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Entenda como o corte de juros do Fed impacta os investimentos no Brasil

Saiba o que os especialistas dizem sobre o atual cenário econômico

Entenda como o corte de juros do Fed impacta os investimentos no Brasil
Entenda como o corte de juros do Fed impacta os investimentos Foto: Adobe Stock

O Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, deve realizar um corte de juros de 0,25 ponto percentual no próximo dia 18 de setembro. A decisão, amplamente aguardada pelo mercado, ocorre em meio à divulgação do Índice de Preços ao Consumidor (CPI) de agosto, que registrou alta de 0,2% em relação ao mês anterior, conforme dados divulgados pelo Departamento do Trabalho dos EUA na última quarta-feira (11).

De acordo com economistas, o corte nos juros pode trazer importantes reflexos para os investidores brasileiros, especialmente no Ibovespa e na cotação do dólar frente ao real.

Nesta reportagem mostramos que, embora a inflação geral tenha ficado dentro das expectativas, o núcleo inflacionário – que exclui itens mais voláteis, como energia e alimentos – avançou 0,3%, levemente acima do previsto.

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André Valério, economista sênior do banco Inter, destaca que, apesar da ajuda da queda nos preços de energia, que recuaram 0,8%, o setor de habitação continua pressionado, com aumento de 0,5%, o maior dos últimos meses. Esse comportamento reflete a persistência da inflação americana, um dos fatores que mantêm o Fed em alerta.

“No geral, o resultado não altera que o Fed irá cortar os juros na próxima semana, mas não foi um resultado tão positivo quanto o banco central dos EUA gostaria, com alguns sinais de persistência inflacionária, como o aumento, na margem, da difusão da inflação”, explica o especialista.

De acordo com ele, o resultado da CPI diminui a probabilidade de um corte de 0,5 ponto percentual na reunião do Federal Reserve da próxima quarta (18). O analista afirma que o banco central dos Estados Unidos provavelmente reduzirá a taxa de juros do Fed Funds em 0,25 ponto percentual. Com isso, a faixa atual de 5,25% a 5,5% ao ano deve passar para entre 5% e 5,25%.

Conforme os dados do CME Fed Watch, 85% dos investidores apostam que o Fed realizará uma redução de 0,25 ponto percentual na taxa de juros na próxima reunião. Para Felipe Corleta, sócio da GTF Capital, o corte deverá ser de apenas 0,25 ponto percentual, já que, na visão dele, uma redução de 0,50 ponto percentual poderia surpreender o mercado de maneira negativa.

“Seria um efeito reverso, assustando o mercado e disparando um sentimento mais forte de que estaríamos em um princípio de recessão. Nas próximas reuniões, a depender dos números de inflação e emprego, o Fed poderá acelerar o passo para 0,5 ponto porcentual por reunião”, explica o sócio da GTF Capital.

Impactos nos investimentos do Brasil

Conforme explicamos nesta matéria, a expectativa de corte de juros nos EUA é vista de forma favorável para os investimentos no Brasil, particularmente para a Bolsa de Valores brasileira. Patrícia Krause, economista chefe para América Latina da Coface, salienta que uma redução nos juros americanos pode atrair investidores estrangeiros para o mercado brasileiro, uma vez que, com juros mais baixos nos EUA, investidores buscam rendimentos mais atrativos em outros países, mesmo assumindo maiores riscos.

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Gabriel Meira, da Valor Investimentos, observa que o Ibovespa está “descontado”, ou seja, com preços abaixo de seu potencial, e que a queda nos juros americanos pode aumentar o fluxo de capital estrangeiro para o Brasil.

“De modo geral, alguns analistas, como os da XP, estimam que o Ibovespa deve encerrar o ano cotado a 140 mil pontos. Essa estimativa é possível e deve ser puxada pelo corte de juros do Fed”, afirma Meira.

Contudo, Felipe Sant’Anna, da Star Desk, pondera que, apesar do cenário favorável, questões domésticas, como os problemas fiscais enfrentados pelo Brasil, ainda geram desconfiança nos investidores. Para ele, embora o corte de juros pelo Fed seja um alívio para o Ibovespa, outros fatores precisam ser resolvidos para que o mercado brasileiro mantenha a atração de capital estrangeiro no longo prazo.

“Poderemos ter um fluxo estrangeiro migrando da renda fixa americana para o Ibovespa até o final do ano, mas muitos outros fatores precisam acontecer para que esse dinheiro, de fato, fique aqui por mais tempo. No entanto, o Ibovespa acima de 140 mil pontos não me parece sustentável”, reforça Sant’ Anna.

Outro ponto de atenção destacado por Felipe Corleta, sócio da GTF Capital, é a recente queda no preço das commodities. Embora essa redução ajude a controlar a inflação e os juros, ela também impacta negativamente as empresas exportadoras, que têm grande peso no Ibovespa. Para Corleta, o ambiente se torna mais positivo para ações cíclicas e de consumo, em detrimento do índice como um todo.

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“Ao mesmo tempo que ajudam a reduzir a inflação e os juros, a queda das commodities impacta diretamente o preço das ações de exportadoras de produtos básicos, que perfazem mais de um terço da composição do índice. Nesse sentido, vejo o ambiente como mais positivo para as ações cíclicas e de consumo do que para o índice cheio, em si”, diz o sócio da GTF Capital.

Com isso, o consenso entre os especialistas é de que o Ibovespa poderá encerrar o ano próximo dos 140 mil pontos, representando uma alta de 4,3% em relação ao fechamento da última terça-feira (10), quando o índice encerrou o pregão aos 134.319 pontos.

Sendo assim, o corte de juros pelo Federal Reserve (Fed) deve gerar um cenário mais favorável para o mercado brasileiro, com possibilidade de maior fluxo de capital estrangeiro e valorização do Ibovespa. No entanto, questões internas, como o cenário fiscal e a volatilidade das commodities, ainda trazem incertezas para a sustentabilidade desse movimento.

Colaborou: Gabrielly Bento.