Comprar passagens aéreas para o exterior quando o dólarestá subindo, como nas últimas semanas, ou esperar por uma queda no câmbio? Essa é uma decisão que precisa ser tomada após análise de uma série de fatores, que envolvem tanto a situação financeira pessoal como a de mercado, explicam os analistas ouvidos pelo E-Investidor.
A dúvida dos viajantes surge porque a maioria das passagens aéreas internacionais é cotada em dólar, o que significa que qualquer variação na moeda americana afeta diretamente os preços pagos pelos consumidores brasileiros. Quando o dólar está alto, as passagens tendem a ficar mais caras, tornando as viagens internacionais mais onerosas. Isso acontece porque os custos operacionais das companhias aéreas, como combustível e manutenção, também são influenciados pela moeda americana.
Para o consultor financeiro da W1, Rafael Gonçalves, o ideal é analisar cuidadosamente e não focar apenas no câmbio atual, mas planejar a viagem com o máximo de antecedência se for possível. “Se o orçamento é limitado, sugerimos optar por viagens domésticas. No entanto, para quem já planejou antecipadamente, comprou dólares antes ou está disposto a pagar mais caro pelo câmbio, é viável manter a viagem internacional”, diz.
Mas o diretor de câmbio da Ourominas, Elson Gusmão, aconselha a espera se houver expectativa de que o câmbio melhore. Para isso, uma das estratégias é monitorar e aguardar, desde que o viajante esteja preparado para lidar com qualquer variação futura no câmbio. “Vai depender muito do tipo de viagem e se o passageiro poderá esperar. Se o passageiro puder aguardar mais um pouco, eu recomendo, pois acredito que o dólar está muito esticado”, afirma.
Preço das passagens aéreas para o exterior oscila nas últimas semanas
Numa simulação de compra feita pela reportagem, algumas passagens aéreas praticamente dobraram o preço quando comparado às semanas em que a cotação do dólar estava mais baixo. É o caso de uma viagem de São Paulo a Barcelona para 31 de agosto, ida e volta, que custava R$ 4.575 há duas semanas, quando o câmbio já começava a mostrar alta. Agora, o preço subiu para R$ 9 mil.
Em contrapartida, para a mesma data, em simulação de compra para Nova York, o bilhete, nesta quarta-feira (3), dia em que o dólar operou em queda de 1,70%, caiu para 5.593. Na terça-feira (2), no entanto, quando a moeda americana bateu a máxima de R$ 5,70, as mesmas passagens atingiram a maior alta dos últimos 60 dias: R$ 6.835.
A universitária Fernanda Machado, de 23 anos, planeja viajar no fim deste mês para fazer intercâmbio intensivo de língua inglesa em Londres, mas a alta dos preços, recentemente, pode mudar os planos dela. “Passei os últimos meses estudando os preços das passagens aéreas para determinar o valor que eu precisaria ter com custos de toda a viagem. O que antes era uma leve oscilação nos preços, agora está o dobro”, diz.
O diretor financeiro da agência de turismo Mundi, Daniel Soares, diz que é normal a oscilação dos preços nas passagens aéreas quando o dólar está alto. “Porque a moeda não fica estabilizada. Ela oscila também. Ou seja, nesse sobe e desce do dólar acontece algo semelhante aos preços das viagens”, conta.
E agora? Compro ou não passagem aérea para o exterior?
Se você já tem datas definidas e precisa garantir as passagens com antecedência, pode ser melhor comprar mesmo com o dólar alto para garantir os melhores horários e preços disponíveis, aconselham especialistas.
Se você tem flexibilidade nas datas de viagem, pode valer a pena esperar por uma possível queda no câmbio para comprar quando o dólar estiver mais favorável.
Monitorar as tendências econômicas e políticas que afetam o câmbio pode ajudar a prever se o dólar tende a subir ou cair no curto prazo. Decidir baseado em previsões pode ser arriscado, mas se você tem insights sobre fatores que podem influenciar o câmbio, isso pode orientar sua decisão.
Considere também outros custos associados à espera, como possíveis aumentos nas tarifas aéreas devido à alta demanda ou eventos sazonais.
Entenda por que os preços das passagens aéreas sobem quando o dólar está nas alturas
Muitas companhias aéreas operam com custos em dólares americanos, como aquisição de aeronaves, leasing, manutenção e compra de combustível. Um dólar mais forte pode aumentar esses custos em moeda local, levando as companhias a repassar parte desse aumento para os preços das passagens.
O preço do combustível, geralmente cotado em dólares, pode aumentar quando o dólar se valoriza, influenciando os custos operacionais das companhias aéreas. Esse aumento pode ser repassado aos consumidores por meio de aumentos nas tarifas. “Para se ter ideia, o combustível no Brasil pesa 40%, no mercado americano esse peso reduz para 20%. O mesmo ocorre com mercados da região, como Chile e Colômbia”, explica o diretor financeiro da agência Mundi, Daniel Soares.
Muitas companhias aéreas têm contratos de leasing de aeronaves ou outros serviços vinculados ao dólar. Um dólar mais forte pode aumentar os custos desses contratos, o que também pode contribuir para aumentos nas tarifas.
Em alguns casos, um dólar mais forte pode reduzir a demanda por viagens internacionais, levando as companhias aéreas a aumentar os preços para compensar a menor ocupação de voos.