Com a aproximação da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre a taxa Selic, que pode voltar a subir, os investidores estão cada vez mais atentos ao mercado de crédito privado.
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Este setor tem ganhado destaque no Brasil, especialmente com o crescimento da inflação, que pressiona a renda fixa a oferecer melhores retornos. O crédito privado, em particular, vivencia uma de suas melhores fases, com grande oferta e oportunidades atrativas para quem busca diversificar investimentos.
Nesta reportagem, mostramos que, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima), o volume de captação em debêntures, notas comerciais e Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDC) somou R$ 254,3 bilhões no primeiro semestre de 2024. Esse montante é mais que o dobro dos R$ 101,7 bilhões levantados no mesmo período de 2023, indicando o forte aquecimento do mercado.
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Os dados sobre o volume de crédito privado indicam um mercado em expansão. As empresas estão em busca de capital para sustentar suas atividades, enquanto as instituições financeiras demonstram interesse em fornecer esses financiamentos.
Para Samer Serhan, sócio e diretor de investimentos da JiveMauá, dois fatores explicam o sucesso recente do crédito privado: a recuperação econômica e a maior disciplina das empresas após a crise da pandemia de covid-19. Ele afirma que as empresas estão mais controladas em termos de custos e despesas, o que contribui para bons resultados operacionais.
Além disso, a expansão econômica do Brasil também favorece o aumento na concessão de crédito. De janeiro a junho deste ano, a JiveMauá desembolsou cerca de R$ 400 milhões em concessões, e a expectativa é ampliar essa quantia para R$ 600 milhões até o fim de 2024.
“Pela primeira vez em três anos, estamos vendo uma aceleração na concessão de crédito e desaceleração da inadimplência das empresas”, afirma Serhan.
Infraestrutura e financeirização
Os fundos de crédito privado estão cada vez mais focados em setores estratégicos como infraestrutura e serviços financeiros. Um exemplo é o fundo Jive BossaNova, que tem sua estratégia voltada para crédito de infraestrutura no setor de energia e serviços financeiros, que juntos representam 51% do portfólio. Com essa abordagem, o fundo apresentou um retorno acumulado de 8,62% entre janeiro e agosto de 2024, o que corresponde a CDI +2,12% ao ano.
“Geração de valor em torno da cadeia de infraestrutura e na parte de financeirização da parte de bens e serviços (com a antecipação de pagamentos) são os dois setores que temos apostado bastante”, explica o especialista.
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A SPX Capital, por sua vez, aposta nas debêntures incentivadas, títulos de dívida voltados para projetos de infraestrutura que contam com isenção de imposto de renda (IR), um atrativo adicional para os investidores.
Em dezembro de 2023, a gestora lançou o fundo Seahawk Debêntures Incentivadas, cuja rentabilidade acumulada já chega a 9,87%, superando o CDI, que entregou 7,41% no mesmo período. “O Brasil precisa de infraestrutura. Existe uma carência e nós precisamos de dinheiro para fazer investimentos básicos. Não somos um país de primeiro mundo”, reforçou Albano Franco, sócio e chefe de crédito privado da SPX Capital.
Com o cenário macroeconômico favorável e as oportunidades de financiamento de grandes projetos, especialmente em infraestrutura, o crédito privado continua atraindo o interesse das grandes gestoras. Além disso, a queda nas taxas de inadimplência das empresas e a demanda por diversificação nas carteiras de investidores reforçam a atratividade desse tipo de ativo.
Colaborou: Gabrielly Bento.