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Abertura de capital da Coinbase sinaliza nova era para criptomoedas

A listagem direta da casa de câmbio digital na Nasdaq é um teste do apetite do público por moedas digitais

Abertura de capital da Coinbase sinaliza nova era para criptomoedas
Em abril, a corretora de criptomoedas Coinbase entrou para a história como o primeiro grande player do setor a realizar uma oferta pública inicial de ações (IPO). Foto: REUTERS/Shannon Stapleton
  • A Coinbase fez história na quarta-feira (14), quando se tornou o primeiro grande player de criptomoedas a abrir o capital, com uma avaliação de US$ 85,8 bilhões
  • Embora o interesse em moedas virtuais tenha disparado - o mercado dobrou desde janeiro e ultrapassou os US$ 2 trilhões, o cenário está repleto de riscos
  • A Coinbase oferece uma gama de serviços financeiros relacionados a criptomoedas e tem como objetivo "criar um sistema financeiro aberto para o mundo", de acordo com o material informativo apresentado à Comissão de Valores Mobiliários dos EUA

(Taylor Telford/The Washington Post) – A Coinbase fez história na quarta-feira (14), quando se tornou o primeiro grande player de criptomoedas a abrir o capital, com uma avaliação de arregalar os olhos de US$ 85,8 bilhões e que leva o mercado de moeda digital para mais perto do mercado de moedas tradicionais.

A listagem direta da casa de câmbio digital, com sede em São Francisco, na Nasdaq é um marco e um teste do apetite do público por moedas digitais. No ano passado, a criptomoeda foi adotada por marcas como Tesla e Square, enquanto gigantes de Wall Street como Goldman Sachs e Morgan Stanley tomaram medidas para oferecer Bitcoin e outros ativos digitais aos investidores, segundo a CNBC.

A Nasdaq deu à Coinbase – que é negociada sob o ticker “COIN” – um preço-base de US$ 250 por ação na terça-feira. A plataforma estreou a US$ 381 na quarta-feira, chegando a valer US$ 429 antes de o preço recuar. Ela encerrou o dia em US$ 328,28.

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“A Coinbase não é apenas uma aposta em criptomoedas, elas são uma peça-chave do ecossistema criptográfico global”, disse Dan Ives, diretor-gerente de pesquisa de ações da Wedbush Securities. “Basicamente, a forma como o IPO da Coinbase aconteceu e sua recepção são importantes para muitas outras empresas que estão potencialmente acompanhando a criptografia. Não se limita apenas à Coinbase.”

Embora o interesse em moedas virtuais tenha disparado – o mercado dobrou desde janeiro e ultrapassou os US$ 2 trilhões, o cenário está repleto de riscos. Criptomoedas são conhecidas por sua volatilidade e os legisladores têm expressado uma necessidade urgente de regulamentação para combater a atividade criminosa. Em 2020, os mercados globais da “dark net” geraram um recorde de US$ 1,7 bilhão em receita com criptomoedas, de acordo com a Chainalysis.

A Coinbase oferece uma gama de serviços financeiros relacionados a criptomoedas e tem como objetivo “criar um sistema financeiro aberto para o mundo”, de acordo com o material informativo apresentado à Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC, na sigla em inglês). No final do ano passado, a Coinbase tinha 43 milhões de usuários em mais de 100 países, além de 7 mil instituições financeiras e de varejo em sua plataforma. A plataforma tem cerca de 1.700 funcionários e US$ 1 bilhão em caixa.

As fortunas da Coinbase estão estreitamente alinhadas com o Bitcoin, que mais do que dobrou de valor desde o início do ano e cresceu além da marca de US$ 63 mil pela primeira vez na terça-feira (13). A casa de câmbio digital, que obtém mais de 95% de sua receita de taxas de transação, arrecadou US$ 1,3 bilhão no ano passado, enquanto o Bitcoin tinha ascensão meteórica.

“Ainda é vista por muitos como uma proposta arriscada e por bons motivos”, escreveu Danni Hewson, analista financeiro da AJ Bell, em um comentário na terça-feira. “Mas também se tornou parte da conversa global sobre dinheiro.”

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Cerca de um terço dos adultos em todo o mundo – 1,7 bilhão – não tem conta em bancos, de acordo com o Banco Mundial. Mas o acesso global aos serviços financeiros está aumentando nas economias de baixa e média renda, de acordo com a pesquisa de acesso financeiro de 2020 do Fundo Monetário Internacional (FMI). Os avanços conquistados para trazer mais pessoas para o sistema financeiro é parcialmente devido a “inovações como serviços financeiros digitais, incluindo pagamento por celular”, disse a pesquisa, que focou principalmente na África Subsaariana e na Ásia.

Ucrânia, Rússia, Venezuela e China lideraram o mundo na adoção de criptomoedas em 2020, de acordo com pesquisa da Chainalysis. Cerca de um terço das pequenas e médias empresas dos EUA aceitam criptomoedas como pagamento, de acordo com uma pesquisa da HSB de 2020.

Em uma carta que pode ser lida no material informativo da empresa, o CEO Brian Armstrong diz que a Coinbase poderia ajudar a promover uma maior liberdade econômica criando um sistema financeiro mais acessível que complementasse, em vez de substituir, a economia tradicional, “como o e-mail fez com as correspondências de papel”.

Armstrong foi cofundador da Coinbase com Fred Ehrsam em 2012 (os dois se conheceram no Reddit). Agora, a estreia da Coinbase na bolsa pode colocar Armstrong entre as 100 pessoas mais ricas do mundo, dada sua participação de 20% na empresa. Ele era o 404º na lista da Forbes, com um patrimônio líquido de cerca de US$ 6,5 bilhões, antes da abertura de capital da Coinbase.

“As pessoas estão usando a criptomoeda para ganhar, gastar, economizar, apostar, pedir emprestado, emprestar… empresas estão sendo financiadas, conquistando clientes iniciais e, em algum momento, abrirão o capital, tudo em blockchain”, escreveu Armstrong na carta. “A criptoeconomia está apenas começando.”

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A Coinbase reconhece no material informativo que existem riscos à frente, “muitos dos quais são imprevisíveis e, em certos casos, estão fora de nosso controle”. Eles incluem as incógnitas do ambiente regulatório, assim como a dependência da empresa da criptomoeda, sua capacidade de “atrair, manter e aumentar” sua base de clientes e concorrência em potencial.

A criptografia emergiu mais forte depois que os golpes devastadores nos negócios nos primeiros dias da pandemia levaram muitos investidores a buscar ativos fora do sistema financeiro tradicional. Também ganhou espaço pela histeria ou euforia (dependendo de para quem você perguntar) que caracterizou as negociações em 2021, começando com a disparada vertiginosa das ações da GameStop depois que investidores prometeram levar o varejista em dificuldades “para a lua”.

O Bitcoin ganhou as manchetes, mas outras moedas digitais também dispararam: Ethereum, a segunda maior criptomoeda em capitalização de mercado, subiu 221% no acumulado do ano, de acordo com a Coindesk. A Dogecoin, uma moeda baseada em meme, que foi criada como uma piada, está mais de 2.700% mais cara do que os iniciais 13 centavos por ação. O CEO da Tesla, Elon Musk, usou sua conta no Twitter para se tornar o maior apoiador de Dogecoin – potencialmente se colocando de volta na mira da SEC ao fazer isso.

“Levando em conta o que aconteceu antes até hoje, tudo exposto à criptografia estava se recuperando”, escreveu Ed Moya, analista financeiro da OANDA, em um comentário na quarta-feira. “O Bitcoin tem sobrevivido a anos de ceticismo e a estreia da Coinbase na bolsa é um aviso claro de que as criptomoedas vieram para ficar.”

Desde sua criação em 2009, o Bitcoin tem passado por grandes ciclos de alta e baixa, e muitos analistas acreditam que outro estouro da bolha seja inevitável. Em uma nota de pesquisa, a UBS Global Wealth Management alertou os clientes que “evidências empíricas” sugerem que uma maior participação entre os investidores institucionais pode aumentar a volatilidade “devido à sua estratégia de investimento mais oportunista”, relatou a Markets Insider.

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A Coinbase registrou mais de 261 milhões de ações para a listagem. Mas sua avaliação massiva é mais um reflexo de “ostentação e exagero” do que riqueza, disse David Trainer, CEO da New Constructs, que observa que ela era uma empresa de US$ 8 bilhões há apenas três anos atrás. Ele acha que a Coinbase deve ser avaliada em torno de US$ 19 bilhões.

“Eu evitaria cair no frenesi das ações meme a respeito do que provavelmente seja uma boa empresa”, disse Trainer, “mas na avaliação proposta não está nem perto de ser uma boa ação”.

O relatório de lucros do primeiro trimestre da Coinbase causou admiração entre alguns investidores: a casa de câmbio digital obteve receita de US$ 1,8 bilhão. Isso é mais do que alcançou em todo o ano de 2020. Ela hospedou US$ 223 bilhões de ativos na plataforma, representando 11,3% do mercado de criptomoedas.

A Coinbase é um pilar do moderno ecossistema criptográfico, mas não há garantia de que possa manter a posição se o apetite por criptomoedas continuar a aumentar. Ela já enfrenta a concorrência de outras plataformas de câmbio digital e empresas de serviços financeiros digitais como PayPal e Robinhood.

“As avaliações nos estágios iniciais de um setor emergente são extraordinárias”, disse Trainer, “mas no final do dia, se alguém está obtendo margens realmente altas, isso significa que outra pessoa pode chegar e obter participação de mercado com uma margem inferior e ainda ser muito lucrativo”.

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A escolha de fazer uma listagem direta na Nasdaq, em vez de arrecadar dinheiro em uma série de eventos por meio de uma oferta pública inicial tradicional, combina com a imagem de caixinha de surpresas da Coinbase. No mês passado, Armstrong e outros executivos foram ao Reddit para uma sessão de “Pergunte-me qualquer coisa” de três dias, respondendo a perguntas a respeito de tudo, desde planos de ações até a posição da Coinbase em relação a NFTs (tokens não fungíveis). / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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