O ritmo de ajuste de 1 ponto percentual na Selic sinalizado pelo BC na continuidade do seu ciclo de aperto monetário não é um compromisso e pode ser acelerado ou desacelerado dependendo das condições, afirmou o diretor de Política Econômica do Banco Central, Fabio Kanczuk, citando como risco uma mudança muito grande no regime fiscal.
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Ao participar de evento online do HSBC nesta quarta-feira (13), ele disse que, assim como a comunicação do BC mudou para indicar que a taxa básica de juros deveria ir para território significativamente contracionista — ante indicação inicial de normalização apenas parcial dos juros –, o ritmo de aperto na Selic também poderá ser alterado.
“(BC) pode acelerar e desacelerar, tudo pode acontecer. A indicação de 100 pontos base não é um compromisso, mudou no passado e pode mudar no futuro”, disse ele.
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“Imagine uma mudança muito ruim no regime fiscal, tudo muda. Aí você vai muito mais rápido com a política monetária. Suponha até que os números de inflação estejam malucos … com inflação bem, bem maior do que se supunha e até olhando para inércia com números muito maiores. Então volto para meus cálculos de ajuste de 100 pontos por reunião e vejo que não é mais suficiente”, complementou.
Kanczuk pontuou que esse processo de análise, feito a partir dos novos dados disponíveis, é feito a cada encontro do Comitê de Política Monetária (Copom).
No entanto, ele voltou a reforçar que no momento o BC vê o ritmo de alta de 1 ponto como suficiente para garantir a convergência da inflação para a meta em 2022. A sinalização é de que o BC precisa fazer mais, mas que irá manter o ritmo de aperto nos juros, acrescentou ele, em referência a um ciclo mais longo de aperto.
A próxima reunião do Copom acontece nos dias 26 e 27 deste mês. Atualmente, os juros básicos estão em 6,25% ao ano, após um ciclo de aperto iniciado em março que tirou a Selic da mínima histórica de 2% alcançada em meio à pandemia de coronavírus.
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O BC tem dito que seguirá adiante no processo de subida da taxa para conter a galopante inflação que nos 12 meses até setembro acumulou alta de 10,25%, muito acima do centro da meta de inflação de 3,75% para este ano.
Nesta quarta-feira, Kanczuk reiterou que a autoridade monetária mira fazer a inflação convergir para a meta em 2022, tendo em mente que mais importante que o ritmo de elevação nos juros é a taxa terminal da Selic.
Em linhas gerais, o BC está olhando um ano e meio à sua frente, disse o diretor. Nas próximas duas reuniões do Copom, que acontecem neste ano, isso significaria considerar 50% 2022 e 50% 2023. Do segundo trimestre do ano que vem em diante, a autoridade passaria a considerar somente 2023.
Mas Kanczuk sublinhou que o foco na convergência da inflação para a meta no ano que vem aparece mais na comunicação da autoridade monetária porque a intenção é ressaltar que o BC está muito centrado na missão neste momento.
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“Não é um erro que cometemos, foi deliberado”, afirmou. “Indicamos que queremos olhar para 2022 como foco.”
“Se eu não conseguir direito (inflação na meta) em 2022 … eu também não consigo 2023 direito”, pontuou Kanczuk, em referência ao outro ano que compõe o horizonte relevante de política monetária.
O diretor disse que não ficaria feliz com IPCA em 3,7% no ano que vem –projeção atual do BC–, frisando que quer inflação na meta de 3,5% e que todos na autarquia estão pensando nesses termos.
Segundo o diretor, as maiores surpresas na inflação não foram relacionadas ao estímulo com as transferências de renda via auxílio emergencial, mas a inflação importada e a problema de combustíveis.
GUINADA NOS EUA
Questionado sobre as implicações para o Brasil de uma mudança na política monetária dos Estados Unidos, com a retirada dos maciços estímulos, Kanczuk afirmou que a mera discussão sobre perda de controle da inflação nos EUA seria suficiente, na visão do BC, para mudar drasticamente o ambiente para economias emergentes e para o Brasil, em particular, em função dos nosso problemas fiscais.
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“Será mundo totalmente diferente, muito mais desafiador. Então colocamos como risco. Não sabemos se vai acontecer ou não. Mas se acontecer, se você tiver uma retirada dos estímulos no ano que vem, uma grande mudança nos EUA ano que vem, vemos que será um mundo diferente e teremos que mudar nossa política monetária de acordo”, disse.
Nesse sentido, ele afirmou que o ajuste que o BC terá que fazer na Selic não será proporcional ao eventualmente aplicado pelo BC norte-americano, o Fed, mas “muito maior” por causa da parte não linear da reação cambial à diferença nas taxas de juros.
“O passado mostra que quando eles elevam os juros nós temos que fazer mais que eles porque o impacto na taxa de câmbio tende a ser muito maior”, disse.