIVIT3 expandir sua rede de 5G, um mercado promissor e estratégico. “A ampliação da rede 5G é o que realmente monetiza o negócio, com a transmissão de dados em alta velocidade, o consumo de dados. Acho que abre mais perspectivas para que a empresa tenha mais capacidade financeira para investimentos em linhas de produtos e serviços que tragam mais receitas para o negócio”, comenta Marinello.
Vale a pena investir na Telefônica?
Para o professor e economista Paulo Mendes, especialista em finanças pela Faculdade Getulio Vargas (FGV), embora o processo de transição ainda envolva dúvidas quanto ao modelo de monetização da infraestrutura de telefonia fixa, como a venda de ativos, ele acredita que o impacto para os consumidores será positivo. “O cliente se beneficia também nesse aspecto. A Telefônica terá mais capacidade de oferecer outros serviços substitutos, como a telefonia por IP e a telefonia por fibra ótica”, ressalta, afirmando que não há riscos de descontinuidade do serviço, já que o regulador manterá a qualidade do atendimento.
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Em relação à política de dividendos, tanto Mendes quanto Marinello destacam que a mudança impactará positivamente a distribuição aos acionistas. Segundo eles, a empresa já está adotando medidas, como a convocação de uma assembleia para propor a redução de seu capital próprio em R$ 2 bilhões, o que será repassado para os acionistas. “Eu acredito que essa economia vá, sim, beneficiar, melhorar a política de dividendos e alavancar o repasse desses dividendos aos acionistas”, diz Mendes.
Mendes afirma que não tem dúvidas sobre o valor de investir na Vivo em busca de dividendos. “Eu aposto, sim, no investimento na Telefônica em busca de dividendos. As notícias discutidas aqui trazem uma perspectiva positiva para o aumento de ganhos em dividendos, inclusive com um processo de redução do capital próprio da empresa em prol dos investidores.”
Em contraste, Marinello não recomenda a TIM (TIMS3) neste momento, por exemplo. Ele diz que, embora a operadora tenha apresentado lucros acima do esperado no terceiro trimestre de 2024, enfrenta dificuldades operacionais e problemas de rentabilização de sua base de clientes. “A TIM tem tido dificuldades com despesas operacionais, aumento no custo da audiência e com rentabilização da sua base de clientes ativos. Neste momento, entre as duas, aposto na Vivo e não iria para a TIM”, completa.
Questionada sobre como devem ficar os dividendos após a migração, a Telefônica Brasil (VIVT3) não quis se pronunciar sobre o assunto.