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ESPECIAL: De startup valiosa à falência. O que aconteceu com a WeWork?

Fruto da euforia do capital de risco em Wall Street, a empresa já foi uma das startups mais valiosas do mundo

ESPECIAL: De startup valiosa à falência. O que aconteceu com a WeWork?
(Foto: Envato Elements)

Fruto da euforia do capital de risco em Wall Street, a WeWork foi de uma das startups mais valiosas do mundo, com valuation de US$ 47 bilhões, à falência. Além de problemas de gestão que levaram ao afastamento do seu polêmico fundador, Adam Neumann, a crise histórica no mercado de escritórios a reboque da pandemia e os juros altos ajudaram a desmantelar a promessa de um império do setor imobiliário global e que chegou a ser a maior locatária de Manhattan.

Depois de muita especulação em torno da sua condição financeira e até da venda do negócio, a WeWork recorreu a um pedido de proteção na corte de New Jersey, o chamado ‘capítulo 11’, equivalente à recuperação judicial no Brasil, na noite da segunda-feira, dia 06. A empresa, com sede em Nova York, reportou à Justiça americana um total de US$ 18,6 bilhões em dívidas contra US$ 15 bilhões em ativos.

A WeWork contava com 777 espaços distribuídos em 39 países ao fim de junho último. Com o pedido de recuperação judicial nos EUA, a empresa pretende solicitar também o reconhecimento do processo no Canadá. Apesar disso, afirmou que os franqueados em todo o mundo não serão impactados.

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No Brasil, a WeWork desembarcou em 2021 por meio de uma joint venture com o gigante japonês Softbank por meio do seu fundo com foco na América Latina, o SoftBank Latin American Fund. A empresa possui 32 unidades próprias no País e trocou o comando no início do mês com a promoção de Bruna Neves, que liderava o negócio de marketplace do grupo.

Em nota, a WeWork LATAM, que congrega os seus negócios na América Latina, afirma que o pedido de recuperação não impacta suas operações na região. Segundo a empresa, nada muda para os membros nem mesmo nos serviços, assinaturas e acesso aos edifícios onde opera na região. Além do Brasil, a empresa está presente no Chile, Colômbia e México.

“Queremos assegurar que as recentes notícias sobre o pedido de recuperação judicial da WeWork Inc. nos Estados Unidos não afetam os negócios da WeWork na América Latina”, afirmou a WeWork LATAM, em posicionamento.

Amarelo piscante

O pedido de recuperação judicial era aguardado em Wall Street desde a última semana e ocorre após meses de negociação com credores em torno de um plano de reestruturação do negócio. No dia 02 de outubro, a empresa deixou de pagar juros a detentores de bônus, o que acendeu a luz amarela no mercado.

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Antes do pedido de recuperação judicial, a notícia de uma oferta da gestora Cole Capital turbinou as ações da WeWork no pregão de ontem, que chegaram a ser suspensas na Bolsa de Nova York (Nyse) por essa razão. “A empresa foi o produto de um boom e, durante os booms, os investidores ignoram as luzes de alerta piscantes”, diz o diretor de fundos de ações da Hargreaves Lansdown, Steve Clayton.

O império começou a desmoronar em 2019, quando a empresa teve uma tentativa frustrada de listar as suas ações na bolsa de Nova York. Na ocasião, a WeWork buscava emplacar um valuation de US$ 47 bilhões, mas prejuízos e a desconfiança de Wall Street com as métricas financeiras do negócio impediram a operação de prosperar.

“Métricas financeiras inovadoras raramente são verdadeiramente inovadoras, sendo, em vez disso, uma forma de disfarçar a falta de lucros, e a WeWork jogou esse jogo com toda a sua força”, diz Clayton, da britânica Hargreaves Lansdown.

Segundo ele, “CEO carismático” é um termo que deveria causar medo a qualquer investidor. A grande raiz para as crises da WeWork é associada ao seu fundador Neumann, cuja história polêmica rendeu até série de TV. Ele, que lançou o negócio em 2010, deixou o comando do em 2019 após pressão de investidores, com o Softbank assumindo o controle da empresa.

Além de seus problemas de governança, a WeWork foi afetada pela crise no setor imobiliário por conta da pandemia, que mudou as formas de trabalho e tornou o home office obrigatório. Apesar da volta aos escritórios, a empresa não conseguiu superar as pressões financeiras em um ambiente de juros altos e do modelo híbrido de trabalho que passou a vigorar em todo o mundo.

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Em 2021, a empresa conseguiu emplacar uma abertura de capital por meio de uma fusão com uma empresa de “cheque em branco” ou de propósito específico de aquisição, a chamada Spac, na sigla em inglês. Já sem Neumann no comando, conseguiu estrear em Wall Street valendo US$ 9 bilhões, bem abaixo dos US$ 47 bilhões almejados na tentativa anterior. Desde então, a cifra encolheu para menos de US$ 45 milhões.

Em paralelo ao pedido de recuperação judicial, a WeWork informou que conseguiu fechar um acordo com cerca de 90% de seus credores para converter empréstimos e bônus em ações da companhia, o que elimina cerca de US$ 3 bilhões em débitos.

O acordo é visto como a nova aposta do Softbank para tentar salvar o negócio que já consumiu bilhões de dólares do gigante japonês. Vai depender, porém, das negociações das obrigações de arrendamento de longo prazo. Ao fim de junho, a cifra era de US$ 13,3 bilhões, o que equivale a mais de 70% de sua dívida total.