- Questões da política nacional devem atrair mais a atenção dos investidores. A PEC Kamikaze dominou não só o noticiário político, mas também repercutiu nas análises do mercado financeiro
- Para os analistas consultados pelo E-Investidor, nenhum dos dois candidatos que despontam nas pesquisas, Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL), parece preocupado com a estabilidade fiscal do País durante a pré-campanha
- Para proteger a carteira, é melhor dar preferência a empresas de setores "perenes" e ficar atento às boas oportunidades que devem surgir
O principal assunto da semana em Brasília foi a aprovação da chamada PEC Kamikaze na Câmara dos Deputados, estabelecendo uma série de benefícios financeiros à população, como a ampliação do Auxílio Brasil, voucher para caminhoneiros e vale gás – uma manobra fiscal vista como uma tentativa de aumentar a popularidade do governo enquanto a inflação alta penaliza a população de baixa renda.
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O movimento é acompanhado com bastante desconfiança e preocupação pelo mercado financeiro pelos custos que deve trazer à economia do País e mostra que a as eleições presidenciais de outubro finalmente chegaram à Bolsa, em meio ao que pode ser uma “tempestade perfeita”.
“As eleições estão caminhando em paralelo com uma das maiores crises do tempo recente, uma inflação nos Estados Unidos que não víamos há 40 anos, guerra na Ucrânia e sequelas econômicas da covid-19”, diz Ricardo Jorge, sócio da Quantzed, empresa de tecnologia e educação para investidores.
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As questões da política nacional devem atrair mais a atenção dos investidores, já que a PEC Kamikaze também repercutiu nas análises do mercado financeiro. O receio maior é que o pacote de benefícios aprovado piore a situação fiscal do País e obrigue o Banco Central a manter os juros em alta por mais tempo.
E essa incerteza já chegou à Bolsa, mesmo que de forma indireta, diz Fernando Siqueira, Head de Research da Guide Investimentos. “Medidas como a PEC Kamikaze só foram viabilizadas de forma tão rápida por causa das eleições e têm um impacto fiscal elevado e negativo nos prêmios de risco. Isso acaba impactando a Bolsa, ainda que de uma forma indireta”, explica.
O fiscal é o tema que mais preocupa analistas e investidores quando o assunto é eleição presidencial. Até aqui, as pesquisas mais recentes indicam que, pelas porcentagens de intenção de voto, a disputa pelo cargo de presidente da República está entre o ex-presidente Lula (PT) e o atual presidente Jair Bolsonaro (PL).
Para os analistas consultados pelo E-Investidor, nenhum dos dois parece preocupado com a estabilidade fiscal do País durante a pré-campanha.
“O medo das eleições tem a ver com o candidato eleito ter uma política econômica de gastos maiores, o que puxaria os juros para cima e faria a economia ficar pior. Mas a gente já está tendo isso antes (das eleições), já que para ganhar o atual governo está prejudicando o fiscal, gastando demais”, pontua Bruce Barbosa, sócio-fundador da Nord Research.
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Rodrigo Luis, gestor de renda variável da Somma Investimentos, reforça que os pacotes de auxílio do governo Bolsonaro turbinados pela PEC Kamikaze afetam a percepção de risco do País, o que faz os juros futuros subirem e o real se depreciar frente ao dólar, movimento que tira a atratividade da Bolsa.
O gestor ainda destaca que as falas de Lula contra o teto de gastos também assustam parte do mercado. “Falar em abolir teto de gastos sem explicitar qual seria a âncora fiscal traz um componente de incerteza sobre o futuro das contas públicas. E o investidor, tanto local, quanto externo, quer e precisa de um ambiente previsível do ponto de vista econômico e jurídico”, ressalta Luis.
Com esses aspectos sendo acompanhados com cautela pelo mercado, a tendência é que a Bolsa irá conviver com a sombra do risco político nos meses que antecedem o pleito, programado para outubro. A volatilidade deve aumentar à medida em que novas pesquisas eleitorais, entrevistas ou planos de governo sejam divulgados.
“A eleição não direciona a Bolsa, o que ela traz é volatilidade. Vão ser dias com amplitudes maiores e sem direção. Quanto mais próximo da eleição, mais as notícias e pesquisas farão preço nos ativos”, afirma Felipe Vella, analista de valores mobiliários da Ativa Investimentos.
Os setores que mais devem sofrer
Com a perspectiva de que a volatilidade causada pelo período eleitoral se acentue ainda mais, investidores podem estar preocupados com as suas carteiras. Principalmente em um momento em que a Bolsa já está bastante penalizada por fatores macroeconômicos internos e externos. Mais do que nunca, pode ser a hora de buscar uma proteção.
Até a chegada das eleições, algumas empresas e setores podem sair mais prejudicados. As companhias estatais, por exemplo, costumam entrar no foco dos debates, que vão desde a defesa de maior interferência do Estado até a privatização, a depender do candidato.
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Por causa disso, empresas como Petrobras, Banco do Brasil ou Sabesp, por exemplo, podem sofrer mais volatilidade, aponta Fernando Siqueira, da Guide.
Outras empresas, porém, podem ser opções mais defensivas para o período. Principalmente aquelas cujo desempenho depende menos das ações do governo. “Você deixa de comprar uma blusa ou um computador no Magazine Luiza, mas não deixa de pagar energia elétrica, a sua conta de saneamento básico ou utilizar os serviços bancários”, explica Felipe Vella, da Ativa Investimentos.
O analista destaca que uma boa alternativa pode ser apostar nestes setores mais ‘perenes’ compondo a carteira de forma diversificada com empresas sólidas. “Essa já é uma maneira super simples de se proteger da volatilidade no período de eleição. Bancos, empresas de energia elétrica, saneamento básico, seguridade e telefonia”, diz.
Por mais que o cenário esteja incerto, os analistas concordam em dizer que a volatilidade das eleições abre boas oportunidades de investimento para quem tiver paciência para prazos mais longos.
Com a Bolsa descontada, empresas de qualidade vão negociar a preços mais baixos, mesmo que continuem com seus modelos de negócio intactos e sólidos.
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“Períodos de turbulência têm uma função dupla. Ao mesmo tempo que trazem grandes variações de preço, criam boas oportunidades. Empresas de qualidade que não necessariamente têm muito a ver com as questões que estão levando às variações de preço ficam descontadas”, ressalta Gustavo Akamine, analista da Constância Investimentos.