O diretor Financeiro e de Relações com Investidores da Light, Eduardo Gotilla, se tornou alvo de um processo sancionador na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A área técnica da autarquia abriu o processo para apurar as responsabilidades do executivo ao não divulgar, imediatamente, fato relevante sobre informações que apareceram na mídia entre fevereiro e maio deste ano e que vieram a ser confirmadas pela companhia.
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A acusação contra Gotilla foi assinada em 28 de setembro, semanas após um grupo de credores da Light – incluindo fundos de investimento e debenturistas – pedir à CVM que instaurasse inquérito administrativo contra ele, como informou o Broadcast.
A solicitação dos credores afirmava que a companhia protocolou petições judiciais contendo “afirmações falsas”. Com uma dívida estimada em mais de R$ 11 bilhões, concentradas na subsidiária de distribuição, a Light Sesa, a companhia vinha aparecendo na imprensa desde o ano passado, devido aos percalços financeiros e dificuldades de entendimento com os credores.
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Em fevereiro deste ano, surgiram notícias dando conta que a Light estaria na iminência de pedir recuperação judicial. O mercado estava acendendo alertas devido ao rebaixamento da classificação de risco da empresa e à contratação da consultoria Laplace, que foi responsável pela recuperação judicial da Oi.
Desde então, o fluxo de informações e especulações se intensificou. A empresa informou prejuízo de R$ 5,6 bilhões em 2022, os debates sobre a devolução da concessão se acentuaram, debenturistas discutiram a possibilidade de resgate antecipado de títulos, a companhia resgatou antecipadamente debêntures de duas emissões e as tentativas de entendimento com os credores falharam.
Em abril, a Light informou a suspensão de pagamento de debêntures e notícias deram conta de que a empresa já desenhava a recuperação judicial como saída para a crise. E, em meados de maio, enfim, pediu – e a Justiça do Rio concedeu – a recuperação judicial.
O processo foi seguido de uma extensão da proteção para as dívidas financeiras das controladas Light Energia (geradora) e a Light Sesa, driblando a proibição legal de concessionárias de energia usarem o mecanismo, o que gerou desconfiança e críticas por diferentes grupos.
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Enquanto isso, a gestora do empresário Nelson Tanure comprou grandes lotes de ações, que a levaram a se tornar a maior acionista da concessionária. A partir daí, foi convocada uma assembleia geral extraordinária que reformou o Conselho de Administração. No último dia 17, a companhia informou que trocará o CEO quando for concluída a reestruturação financeira ou em 31 de dezembro, o que acontecer primeiro.
A etapa de citação de Eduardo Gotilla, na CVM, foi iniciada ontem, conforme o site da autarquia. Não é a primeira vez que o executivo é chamado a se explicar. Em junho de 2015, ele fechou acordo com a reguladora, antes da instalação de processo sancionador, na qualidade de diretor de Relações com Investidores da Magnesita Refratários.
O processo apurava a negociação com ações da companhia nos 15 dias anteriores à divulgação das demonstrações financeiras do período encerrado em 31 de dezembro de 2013 e a não apresentação dos Formulários de Valores Mobiliários Negociados e Detidos referentes a essa negociação. Com o acordo, ele pagou R$ 170 mil.
Gotilla foi escolhido pelo conselho de administração da Light em outubro do ano passado. Antes, estava na CSN, onde foi diretor-executivo, responsável por novos projetos. Também foi conselheiro da BB Previdência e da Codemig/Codemge, presidente do conselho de administração e diretor Financeiro da Magnesita Refratários, entre outros cargos. Procurada, a Light não se manifestou até o fechamento desta reportagem.
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