Presidente e diretora da CVM votaram a favor de OPA na Ambipar (AMBP3). Foto: Divulgação/Ambipar
Uma novidade sobre o caso da Ambipar (AMBP3) surgiu nesta semana. Na última Reunião de Colegiado da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o presidente da autarquia, João Pedro Nascimento, e a diretora Marina Copola votaram favoravelmente à realização de uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) na empresa.
Procurada pelo E-Investidor, a Ambipar não se posicionou sobre o tema. A reportagem também tentou entrar em contato com a Trustee, gestora envolvida no caso, por meio de três endereços de e-mail, mas não obteve retorno até o fechamento desta nota.
Em março, a Superintendência de Registro de Valores Mobiliários (SRE) da CVM determinou que a Trustee realizasse uma OPA por aumento de participação na Ambipar. De acordo com a área técnica do regulador, a gestora teria atuado em conjunto com o controlador da empresa de soluções ambientais nas compras de ações realizadas entre julho e agosto de 2024, ultrapassando o limite de 1/3 de papéis em circulação.
A CVM determinou que o pedido de registro da oferta deveria ser apresentado em até 30 dias, encerrados em 21 de abril. Posteriormente, no entanto, o regulador ampliou esse período até 7 de maio. Quando o prazo chegava ao fim, o órgão recebeu os recursos das partes envolvidas, tendo até 15 dias úteis para analisá-los.
Desde então, a questão permanecia paralisada. No dia 17 de junho, o Colegiado da CVM deu início à discussão do assunto e, por unanimidade, negou o pedido das partes envolvidas para designar um relator para o processo, mantendo a relatoria do caso com a SRE. A obrigatoriedade da OPA em si, no entanto, não foi avaliada na data.
Uma semana depois, na reunião de 24 de junho, o Colegiado voltou a discutir o tema. O presidente da CVM e a diretora Copola acompanharam as conclusões da área técnica e concordaram com a necessidade de realização de OPA por aumento de participação na Ambipar. Eles entenderam, porém, que a obrigatoriedade da oferta deve recair apenas sobre controlador da empresa, Tercio Borlenghi Junior, não sobre as outras partes envolvidas.
Na sequência, o diretor Otto Lobo solicitou vista do processo, de modo que a deliberação foi suspensa e será retomada oportunamente, como indica o informativo da reunião. Dessa forma, não existe uma data certa para o caso voltar a ser avaliado.
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Caso o Colegiado decida efetivamente pela realização da OPA, deve ser concedido um prazo de 30 dias para o protocolo do pedido de registro da oferta, contados a partir da data de divulgação da decisão final da CVM.
O que a OPA representa para os investidores?
Quando um acionista realiza compras que superam o limite de 1/3 de ações em circulação, a liquidez dos papéis de uma companhia corre riscos, por isso a exigência da OPA – explicamos os detalhes aqui. Por meio desse tipo de oferta, o interessado se compromete a comprar uma quantidade específica de ações da empresa, seguindo condições, preço e prazo definidos em edital.
Nesta reportagem, Fábio Coelho, presidente da Associação de Investidores no Mercado de Capitais (Amec), explicou que notificação da CVM sobre a OPA não é trivial e pode ser lida de forma positiva. “Em muitos casos, os investidores têm a sensação de que situações de aumento de controle ocorrem de forma velada em empresas, sendo difícil investigar. Agora, o regulador mostra que está atento ao mercado”, avalia.
Coelho afirmou que, quando uma tomada de controle ocorre sem a devida transparência, os investidores podem ser prejudicados e ter seus direitos comprometidos. “Isso porque a legislação, buscando proteger os acionistas, impõe exigências regulatórias às atuações dos controladores. Ou seja, se um controlador começa a aumentar sua participação acionária, pode atingir um porcentual que, por regra, exige a realização de uma oferta pública”, alerta.
Ações da Ambipar dispararam 730% em 2024
Em 2024, os ativos da Ambipar acumularam ganhos acima de 730%, fazendo a companhia alcançar um valor de mercado próximo a R$ 22,5 bilhões no final do ano, conforme mostramos nesta reportagem. Em 2025, os papéis acumulam uma valorização de 26,10% e são cotados acima de R$ 160.
O movimento do último ano surpreendeu os analistas do mercado que o atribuíram, em parte, ao CEO da empresa, Tércio Borlenghi Junior, e à Trustee. O aumento na posição desses players na Ambipar gerou, na visão de especialistas, uma movimentação conhecida como short squeeze. Ela ocorre quando investidores com posições vendidas (short) desfazem suas apostas na queda do papel e recompram a ação para zerar a posição.
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Outros investidores que estão na mesma situação, ao verem seus pares desistirem das posições, fazem o mesmo, o que eleva a pressão de compra do ativo e faz o preço disparar.