Na última quarta-feira (18), o banco central dos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed), decidiu cortar os juros do país em 50 pontos-base, para o intervalo entre 4,75% e 5,0%.
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A medida foi definida em uma reunião com 12 dirigentes da instituição monetária estadunidense, onde 11 votaram a favor da redução. Esse cenário já está causando alguns efeitos no Brasil, que podem ser benéficos para a economia nacional.
A resolução do Fed sobre os juros está relacionada à alta da inflação dos EUA. Segundo o Departamento do Trabalho do país, o indicador sobre o aumento nos preços de bens e serviços subiu 0,2% em agosto, comparado com o mês de julho. Para controlar a situação, a opção foi realizar o primeiro corte da Fed Funds – a taxa de empréstimos em dólares –, desde 2020.
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Com isso, às 15h da última quarta (18), o dólar teve uma redução no dia, para R$ 5,43. Na ocasião, o preço da moeda do país norte-americano no Brasil representou uma queda de 0,93%, em relação ao real – moeda brasileira. Às 8h02 desta quinta-feira (19), a cotação do dólar é de R$ 5,46.
As variações do valor da moeda dos EUA são bastante observadas, pois elas podem baratear ou encarecer alguns produtos do comércio brasileiro e do mundo todo.
Mas, afinal, como o Brasil se beneficia com o corte de juros nos EUA?
As bolsas de Nova York foram negativamente impactadas com a medida do Fed. A National Association of Securities Dealers Automated Quotations (Nasdaq), por exemplo, subiu 1%. Já no Brasil, o Ibovespa teve uma leve alta de 0,11%, após um cenário de muitas baixas.
Vale citar que a Nasdaq é a segunda maior bolsa do mundo, atrás apenas da Bolsa de Valores de Nova York. Isso porque ela é focada nas maiores companhias de tecnologia do mundo, como a Meta (antigo Facebook) e o Google, por exemplo.
O mercado de capitais dos EUA é o maior do mundo, mas com os seus juros reduzidos, muitos investidores podem começar a buscar ativos, como as ações, em países emergentes. Lembrando que os ativos são os bens e os direitos de uma empresa, que podem ser convertidos em dinheiro, proporcionando rentabilidade ao investidor.
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Em reportagem do E-Investidor, Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital, disse que, já nos últimos meses, ocorreu um grande fluxo de compras na Bolsa do Brasil. Para ele, esse cenário tende a crescer, embora tenha a possibilidade de acontecer algumas correções.
“Mas os ativos brasileiros ainda estão baratos. Também há um crescimento no PIB e a nossa inflação está relativamente controlada. Ainda, apesar dos ruídos políticos e incertezas em relação ao quadro fiscal, o estrangeiro acaba comprando”, disse. Ele acrescentou que os ativos do Brasil possuem boas expectativas.
Decisão pode valorizar o real brasileiro
Enquanto a Fed Funds ficou em baixa, a taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, foi elevada de 10,50% para 10,75%. A decisão foi tomada em uma reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), também na última quarta (18).
Com essa diferença, muitos investidores podem usar um mecanismo chamado “carry trade“. Esse método consiste em pegar dinheiro emprestado em um lugar onde os juros estão menores e aplicá-lo em outro que tenha taxas maiores, visando um maior retorno financeiro.
O efeito do uso desse mecanismo no Brasil, por exemplo, é o crescimento da entrada de dólares no país, reduzindo as cotações da moeda dos EUA.
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Bruno Nascimento, analista de câmbio da B&T Câmbio, explicou a situação em reportagem do E-Investidor. “Esses cenários são relativamente favoráveis à valorização do real, uma vez que existe uma maior previsibilidade no ambiente doméstico, aliada a um diferencial de juros entre as moedas.”
Conforme o analista, o corte de juros nos EUA pode fazer com que o capital estrangeiro seja mais atraído ao mercado brasileiro, contribuindo, até mesmo, para a contenção da valorização do dólar, em relação ao real. Vale citar que, foi justamente a entrada de capital estrangeiro que levou o Ibovespa ao renovar sua máxima histórica, de 136 mil pontos, em meados de agosto. Mas isso não significa que o Brasil não corra certo risco.
Colaborou: Jennifer de Carvalho.