- Ações da companhia oscilam na abertura do pregão após operação da PF
- Polícia Federal cumpriu dois mandatos de prisão preventiva contra ex-executivos da Americanas
- MPF diz que há evidências que sugerem a ocorrência de crimes como manipulação de mercado
As ações da Americanas (AMER3) oscilam na Bolsa após operação da Polícia Federal (PF) contra o ex-CEO da companhia, Miguel Gutierrez, e ex-diretores da empresa. Como o preço do papel se encontra abaixo de R$ 1, qualquer oscilação de centavos representa significativa variação. Assim, a ação opera hoje entre perdas e ganhos.
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Às 14h47, as ações da Americanas recuavam 2,5%, a R$ 0,39 – o ativo fechou o pregão da véspera valendo R$ 0,40. Quando a ação cai para R$ 0,39, recua 2,5%. E quando sobe para R$ 0,41, avança 2,5%. Ao longo do dia, ou o papel sobe para R$ 0,41, ou cai para R$ 0,39.
A operação da PF em colaboração com o Ministério Público Federal (MPF) foi batizada de Operação Disclosure. Em nota, a instituição comunicou que cerca de 80 policiais federais cumpriram dois mandados de prisão preventiva, um para Miguel Gutierrez (ex-CEO) e outro para Anna Christina Ramos Saicali (ex-diretora).
A Polícia Federal também cumpriu outros e 15 mandados de busca e apreensão nas residências de ex-diretores, localizadas no Rio de Janeiro. O Ministério Público informou que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) prestou apoio técnico durante a investigação.
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Por ordem da Justiça Federal, foi determinado o bloqueio de bens e valores dos ex-diretores, ultrapassando R$ 500 milhões. Os mandados foram expedidos pela 10ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro.
As investigações levantaram evidências de que os ex-diretores participaram de fraudes contábeis por meio de operações de risco sacado, o que possibilitou à empresa antecipar pagamentos a fornecedores mediante empréstimos bancários. Também foram detectadas irregularidades em contratos de verba de propaganda cooperada (VPC), incluindo a contabilização de VPCs que não existiam.
Ainda de acordo com informações do Ministério Público, há evidências que sugerem a ocorrência de crimes como manipulação de mercado, uso de informação privilegiada, formação de associação criminosa e lavagem de dinheiro.
Relembre o caso Americanas
No dia 11 de janeiro de 2023, a Americanas enviou um comunicado ao mercado reportando “inconsistências contábeis” de R$ 43 bilhões nos balanços. Oito dias depois do anúncio do rombo financeiro, em 19 de janeiro de 2023, a Americanas entrou em recuperação judicial.
Após a divulgação do rombo – que no início era de R$ 20 bilhões –, Sérgio Rial deixou o cargo de presidente da varejista acompanhado do então diretor de Relações com Investidores, André Covre. Os executivos haviam tomado posse há menos de dez dias. João Guerra assumiu o cargo temporário de CEO da Americanas.
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No dia seguinte à descoberta, Rial declarou em evento do BTG Pactual que o impacto bilionário da companhia estava relacionado ao “risco sacado, que não era lançado como dívida”.
Segundo a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o “risco sacado” consiste em uma modalidade de antecipação de recebíveis. Ou seja, “a companhia vendedora emite uma fatura que contempla o prazo a ser financiado pelo banco, porém não reconhece em sua contabilidade a venda pelo valor presente. E com isso apresenta um Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) maior”.
Assim, a empresa compradora consegue distorcer sua real situação financeira. O Ebitda, por sua vez, serve como “um indicador bastante útil para medir o potencial de geração de caixa da empresa”, afirmou a Rico Investimentos, em relatório.
A PwC, empresa que realizava as auditorias da Americanas (AMER3), negou responsabilidade por “inconsistências contábeis” da varejista na ação civil pública proposta pela Associação Brasileira de Defesa do Consumidor e Trabalhador (Abradecont). No processo, a Abradecont pede a responsabilização da auditoria e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) por omissão e negligência. Entretanto, no final de junho deste ano, a auditoria foi substituída pela BDO.
Vale destacar também que a CVM abriu processos administrativos para investigar a Americanas, além de ter recebido uma denúncia contra a companhia. Bancos e corretoras colocaram as ações da varejista sob revisão e as principais agências de classificação de risco – Moody’s, Fitch e S&P Global Ratings – rebaixaram os ratings da companhia após a descoberta do rombo contábil.
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Funcionários da Americanas (AMER3) e sindicatos protestaram em frente a uma loja da empresa no Centro do Rio de Janeiro, em fevereiro. O grupo reclamava de demissões e temiam perda de direitos trabalhistas em meio ao turbilhão judicial do caso. Em junho de 2023, a Americanas divulgou a lista de quais seriam os executivos que seriam investigados.
Confira quem são os executivos acusados de fraude pela Americanas
Miguel Gutierrez
Gutierrez tem longa carreira na varejista. O engenheiro entrou na empresa em 1993 e passou por áreas como operações, financeira e logística. Esteve à frente do cargo de CEO das Americanas desde 2001 até dezembro de 2022, quando deu lugar ao executivo Sérgio Rial, que revelou o rombo da empresa em janeiro de 2023.
Miguel Gutierrez tinha um perfil discreto, ausente de redes sociais. O ex-CEO raramente concedia entrevistas. Ele era o principal homem de confiança de Beto Sicupira, um dos três principais acionistas da empresa, no negócio.
Anna Saicali
A ex-diretora da varejista está na empresa desde 1997 e foi CEO da AME Digital, carteira digital da Americanas. Formada em artes plásticas e em finanças corporativas, passou pelas áreas de recursos humanos e tecnologia.
Saicali foi diretora presidente da B2W de 2004 a 2018, depois assumiu a presidência do conselho administrativo da companhia até o ano de 2021. A ex-diretora está afastada de suas funções executivas desde desde 3 de fevereiro de 2023. Na época, a Americanas disse que seu desligamento da empresa já foi determinado pela administração.
José Timótheo de Barros
José Timotheo Barros foi vice-presidente de lojas físicas, logística e tecnologia da empresa. Com carreira na companhia desde 1996, onde começou como trainee, tinha atribuições relacionadas com relação com fornecedores, lojistas terceirizados, entregadores e gestão de estoque.
Barros foi afastado de suas funções executivas 3 de fevereiro de 2023 e comunicou sua renúncia em 1 de maio do mesmo ano.
Márcio Cruz Meirelles
O executivo foi presidente da B2W entre 2018 e 2021, quando ocorreu a fusão com a Americanas. A partir de 2021, assumiu o cargo de CEO de digital da empresa. Cruz também foi afastado em 3 de fevereiro e já teve o seu desligamento determinado pela administração da Americanas.
Fábio da Silva Abrate
O executivo está na empresa desde 2003 e já passou pelo posto de diretor financeiro e esteve à frente da contabilidade da empresa pelos últimos anos. Abrate é mais um dos afastados em 3 de fevereiro de 2023 e com desligamento determinado agora.
Flavia Carneiro
Também vinda da fusão com a B2W, Carneiro atuava como superintendente de controladoria da companhia. Foi afastada das funções em fevereiro e está desligada da empresa.
Marcelo da Silva Nunes
Outro executivo fruto da fusão com a B2W em 2021, Nunes era diretor financeiro da Americanas. O executivo está afastado das funções desde fevereiro e agora foi desligado da empresa.
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Vale lembrar que o processo está em investigação, e todos da listas são considerados pela lei inocentes até que se prove o contrário.
* Colaborou: Iuri Gonçalves, Luiza Lanza e Artur Nicoceli. Com informações do Broadcast