Segundo o BTG, os dois bancos podem se beneficiar de um cenário de queda mais agressiva da Selic e eleições favoráveis em 2026. (Foto: Adobe Stock)
Bradesco (BBDC4) e Banco do Brasil (BBAS3) voltaram ao radar dos investidores estrangeiros como apostas mais sensíveis ao próximo ciclo de afrouxamento monetário e ao desfecho das eleições de 2026, segundo relatório do BTG Pactual. A análise indica que, embora ambos ainda fiquem atrás do Itaú (ITUB4) em termos de execução e percepção estrutural, uma combinação de queda mais rápida da Selic e um cenário político favorável pode destravar valor para os dois bancos, que negociam a múltiplos descontados e vêm se recuperando de níveis historicamente baixos de rentabilidade.
De acordo com a casa, o fator mais relevante para os investidores globais parece ser o enfraquecimento do dólar e a diversificação de portfólios para fora dos EUA, com destaque para os países emergentes que tendem a ser os principais beneficiários desse movimento.
Nesse contexto, o setor financeiro brasileiro foi amplamente debatido, com uma clara distinção entre os nomes vistos como “vencedores estruturais” e aqueles mais associados a oportunidades táticas. O relatório sustenta que o mercado já não vive um ambiente clássico de “reversão à média”. Para os analistas, bancos e plataformas capazes de crescer independentemente do cenário macroeconômico continuarão se distanciando dos demais.
O roxinho não saiu da boca dos investidores estrangeiros
“O roadshow foi dominado pelo NuBank“, diz o relatório, ao destacar que a fintechfoi, de longe, o nome mais discutido nas reuniões. A relevância se explica pelo elevado valor de mercado, pela liquidez das ações e pelo modelo de negócios considerado disruptivo. Desde sua entrada no índice com peso significativo, investidores focados em América Latina e mercados emergentes sentem-se obrigados a ter uma opinião formada sobre a companhia, observa o BTG. Ao lado do Nu, Itaú e BTG Pactual são apontados como os principais “compounders” do setor.
Bradesco vs Banco do Brasil: quem ganha?
Enquanto isso, Bradesco e Banco do Brasil aparecem em uma prateleira distinta. Ambos foram classificados como nomes de “beta mais alto”, cujo desempenho depende de um cenário mais específico à frente. Segundo o BTG, uma combinação de queda mais rápida e intensa da Selic com um desfecho eleitoral positivo em 2026 poderia destravar valor para esses papéis, que ficaram para trás em relação ao Itaú no últimos anos.
O relatório chama atenção para o fato de que, embora o ciclo de afrouxamento monetário esperado para 2026 tenda a beneficiar empresas mais alavancadas no Brasil, a recuperação dos resultados de Bradesco (BBDC4) e BB (BBAS3) tem menos relação direta com a Selic. Isso porque ambos vêm de níveis historicamente baixos de retorno sobre o patrimônio.
Em outras palavras, há um componente de normalização operacional em curso, independentemente do movimento dos juros.
BBDC4 como trade de curto prazo e BBAS3 como representante do agro
Nas reuniões com investidores, o debate em torno desses dois bancos foi recorrente, ainda que menos intenso do que no caso de Itaú e Nubank. Sobre o Bradesco, a principal dúvida foi se a ação representa apenas um “trade” de curto prazo ou se há, de fato, uma mudança estrutural capaz de recolocá-lo como um papel de buy-and-hold. Alguns hedge funds, segundo o BTG, argumentaram que os Retornos sobre Patrimônio Líquido (ROEs) do banco vêm subindo e devem continuar avançando nos próximos trimestres, enquanto o valuationsegue pouco exigente.
Também surgiram questionamentos sobre como um ambiente de juros mais baixos poderia afetar lucros e múltiplos.
Já no Banco do Brasil, os analistas relataram um interesse mais consistente por parte de investidores de longo prazo.
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Esse apetite estaria ancorado no elevado desconto da ação em relação ao valor patrimonial e na percepção de que o Brasil possui uma vantagem competitiva estrutural no agronegócio.
“Houve perguntas sobre se os desafios na carteira agro são cíclicos ou estruturais”, aponta o relatório, acrescentando que a expectativa predominante é de normalização cíclica da qualidade dos ativos, o que poderia se traduzir em resultados melhores à frente.
Do ponto de vista estratégico, o BTG mantém uma visão clara: os vencedores devem continuar se afastando dos demais. Taticamente, porém, os analistas dizem preferir Bradesco a Banco do Brasil, ainda que o Itaú permaneça como a única recomendação de compra entre os grandes bancos incumbentes.
Mesmo após ter sido retirado da carteira recomendada em dezembro, o Itaú, segundo o banco, “segue fazendo os movimentos corretos”, o que tende a ampliar a distância em relação a Bradesco e BB.